Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 517 | Setembro de 2021 | Campo Mourão - Paraná

MULHERES COOPERATIVISTAS

TALENTO FEMININO NO AGRONEGÓCIO

Márcia Ferri, cooperada em Campo Mourão (PR)

Márcia Ferri

Campo Mourão

Cooperada deixou a profissão de psicóloga para assumir o trabalho na propriedade rural deixada pelo pai.

Em parceria com a Coamo, ela administra 37 alqueires, onde planta soja, milho e trigo.

Ela aconselha que o público feminino se una e entenda que, daqui para frente, precisa encarar os desafios.

Elas estão aparecendo cada vez mais. As mulheres estão quebrando paradigmas e mostrando sua capacidade de gerir propriedades rurais. Não é de hoje que o público feminino está se destacando em papéis na sociedade, que antes eram vistos apenas como para os homens.

Em 15 de outubro é celebrado o Dia Internacional da Mulher Rural, com objetivo de elevar a consciência mundial sobre o papel da mulher do campo. Elas têm conquistado seus espaços. Onde eram apenas ajudantes, hoje, são protagonistas no cultivo e fundamentais para prover a agropecuária.

Esse avanço pode ser visto em números. As mulheres já respondem por pelo menos 30% dos cargos de gestão em empresas do setor, segundo a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres constituem 40% da mão de obra agrícola nos países em desenvolvimento.

O agronegócio vem ganhando mais a contribuição de mulheres, que tem se destacado pela capacidade de gerenciar fazendas, escritórios e outras propriedades. Historicamente, as mulheres ocuparam funções importantes no processo de desenvolvimento rural. Integrantes na promoção da segurança alimentar e nutricional das famílias e funcionários, hoje elas têm se inserido nos processos de tomada de decisão.

A representatividade feminina no campo está mais forte e reconhecida. Na Coamo, milhares de mulheres estão inseridas no processo de tomada de decisão. Como é o caso de Márcia Regina Ferri, cooperada em Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná). Assim como muitas mulheres do campo, ela recebeu como herança as terras do pai. Formada em psicologia, largou a clínica e hoje se dedica somente à agricultura. Com um largo sorriso, afirma que está muito feliz com a escolha. Márcia é filha do cooperado fundador da Coamo Benito Ferri e neta do também fundador Ildefonso Cezar Ferri.

No começo, era sócia de um irmão, que a ajudou e ensinou sobre a lida no campo. Ficaram dez anos juntos, e com o tempo ela pegou gosto pelo ofício e tomou coragem de começar a tocar sozinha a terra. Há cinco anos, ela cuida da propriedade de 37 alqueires, situada na comunidade de Campina do Amoral, em Luiziana (Centro- -Oeste do Paraná).

A decisão de deixar a psicologia e se empenhar somente na agricultura veio com o tempo, já que no começo tentou ficar com as duas profissões. Resolveu cuidar do que era seu, até porque, segundo ela, tinha muito o que aprender e para fazer da forma correta, deveria focar apenas na agricultura. Apesar da predominância masculina na área, não foi difícil superar os obstáculos. “Um pouco de dificuldade sempre tem, porque culturalmente é uma área de homens. Mas, fui abençoada, pois tenho irmão, primos, cunhado, todos me ajudando. E como eu sou de perguntar, consegui me sobressair e não foi difícil passar por esse desafio”, comenta.

Para Márcia, a Coamo tem auxiliado bastante no desenvolvimento da propriedade. “Eu teria muito mais dificuldades se a cooperativa não me oferecesse toda essa estrutura. Eu cresci dentro da Coamo, e isso facilita os negócios. Conheci muita gente que me orienta sobre o que, e como fazer determinados processos na lavoura.”

Sobre o cenário da mulher no agronegócio, Márcia acredita que as mulheres têm que se colocar mais a frente das decisões. No caso da agricultora, ela tem facilidade em interagir e se envolver nos negócios, mas observa que a muitas mulheres têm dificuldade. O conselho dela é para que o público feminino se una e entenda que, daqui para frente, precisa encarar o desafio. “Eu ‘enfiei a cara’ e deu certo. Claro que com respaldo técnico, com ajuda, mas é necessário tentar, pois não vai ter volta.”

A cooperada tem visto um crescimento significativo no número de mulheres envolvidas no meio agrícola. “Faço parte de alguns grupos e tentamos ajudar da forma que conseguimos. Tudo que auxilia, agrega, e faz com que a mulher se desenvolva e caiam alguns preconceitos possíveis, é bom. Vejo que as coisas estão caminhando e as pessoas e empresas estão se adaptando muito bem a essa evolução feminina.”

Márcia Ferri diz que o apoio da Coamo é fundamental para o desenvolvimento das atividades

Fazendo história no agro

Ivone, Daiane e Margarete, ‘arregaçaram as mangas’ e se tornaram empreendedoras rurais

Ivone Trombini, Daiane e Margarete

Brasilândia do Sul (PR)

Há três gerações, mulheres da família Trombini mostram a força feminina no campo.

Com histórias diferentes, mas ao mesmo tempo parecidas, elas conquistaram seu espaço e reconhecimento.

O amor à terra e ao cooperativismo as impulsionam no dia a dia.

Três mulheres da mesma família carregam dentro de si, a mesma força e mostram que podem e irão chegar aonde quiserem. Ivone, Margarete e Daiane, ‘arregaçaram as mangas’ e se tornaram empreendedoras rurais. Margarete é viúva de Joceli Trombini Gottardi, filho de Ivone e pai da Daiane. Ele faleceu há quatro anos e as três precisaram dar continuidade ao trabalho em duas propriedades da família, uma em Brasilândia do Sul, com 41,5 alqueires e a outra em Paulistânia com 15 alqueires, ambas na região Noroeste do Paraná.

Ivone foi quem incentivou a cooperação na família. Após herdar de seus pais, cinco alqueires em Tupãssi (Oeste do Paraná), iniciou no agro e diz que tem a agricultura em seu DNA. “Quando a Coamo entrou no município, me associei e essa parceria deu certo. Sempre trabalhei com meu filho, até que ele se casou e passou a tocar as terras em Brasilândia do Sul, passando a contar com o apoio da minha nora. Hoje eu arrendo a minha parte para ela e meus netos.”

Margarete, nora de Ivone, também faz jus a força da mulher cooperativista. Ela já trabalhava com o marido, porém quando ele faleceu precisou aprender ainda mais sobre uma propriedade rural. “Casei em 1991 e não tinha conhecimento sobre agricultura, e aos poucos fui aprendendo com ele. Comecei cuidando de criações e fui entendendo mais sobre o assunto e dando todo o suporte que ele precisava para plantar, colher. Eu estava mais à frente da parte burocrática”, lembra a cooperada.

Em 2017, com o falecimento de Joceli, Margarete passou a contar com o apoio da filha Daiane. Ela voltou de Curitiba com o marido para tocar a propriedade da família. “Eles vieram para me ajudar e apoiar naquele que foi um momento muito difícil. Eles se focaram na parte financeira. Tudo que aprendi com meu esposo e com a minha sogra também foi fundamental. Além de, depois, a minha filha ter sido muito importante em todo esse processo, pois ela chegou com muita garra e facilidade para aprender. Ela, seu esposo e meu filho trabalham comigo.”

Para Daiane, a sucessão foi no susto. Ela é formada em História e na época estava estudando para concurso na área da educação. Mas, deu conta do recado e resolveu fazer história na agricultura e no cooperativismo. “Não foi um processo fácil, pois quando você pega algo que já está andando, é mais complexo. Até entender como tudo funciona, não foi fácil. Mas, deu certo, produzimos bem e tivemos o apoio da cooperativa e de amigos. Mas, se eu pudesse escolher um caminho para meus filhos, começaria antes”, afirma.

Depois de quatro anos, Daiane diz que já aprendeu o trabalho. “Tem coisas que já fazemos no automático. Conquistamos uma estabilidade, e saber que nossas contas estão em dia, é motivo de felicidade e gratidão para nós. Eu amo a minha área de formação, mas também sou apaixonada pela agricultura, por plantas. Passei, também, a valorizar a trajetória das pessoas na agricultura, o esforço de cada um. Todo o caminho que estou trilhando começou com minha avó, depois com meu pai, minha mãe. Eu vim dar continuidade à história da minha família.”

Daiane diz que se sente uma profissional do agro. “Eu acompanho todo o processo de plantio e colheita e estou realizada. A Coamo foi muito importante, principalmente na orientação técnica. No começo não sabíamos nem por onde começar. Quando meu pai faleceu ele tinha feito a dessecação e íamos iniciar o plantio de verão. Brinco que começamos pelo ano letivo da soja e para nosso aprendizado foi bom”, considera Daiane.

Daiane com a mãe Margarete e a avó Ivone estão à frente da atividade agrícola em Brasilândia do Sul (PR)

À frente do trabalho diário

Jaci Almeida, de Mangueirinha (PR), é responsável pela gestão da área e não deixa de fazer o trabalho prático

Jaci Almeida

Mangueirinha (PR)

Formada em veterinária, cooperada assumiu as atividades da família após o falecimento do pai.

Ela trabalha com a mãe e mais três irmãs na condução da agricultura e pecuária.

Incentivo da família foi fundamental para que permanecesse no campo.

Na fazenda Boa Vista de Aparecida, em Mangueirinha (Sudoeste do Paraná), a cooperada Jaci de Almeida, é responsável pela gestão da área e faz o trabalho prático.

A família trabalha com agropecuária e aos poucos foi prosperando na região. Desde criança, Jaci quis trabalhar com animais, pois assistia seu pai fazendo isso. Resolveu entrar na área e se formou em medicina veterinária. “O incentivo dos meus pais foi o que me motivou. Eles sempre trabalharam na roça e com pecuária, e nós crescemos vendo eles batalharem.” Por ser mulher, Jaci encontrou um pouco de dificuldade no início. “Quando eu comecei não foi fácil. Não era como hoje, que a mulher está mais inserida no agronegócio. Mas, soube lidar e fui aprendendo.”

Após o falecimento do pai, há dez anos, resolveu ajudar a mãe a cuidar da propriedade. Ela e mais três irmãs, com apoio da mãe, estão à frente dos negócios. “Cada uma trabalha na sua área, mas a propriedade é de todas. Minha mãe me ajuda bastante, é meu braço direito na propriedade.”

Jaci pilota o maquinário, cuida dos animais e é responsável pela lavoura. Não tem tempo ruim para trabalhar. “As mulheres estão mostrando seu potencial. Têm se dedicado e estão crescendo. Só tem a melhorar.”

A engenheira agrônoma, Bruna Ricini Martins, da Coamo em Mangueirinha, conta que a vontade de trabalhar em cooperativa era grande, e foi na Coamo que ela encontrou a oportunidade. “Gosto desse contato que se cria com o cooperado, de prestar assistência, um acompanhamento do que acontece na lavoura no dia a dia, o que faz criar um laço com o produtor e com a família.”

Segundo a agrônoma, os cooperados aceitaram muito bem uma mulher na assistência técnica e já tem uma relação de confiança com eles. “O potencial feminino de atuar em várias atividades da agropecuária está tendo mais visibilidade e espaço no mercado. Isso porque nós, tanto agrônomas quanto as cooperadas, estamos atrás de informações que possam contribuir para a administração das propriedades.”

Ainda de acordo com a agrônoma, o que se vê nas propriedades é que as mulheres que estão à frente das atividades no campo estão satisfeitas, bem-sucedidas e felizes em estar trabalhando no campo.

Bruna Ricini Martins, engenheira agrônoma da Coamo em Mangueirinha, com a cooperada Jaci de Almeida

Presença feminina na pecuária leiteira

Maria, Paula e Renata Schmidt, de Manoel Ribas (PR), fazem questão de pôr a mão na massa. Elas acordam bem cedo para ordenhar as vacas

Paula, Maria e Renata Schmidt

Manoel Ribas (PR)

As três cunhadas são responsáveis pela atividade leiteira, enquanto os maridos cuidam da lavoura.

O trabalho diário as fortalecem. Não é de hoje que o público feminino está se destacando em papéis na sociedade, que antes eram vistos apenas como ‘para os homens’.

As três são mães e mesmo com as responsabilidades da casa, não abrem mão de fazer parte das atividades pecuárias.

Em Manoel Ribas (Centro-Norte do Paraná), na propriedade da família Schmidt, as mulheres fazem questão de pôr a mão na massa. As cunhadas Paula, Maria e Renata, esposas dos cooperados, Éder, Edson e Elder, acordam bem cedo para ordenhar as vacas. Esse trabalho é feito três vezes ao dia, às 06, 14 e 22 horas. As três são mães e mesmo com as responsabilidades da casa, não abrem mão de fazer parte das atividades pecuárias. “Primeiro, colocamos a casa em ordem, arrumamos os filhos e fazemos o serviço de rotina. Tudo até o horário da ordenha”, comenta Paula, uma das responsáveis pela atividade.

Apesar do ofício puxado, as três trabalham com alegria. Cada uma tem uma função, desde a organização do local até o trato com os animais. “Vamos conversando e se distraindo, e o serviço rende. Nos damos muito bem.”

Segundo Paula, as mulheres estão se igualando aos homens na lida do campo. O público feminino não está só no serviço de casa, mas também, à frente dos negócios, muitas vezes ao lado do marido. “A gente se sente mais importante, porque na falta do esposo, conseguimos fazer o trabalho, da nossa forma.”

A propriedade é atendida pela médica veterinária, Letícia Dal Posso, da Coamo em Manoel Ribas. Segundo ela, o cenário agro está aceitando, cada vez mais, as mulheres. Nos quatro anos de formada, Letícia observou a evolução da mulher na agropecuária.

Ela escolheu a área pela paixão pelos animais e por gostar da lida no campo. Enfrentou dificuldades, mas com o passar do tempo encontrou seu espaço. “Se as mulheres gostam de trabalhar no campo, é preciso lutar para isso. A mulher é capaz de fazer tudo que quiser.”

Letícia afirma que o envolvimento das mulheres com os negócios do campo é cada vez mais frequente. “Elas estão sendo mais ativas e presentes. Com o passar do tempo, estão se tornando mais importantes nos negócios da família. Basta uma oportunidade para mostrarmos nosso trabalho, do que somos capazes.”

Letícia Dal Posso, médica veterinária da Coamo em Manoel Ribas, é responsável pelo atendimento na propriedade da família Schmidt

Espaço na cooperativa

Maria do Carmo Libarino Suzuki, atendente de cooperados em Campo Mourão

As mulheres estão mais presentes no agronegócio. E não é só no campo, mas dentro da cooperativa também. Na Coamo, são diversos os lugares que elas ocupam, com orgulho e dedicação. Em Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), Maria do Carmo Libarino Suzuki, carinhosamente chamada de ‘Carminha’, iniciou sua história na cooperativa em 1982, no entreposto de Engenheiro Beltrão. Dois anos depois se transferiu para Campo Mourão.

Carminha é atendente de cooperados e realiza o ofício com muita gratidão. “Parece que foi ontem que entrei na Coamo. Sou muito realizada no que faço. Atender os cooperados é uma paixão. Tenho orgulho de trabalhar em uma empresa com o nome tão forte, que me valoriza.”

O relacionamento da atendente com o público ultrapassa os limites da cooperativa. Ela não se envolve somente com os cooperados, mas procura conhecer suas famílias. “Tenho a oportunidade de atender muitas famílias. Já atendi o avô, filhos e agora os netos. Então, vejo que é importante dispensar carinho com os familiares e isso faz muito bem para eles.”

Na trajetória, Carminha sempre incentivou os cooperados para que as esposas e filhas também fizessem parte da cooperativa. Hoje ela vê muitas mulheres integrando o quadro social, e participando ativamente. “É satisfatório ver mulheres participando, interagindo, fazendo acontecer”, frisa.

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