Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 524 | Maio de 2022 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

ANGELO COLOMBO Presidente da Swiss Re Corporate Solutions para a América Latina

Angelo Colombo assumiu como Chief Executive Officer Latin America da Swiss Re Corporate Solutions em 2019. Tem mais de 20 anos de experiência no mercado de seguros. Iniciou sua carreira como Risk Manager e ao longo dessas duas décadas ocupou diversas posições de liderança, tanto no Brasil quanto na Europa. Antes de se juntar à Swiss Re Corporate Solutions foi CEO regional para a América do Sul da Allianz Global Corporate Specialty (AGCS). É bacharel em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e em Administração de Empresas pela FGV em São Paulo.

“O papel das cooperativas agrícola e de crédito no fomento da cultura de seguro é essencial no Brasil. São um dos principais canais de distribuição do produto no país. Em nossa estimativa, aproximadamente de 10% a 30% do volume de seguros agrícolas são comercializados via cooperativismo”, informa Angelo Colombo, presidente da Swiss Re Corporate Solutions para a América Latina - grupo que existe há mais de 150 anos e tem uma operação consolidada no mercado brasileiro. Em 2021, obteve um volume da ordem de R$ 1 bilhão em prêmios de seguros emitidos no país em vários ramos de seguro.

Ele relata o trabalho da companhia no apoio aos agricultores segurados e destaca o pioneirismo e protagonismo da Coamo e da Credicoamo, as primeiras cooperativas a fomentar o uso do seguro como um instrumento de proteção ao produtor rural e por terem montado o mais completo modelo de oferta ao cooperado.



Revista Coamo: Como analisa a parceria entre as cooperativas Coamo e Credicoamo junto à Swiss Re Corporate Solutions?

Angelo Colombo: A parceria, com a Coamo e a Credicoamo, é motivo de muito orgulho para a nossa companhia. Nosso relacionamento começou há mais de uma década, vem crescendo e se fortalecendo, baseado em confiança e respeito mútuo. Além da força da Coamo e Credicoamo, a competência técnica das cooperativas nos desafia a melhorar sempre nossos produtos, processos e tecnologia, e isso é muito importante para nós. A cada ano sabemos que temos que ser melhores, para acompanhar a evolução do nosso parceiro. Na operação da Coamo temos muita confiança para desenvolver soluções e a tranquilidade na compreensão do programa de seguros agrícolas em toda base de cooperados. Podemos afirmar que o modelo de gestão e mitigação de riscos da Coamo é referência para outras cooperativas e canais de distribuição, e estamos muito satisfeitos com nossa presença significativa nesta operação.



RC: Como observa o cooperativismo na conscientização junto aos cooperados para uso dos seguros?

Colombo: O papel das cooperativas agrícolas e de crédito no fomento da cultura de seguro é essencial no Brasil, e hoje são um dos principais canais de distribuição do produto no país. Em nossa estimativa, aproximadamente 10% a 30% do volume de seguros agrícolas são comercializados via cooperativismo. Destaco o pioneirismo e o protagonismo da Coamo e da Credicoamo no setor, tendo sido não só as primeiras a fomentar o uso do seguro como um instrumento de proteção ao produtor rural, mas também por terem montado o mais completo modelo de oferta ao cooperado, sendo hoje destaque no segmento com projeto idealizado e liderado pelo Dr. Aroldo Gallassini.



RC: Qual a realidade atual do mercado de seguros no Brasil, e em especial, no agronegócio?

Colombo: A realidade dos seguros rurais demonstra franco desenvolvimento nos últimos 10 anos, temos dado muitos passos largos e temos tido grandes avanços, mas temos muito o que caminhar nas parcerias público-privadas de ramos de seguros. É necessário que sejam fortalecidas e revalidadas as operações de crédito rural e de subvenção ao seguro rural. Sob a ótica de oportunidades, temos uma ampla variedade de cultivos e sistemas produtivos, mas ainda percebemos uma baixa penetração e, também, pouca dispersão de riscos. Precisamos ter mais ‘Coamos’ e mais produtores conscientes da cultura de seguros como temos para soja, milho safrinha e trigo pelo Brasil. Os anos de 2021 e 2022 foram muito duros com o segmento de seguro agrícola em função dos eventos climáticos, e as seguradoras processaram mais de R$ 5,4 bilhões em indenização no ano passado, um recorde histórico tanto no volume total, quanto na quantidade de avisos de sinistros recebidos. A indústria de seguros comprovou o seu valor como um instrumento de proteção ao produtor e aos agentes de financiamento agrícola. Foi um ano muito desafiador e, na nossa visão, o setor sai fortalecido e com mais relevância no agronegócio brasileiro.



RC: O mercado brasileiro está em fase crescente na adesão ao seguro agrícola, mesmo assim não chega a 15%.

Colombo: Segundo os números divulgados pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), órgão que regula o setor de seguros no Brasil, o ramo de seguros agrícolas cresceu mais de 40% em 2021, em relação a 2020, numa indicação clara de expansão. Quanto maior o tamanho do mercado de seguro agrícola, maior será a oferta de soluções e produtos aos segurados. Outro ponto relevante é que o aumento de escala, traz diversificação de risco para as companhias de seguro. Esses fatores combinados estimulam o investimento em mais tecnologia e melhores soluções para os clientes. Então, na nossa visão, quanto maior e mais diversificado o mercado, maior será a proteção levada pelo setor de seguros ao agronegócio do país. A participação de 50% é um objetivo alcançável e se continuarmos com um programa forte e sem retrocesso de planejamento chegaremos lá em poucos anos.



RC: A Swiss Re trabalha com inovação e criação de novos produtos para atender os anseios dos agricultores?

Colombo: Temos um orçamento robusto em tecnologia e investimos, anualmente, o equivalente a 10% do nosso faturamento em novas soluções e ferramentas para tornar nossa operação mais ágil e levar melhor experiência aos clientes e parceiros de negócio. Avançamos em diversas frentes nestes últimos anos, mas vale ressaltar a parceria de inovação que tivemos com a Coamo. Foi a primeira cooperativa a desenvolver em conjunto conosco a sensibilidade de preços e produtividades adequadas para uma grande parte de sua base de cooperados. Fazemos constante uso de análises de dados e modelos preditivos para suportar nossa gestão de risco e organizar melhor e mais efetivamente nossos serviços. A cultura de seguros é vital para o desenvolvimento de negócios e há dois anos investimos em plataforma digital (Academia Digital) para treinar corretores e parceiros.



RC: A safra 2021/2022 foi algo sem precedente na história da agricultura. Como a Swiss Re acompanhou as frustrações e se estruturou para atender os segurados?

Colombo: De fato, os últimos meses foram muito desafiadores para toda a cadeia do Seguro Agrícola no país e nós da Swiss Re Corporate Solutions, que é uma das maiores nesse segmento, participamos ativamente desse momento crítico do setor. Do ponto de vista financeiro, nossa companhia é sólida e não temos preocupação maior com os eventos dos últimos meses. Nossos esforços seguem focados nos aspectos operacionais e no atendimento aos clientes. O volume de avisos de sinistro foi muito alto em todo o setor, dada a escala dos eventos climáticos, e concentrado em períodos relativamente curtos. Em seguida às vistorias há um trabalho grande e necessário, inclusive por critérios regulatórios, pois muitas apólices contam com subvenção federal, para recebimento, triagem e análise documental antes que os sinistros possam ser liberados para pagamento. Todos esses fatores sobrecarregaram toda a cadeia de processamento dos avisos de sinistros, impactando a todos nós e nossas equipes que trabalharam longos turnos dedicados ao processamento dos avisos. Sentimos que já entramos numa fase de quase normalidade e utilizamos as lições aprendidas para ampliar nossa base de prestadores de serviço e novas tecnologias para receber, processar e reportar andamento dos sinistros recebidos.



RC: Quais as perspectivas para os próximos anos?

Colombo: A Swiss Re, desde 2017, tem uma associação estratégica com o Grupo Bradesco por sermos uma joint-venture entre o Grupo Swiss Re e a Bradesco Seguros, e oferecemos produtos de seguro nos ramos patrimoniais, transportes, responsabilidades e linhas financeiras, seguro garantia e, também, seguros rurais. No ano passado a companhia cresceu mais de 20% e nossa perspectiva segue muito positiva para os próximos anos. Estamos convencidos de que o agronegócio seguirá sendo um pilar muito relevante para a economia do país e, por consequência, para nossa companhia, mas também vemos na retomada da economia oportunidades de crescimento em vários segmentos.



RC: Qual a preocupação da Swiss Re em relação ao crescimento sustentável da agropecuária para evitar desembolsos em momentos indesejáveis na atividade?

Colombo: A preocupação do Grupo Swiss Re em relação a sustentabilidade é ampla e não se limita a cadeia agropecuária. Obviamente estamos atentos aos aspectos ambiental, social e de governança estabelecidos em nossas políticas de aceitação de riscos e temos intenção clara de trazer estes aspectos para nossa análise de subscrição. Em se tratando de agropecuária, temos muitas oportunidades e consciência de que a tecnologia empregada em grande parte do território e dos produtores têm consciência sustentável. Vemos oportunidades em novos sistemas de produção, por exemplo: Sistemas Consorciados, Integração Lavoura, Floresta Pecuária, Economia de Recursos na Operação Produtiva, entre outros.



RC: O Dr. Aroldo, presidente dos Conselhos de Administração da Coamo e da Credicoamo, defende e propaga a cultura do seguro agrícola. Qual a sua opinião?

Colombo: O Dr. Aroldo merece todo nosso respeito pelo seu papel de liderança como precursor do uso do seguro agrícola como um efetivo insumo para o produtor, pela sua função de proteger um ativo crítico que é a produção agrícola. Essa visão disseminou-se pelo Brasil e fomentou a adoção dessa prática em muitas cooperativas em todas as regiões do nosso país. Ele continua consistente em sua visão e discurso pois já vivenciou momentos do agronegócio no Brasil em que o seguro apoiou concretamente os produtores e cooperativas, exatamente como temos visto nos últimos meses.



RC: Então, o seguro agrícola é a melhor ferramenta para redução de risco?

Colombo: Sem dúvida, o seguro agrícola pode exercer um papel de "amortecedor" do impacto de um evento climático. Assim como em outros produtos de seguro de danos, o papel social e econômico da indenização de seguro, fazendo a reposição do bem perdido, permite a retomada da operação da empresa ou o produtor. Esse é o nosso papel, de tornar o mundo mais resiliente, apoiando nossos clientes e parceiros de negócio quando um risco não previsto lhe causa uma perda. Essa é a motivação com que eu e toda equipe da Swiss Re Corporate Solutions trabalhamos todos os dias.

Angelo Colombo assumiu como Chief Executive Officer Latin America da Swiss Re Corporate Solutions em 2019
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