Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 524 | Maio de 2022 | Campo Mourão - Paraná

MEIO AMBIENTE

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

Ricardo com a filha Graziela Calderari

Ricardo Accioly Calderari é conhecido no meio rural por ser um defensor do meio ambiente. Engenheiro agrônomo e cooperativista nato, Dr Ricardo nasceu na Lapa (PR) e se mudou para Campo Mourão em 1970, onde consolidou sua trajetória profissional e familiar. Ele é membro do Conselho de Administração da Coamo e fundador da Credicoamo. Com propriedade na localidade da Água da Fonte, no município de Farol (Centro-Oeste do Paraná), ele entende que a agropecuária deve ser desenvolvida de maneira sustentável, para que a atividade seja rentável e ao mesmo tempo haja preservação do sistema produtivo, e um equilíbrio entre produzir e cuidar da natureza.

Em torno da propriedade é comum avistar diversas espécies de animais, como pássaros e macacos, que se abrigam nas matas preservadas pelo cooperado. Uma prova de que o local passa por uma preservação permanente da natureza. Vizinha às matas estão as áreas de plantio se tornando uma grande integração de todo o sistema. “Há um benefício enorme quando se desenvolve a agropecuária aliada as várias práticas e sistemas de preservação do meio ambiente. São incrementos diretos em todo o sistema de produção”, comenta Calderari.

O agricultor recorda que o solo existe há bilhões de anos e é necessário que cada geração faça a sua parte na preservação para que possa continuar produzindo e alimentando as pessoas no futuro. “Para isso, precisamos adotar todas as técnicas possíveis no controle de erosão, fazer plantio direto e manter as matas ciliares preservadas. As lavouras são cultivadas sem mexer na terra. Qualquer mexida desagregará benefícios de milhares de anos, tornando a área propícia para a erosão”, comenta.

Calderari foi um dos precursores do plantio direto em Campo Mourão, a segunda região no país a praticar o sistema. Ele foi pioneiro junto com os agricultores Joaquim Peres Montans, Antonio Álvaro Massareto, Gabriel Borsato e Henrique Gustavo Salonski. O primeiro município na história do plantio direto é Rolândia onde o agricultor Herbert Bartz, considerado o “pai do plantio direto no Brasil” fez na safra 1972 o primeiro plantio da história com a importação de uma plantadeira dos Estados Unidos, Allis Chalmers. Depois, vieram os municípios de Campo Mourão (safra 1973), Mauá da Serra (1974) e Ponta Grossa (1976).

Em 2023, a tecnologia completará 50 anos na região e Calderari continua um entusiasta da prática, assim como era no começo, no início da década de 1970. “O progresso foi tão grande nos últimos anos, que os novos agricultores nem imaginam como eram os solos e a agricultura na época”, diz.

Após quase cinco décadas da sua implantação, o sistema continua safra após safra sendo utilizado e difundido pelos agricultores. Entre os benefícios estão a tranquilidade e agilidade no plantio, reserva de umidade no solo, menor custo de produção, mais segurança, germinação uniforme, desenvolvimento das plantas em um mesmo padrão, tolerância ao veranico e, sobretudo, a conservação do solo, gerando um equilíbrio entre a parte química, física e biológica do solo, menor variação da temperatura e controle da erosão. “A agricultura se divide em duas fases: antes e depois do plantio direto”, frisa.

Segundo Calderari, um sistema produtivo bem equilibrado necessita de bastante palhada. Por isso, a importância de se fazer a rotação de culturas, tanto no verão quanto no inverno. “A palhada ajuda a segurar a chuva na área do plantio, infiltrando a água no solo e evitando que escorra. Para que isso ocorra de forma eficaz precisa, também, de curvas de nível, uma prática antiga, mas que muitos agricultores estão deixando de fazer”, orienta.

Ricardo Calderari foi um dos precursores do plantio direto em Campo Mourão, a segunda região no país a praticar o sistema. Na foto, ele com os também agricultores pioneiros Henrique Gustavo Salonski, Joaquim Peres Montans e Gabriel Borsato

Calderari entende que, de maneira geral, o Brasil é um país exemplo na preservação da natureza. “O Brasil é o mais ambientalista do mundo. Somos um exemplo para o mundo. Temos que ter lavoura para as próximas gerações e preservar muito bem o solo. Os cooperados da Coamo praticam e difundem essas técnicas de preservação e produção sustentável. Mesmo quando eles vão para outras regiões do país, levam essa conscientização que aprendem na cooperativa. Qualquer lugar do Brasil que tiver um produtor que é ou foi cooperado da Coamo, sabemos que desenvolverá a agricultura pensando no meio ambiente.”

Como diretor-secretário da Coamo, ele participou em 2018 em Lille, na França, da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, promovido pela Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS). A conferência contou com a participação de dezenas de autoridades de mais de 40 países dos cinco continentes, ligadas à cadeia produtiva da soja. Foi a primeira vez que o setor produtivo brasileiro havia participado deste evento, representado por seis cooperativas agrícolas - cinco do Estado do Paraná e uma de Goiás, que juntas, representam 11% da produção brasileira de soja.

Curvas de níveis garantem que água da chuva não chegue na área de plantio, causando erosão. Mesmo dias após a chuva, água ainda estava armazenada no local adequado

Propriedade leva o nome da cidade que Ricardo Calderari nasceu. Ele se mudou para Campo Mourão em 1970, onde consolidou sua trajetória profissional e familiar

Engenheiro agrônomo José Petruise Ferreira Júnior mostra a palhada, uma das características em toda a área de produção na propriedade

Para Calderari, a participação do Brasil foi de fundamental importância, já que o setor produtivo teve a oportunidade de rebater várias críticas feitas ao país a respeito da sua produção agrícola e do meio ambiente. “Foi uma excelente oportunidade. Mostramos ao mundo que o Brasil não é o que eles pensam. Escutamos críticas de estrangeiros e até mesmo de brasileiros, de pessoas mal-intencionadas, que com interesses diversos, querem mostrar ao mundo um Brasil que não cuida do meio ambiente, que tem terras estéreis e agricultores que não usam tecnologia e estão empobrecendo, o que é uma grande mentira. Mostramos que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente, aumenta sua produção exatamente por contar com agricultores tecnificados, empreendedores e preocupados com a natureza.”

Na opinião dele, outros países produtores de soja estão na verdade assustados com o crescimento agrícola do Brasil e fazendo de tudo para complicar e rebaixar a agricultura brasileira. “Nós produzimos bem e com responsabilidade. Indagamos os representantes de outros países se eles tinham o CAR [Cadastro Ambiental Rural] e ninguém tinha, por isso ficaram mudos. Apresentamos também que no Sul do Brasil 20% da área de uma propriedade rural é destinada para reserva legal, no Cerrado esse número sobe para 35% e na Amazônia para 80%, e que o agricultor não tem nenhuma remuneração a mais por isso, bem diferente do que vimos na Alemanha, por exemplo, onde qualquer área de mato é remunerada. Diante da posição brasileira eles ficaram silenciosos, calados.”

Outro ponto destacado por Calderari é a devolução e destinação correta das embalagens vazias de defensivos agrícolas, onde o Brasil se destaca, tirando anualmente do campo milhares de embalagens que poderiam prejudicar o meio ambiente. “Quando a gente vê notícias falando mal da nossa agricultura é porque tem alguma coisa por trás, outros interesses. Deu orgulho a gente mostrar que o agricultor brasileiro faz muito bem a lição de casa e que o nosso país é o que melhor cuida do meio ambiente no mundo.”

Antonio Gancedo, de Campo Mourão (PR)
Antonio Gancedo, com propriedade na comunidade Boa Esperança, em Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), é outro exemplo de que é possível trabalhar com a agricultura sem agredir o meio ambiente. Em uma área de 180 alqueires, são mais de 45 destinados para a preservação am - biental, com matas nativas e ciliares. “Como agricultor, temos que ver dois lados: o rentável que é plantar e produzir, e o de respeitar a natureza. São atitudes de respeito”, comenta.

Em meio a uma área de mata nativa, o cooperado man - tém uma trilha de mais de mil metros para que visitantes possam caminhar e contemplar a natureza. Tudo realizado com bastante cuidado para não agredir o local. No meio da caminhada é possível ver árvores centenárias como, por exemplo, perobas que passam de 200 anos e palmitos nativos da variedade juçara. “É um local de contemplação e admiração, e não de extração. É um orgulho ver o resul - tado de anos de preservação.”

Segundo ele, a consciência vem desde criança acompanhando o pai no dia a dia nas atividades agrícolas. “Fui criado na roça. No começo só cultivava café e rami. Com o passar do tempo as áreas foram mecanizadas e passamos para a soja, milho e trigo. Des - de o início fazíamos as curvas de nível e corrigíamos o solo, e nesse ambiente de plantar e produzir, sempre preservamos o meio ambiente”, comenta.

Gancedo comenta que aprendeu na Coamo a manter a preservação ambiental na propriedade, por meio de palestras, eventos e encontros na fazenda Experimental. “A Coamo é uma escola. Ensina a produzir, oferece os melhores insumos e orienta para que tudo seja dentro das leis ambientais. Com a Coamo adquiro conhecimento e aplico na minha realidade.”

Com áreas em que o solo não é mexido há mais de 20 anos, o cooperado reitera que o plantio direto foi um divisor de águas. “Desde o momento que passamos a utilizar a prática, o sistema de produção ficou mais sustentável. Passamos a produzir mais e ao mesmo tempo preservar o meio produtivo. O produtor rural tem que ter a consciência de preservar a natureza, cuidar do meio ambiente e aumentar a produção. É um bem-estar para todos nós”, diz.

Além do plantio direto, o cooperado adota a rotação de culturas com soja, milho, trigo e aveia. “É um sistema de produção que estamos adotando há mais de 30 anos. Estamos conseguindo evoluir em produtividade e tendo mais renda com essas práticas. É um orgulho produzir alimentos da uma maneira correta, adotando práticas e sistemas que respeitam o meio ambiente. Quem fala diferente é porque não conhece a realidade do produtor brasileiro.”

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