Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 534 | Abril de 2023 | Campo Mourão - Paraná

PECUÁRIA

Roland Schurt, de Goioerê (PR), utiliza resíduos de uma fecularia de mandioca para tratar os animais e irrigar a pastagem

A criação de bois e a indústria de fécula de mandioca podem parecer mundos diferentes, mas Roland Schurt, de Goioerê (Centro-Oeste do Paraná), encontrou uma maneira de unir essas duas atividades. Em vez de simplesmente descartar os resíduos gerados pela indústria, ele os utiliza para alimentar o gado e fertilizar a pastagem, transformando a pecuária numa oportunidade de renda extra. "Podemos dizer que o gado beneficia a indústria, porque estamos consumindo resíduos que seriam um problema e teriam custos de descarte", explica. "Usamos a casquinha e a massa da mandioca para uma alimentação suplementar dos animais e fazemos fertirrigação na pastagem", acrescenta. A suplementação no cocho é feita com casca da mandioca que é a sobra do produto que vai para a industrialização. A massa da mandioca é um resíduo bastante úmido, contém 85% de umidade e o gado aceita muito bem essa alimentação. “Os resíduos eram um problema sério e não tinha um destino seguro para esses produtos. Até então eram doados para produtores rurais da região. O volume de massa é muito grande e o nosso gado não consome tudo, e um pouco ainda é doado.”

A pastagem ocupa 35 alqueires e foi dividida em dez piquetes. Toda a área recebe a fertirrigação o ano todo. O composto líquido é rico em potássio e matéria orgânica e ajuda o pasto a suportar a alta carga animal. Na propriedade é desenvolvido o sistema de recria e engorda. O cooperado adquire bezerros logo após a desmama e eles ficam em outra propriedade de 180 alqueires, em Cruzeiro do Oeste, entre oito e 14 meses. O local abriga cerca de mil animais.

Roland Schurt, Guilmar Frost, gerente da propriedade, e Luiz Fernando Migliorini Correia, médico veterinário

Área foi dividida em dez piquetes e pastagem recebe fertirrigação o ano todo

Quando chegam a 13 ou 14 arrobas são transferidos para Goioerê para a terminação. “São de seis a dez meses até chegar no ponto. Essa oscilação de tempo é porque nem todos os animais têm as mesmas características de ganho de peso.” Depois de todo o processo, os animais saem com peso médio de 20,5 arrobas.

Segundo o cooperado, a pecuária se tornou uma fonte de renda importante. “Temos aqui um aproveitamento de área em torno de 20 a 22 cabeças por alqueire a pasto e com aproveitamento da casca da mandioca e uma parte da massa também. Os produtos fazem a grande diferença no trato dos animais, com mais aproveitamento da área.” A propriedade conta com uma lotação acima devido ao sistema implantado. “A média nacional de animais a pasto sem esse sistema que estamos fazendo é de uma ou duas cabeça por alqueire.

Aqui temos pouco mais de 20 animais por alqueire com esse sistema, e ainda sobra pasto.” Roland revela que cerca de 700 bois são comercializados por ano.

Rafael com a mãe Inês, pai Luiz, irmão Sandro, sobrinha Carine e o tio Agostinho. Família preza pela qualidade do leite como alternativa de melhorar a renda

O cooperado ressalta que todo o trabalho é realizado em parceria com a Coamo,que disponibiliza os insumos e minerais que complementam a alimentação, além de produtos para a sanidade dos animais. “Fazemos toda a nossa movimentação na Coamo e recebemos uma assistência técnica importante para cuidar dos animais.”

O médico veterinário Luiz Fernando Migliorini Correia, da Coamo em Goioerê, ressalta que o trabalho da cooperativa é para aperfeiçoar a criação de animais, trazendo benefícios tanto para os cooperados quanto para o meio ambiente. “É um trabalho de atendimento abrangente, que inclui, também, o acompanhamento de cooperados que fornecem bezerros para o sistema adotado pelo seu Roland. Essa assistência tem resultado em um gado com mais qualidade”, comenta.

Uma das principais preocupações da pecuária moderna é a sustentabilidade. O veterinário lembra que a propriedade utiliza energias renováveis, como biodigestores e placas solares, visando reduzir o impacto ambiental da atividade. “Esse compromisso com práticas sustentáveis contribui para o aumento da produtividade e melhoria do sistema como um todo.”

Conforme o veterinário, atualmente, a pecuária tem enfrentado desafios, uma vez que as áreas de pastagem estão diminuindo em todo o Brasil, devido ao avanço da agricultura.

No entanto, graças à tecnologia e ao trabalho conjunto dos cooperados com a pesquisa e a assistência técnica, é possível otimizar o sistema e aumentar a quantidade de animais por alqueire. Os cooperados têm se adaptado às práticas modernas e a combinação de tecnologia, manejo adequado e sustentabilidade tem sido a chave para o sucesso desseprojeto, que tem como objetivo tornar a pecuária mais eficiente e sustentável.

A família Dall Acqua, em Quilombo, município 40 quilômetros distante de São Domingos (Oeste de Santa Catarina), faz questão de destacar a qualidade do leite produzido ali, o que é motivo de orgulho e uma conquista que demandou dedicação e investimento. A propriedade é exemplo, assim como muitas que desenvolvem a atividade, seja como principal ou como diversificação.

A Estância Dona Olinda está completando 70 anos, mas nem sempre teve a pecuária leiteira como sua principal fonte de renda. Durante muitos anos, a suinocultura foi o carro-chefe. No entanto, ao longo do tempo, devido às dificuldades enfrentadas pelo setor, essa atividade foi perdendo espaço e a bovinocultura de leite se mostrou mais adequada às características da propriedade.

A produção de leite teve início há aproximadamente 20 anos e Rafael representa a terceira geração de sua família na propriedade. "Ao longo dessas duas décadas, realizamos diversas melhorias, com foco no bem-estar, genética e sanidade dos animais. Desde 2013, a propriedade é considerada livre de brucelose e tuberculose, o que é um diferencial importante", comenta.

A propriedade tem um total de 100 alqueires, sendo que 70% dela é ocupada com mata nativa. A área destinada para a exploração agrícola é de revelo acidentado o que dificulta o manejo dos animais. Diante disso, há dez anos as vacas foram confinadas no sistema Free Stall, e recentemente implantaram, também, o Compost Barn com o objetivo de melhorar o bem-estar animal.

São cerca de 300 vacas criadas atualmente na propriedade, todas da raça Jersey. Rafael explica que foram os animais que melhor se adaptaram às condições de clima e da área. “São animais de fácil manejo. Há um ano estamos industrializando parte do leite para produzir queijo colonial. É uma maneira de agregar mais valor à nossa produção. Para um quilo de leite de muçarela são necessários 5,5 litros de leite e essa é uma das vantagens das vacas da raça Jersey, que tem um maior teor um sólidos elevados”, comenta.

Amanda Rodrigues da Silva, médica veterinária da Coamo, e o cooperado Rafael

Coamo fornece assistência técnica e insumos necessários para a condução da atividade

A propriedade produz um pouco mais de dois mil litros de leite por dia e conta com cerca de 90 vacas em lactação. A média por animal é de 22 litros por dia. Rafael revela que no inverno a meta é chegar a 26 litros de leite animal por dia. “Produtividade essa considerada ótima em comparação a nacional. Temos vacas que produzem diariamente até 50 litros de leite”, destaca o cooperado. Rafael ressalta que a parceria com a Coamo tem sido fundamental para o bom desenvolvimento da pecuária. “Estamos um pouco distantes da unidade mais perto, que é São Domingos. Mas, sempre fomos bem atendidos e assistidos por uma equipe de profissionais de alta qualidade e isso acaba nos aproximando”, comenta.

Conforme a médica veterinária Amanda Rodrigues da Silva, da Coamo em São Domingos, com 300 animais da raça Jersey, a Estância Dona Olinda é uma das propriedades referências para a região Oeste de Santa Catarina, pela qualidade do leite e produtividade dos animais. “Eles encontraram na produção de leite uma oportunidade, e hoje é a principal fonte de renda da família. A opção pela raça Jersey foi assertiva já que o leite produzido por esses animais é mais completo quando comparado com outras raças leiteiras”, comenta e acrescenta que o leite contém mais sólidos não gordurosos (proteína, vitaminas, minerais e lactose) e gordura. “O leite Jersey contém acima de 18% de proteína e 29% a mais de gordura comparada com a raça Holandês. A família vende seu leite pela qualidade, destinando-os para produção de queijos e muçarelas”, comenta.

José Carlos dos Santos e o filho Gustavo estão aprimorando o sistema para criar as vacas leiteiras em Altamira do Paraná

José Carlos Dos Santos foi funcionário por mais de dez anos em uma propriedade rural onde trabalhava com gado de corte em Campina da Lagoa. Em 2015, ele saiu do emprego e comprou uma propriedade de cinco alqueires em Altamira do Paraná para trabalhar com a produção de leite.

Com a assistência da Coamo, ele adotou um sistema que melhorou todo o processo de manejo dos animais. A área de pastagem foi dividida em piquetes e os animais são rotacionados de acordo com a disponibilidade de alimentos. Atualmente, são 20 vacas por alqueire. "A tecnologia é indispensável em todas as áreas e com a pecuária de leite não é diferente. Dividir as áreas em piquetes favorece o aumento do número de animais. Em uma área relativamente pequena, conseguimos colocar mais vacas. Esse é o ponto principal do projeto que vem sendo adotado em nossa propriedade", comenta o cooperado.

Antes de implantar o sistema, o cooperado trabalhava com quatro vacas por alqueire e hoje tem a possibilidade de inserir até 25 vacas. “Por mais que o investimento tenha um custo alto, o retorno compensa pela questão de abrigar mais animais.” A ordenha é realizada duas vezes por dia. Após saírem da sala, os animais recebem suplementação no cocho e depois seguem para a pastagem onde ficam até a próxima ordenha.

José Carlos e o médico veterinário Gustavo dos Santos Pitlovanciv, em Altamira do Paraná

Propriedade de cinco alqueires foi dividida em piquetes com o objetivo de melhorar a alimentação das vacas

Ele conta que com o sistema conseguiu aumentar a produção de leite e saiu de uma média de 100 para 250 litros por dia. “Estamos trabalhando para melhorar ainda mais o pasto e aprimorar o sistema para ultrapassar nossa produção diária. Temos um custo relativamente alto e precisamos inserir práticas que possam melhorar a produção e a renda com o leite. Em uma área pequena temos que procurar produzir mais para atender as necessidades da família.”

Entre as melhorias para o futuro, o cooperado pretende investir em animais com melhor genética e na correção de solo das pastagens. “Houve uma grande evolução e o trabalho não foi fácil. Mas, ainda temos muito o que melhorar para alcançar nossos objetivos com a pecuária”, comenta. Emerson francisco Gasparotto que optou por investir na criação de gado em uma região onde a agricultura predomina. De família tradicional com a pecuária, ele cresceu no meio dos animais e aprendeu a gostar dos bois com os pais. Emerson observa que o objetivo é agregar mais valor e tornar a atividade tão produtiva quanto a cultura da soja. A propriedade fica em Ubiratã e Emerson é cooperado da Coamo em Juranda (Centro-Oeste do Paraná).Segundo ele, na região a agricultura predomina e para ter uma pecuária eficiente foi necessário inovar. “Podemos dizer que 99% dos produtores da região trabalham com a agricultura. Nosso trabalho é focado em uma criação de animais tão produtivos quanto a soja. Porque se a soja dá lucro, o boi tem que dar também”, comenta.

Em parceria com a Coamo está sendo desenvolvido um projeto na propriedade do cooperado. A área foi dividida e recebem os animais em forma de rodízio. São 17 piquetes em dois alqueires de pastagem que comportam um total de 53 cabeças. Um número bem acima da média nacional. Emerson explica que os animais permanecem 24 horas em cada área. Além da pastagem, o gado recebe suplementação mineral no cocho. “É um trabalho que está dando resultado. Se fizermos uma comparação em arrobas por alqueire temos um bom retorno. O boi se mostra muito rentável quando comparado com a agricultura desenvolvida em um cenário com a mesma topografia e clima”, diz.

Emerson com a filha Amália Gasparotto. Tradição em família na criação de gado em Ubiratã

A propriedade tem 300 alqueires e a parte reservada para a pecuária é de dez alqueires. No local foi realizada agricultura de precisão e a adubação necessária. “Fizemos a lição de casa e hoje estamos tendo um bom resultado. A área também está recebendo irrigação para melhorar ainda mais o pastejo. A irrigação será, primeiramente, em cinco alqueires, mas a meta é em dez alqueires para rodar 200 animais no ano”, observa.

Antes de implantar o sistema de pastagem piqueteados, os animais ficavam em uma propriedade em outro município, de relevo mais acidentado, e eram necessários sete alqueires para abrigar a mesma quantidade. “Pelo valor da terra, fica inviável destinar uma área maior para ter a mesma lotação que eu tenho aqui em um espaço menor. Deixamos a pecuária mais atrativa, muito mais rentável.”

Emerson diz que a mudança ocorreu após fazer contas dos custos com a logística e de todo o trabalho para cuidar do gado. Para isso, segundo ele, precisou quebrar o paradigma que o boi não era financeiramente viável na região. “Fazemos aqui uma lavoura de boi. Até pouco tempo atrás, ninguém investia em pastagem. Utilizamos uma boa tecnologia na pecuária, assim como se usa agricultura.”

Os animais criados pelo cooperados são touros da raça Nelore de Pura Origem (PO). Genética, sanidade e alimentação são os pilares de uma boa pecuária, e são esses os principais pontos observados pelo pecuarista para manter o seu rebanho e, consequentemente, ter um bom retorno financeiro. “Estamos investindo na pecuária porque estamos vendo progresso”, conta. Os animais ficam até três anos na com oito meses e já são inseridos no manejo de preparação para serem criados a pasto.

Gustavo dos Santos Pitlovanciv, médico veterinário em Altamira do Paraná, atende os cooperados José Carlos dos Santos e Emerson Francisco Gasparotto. Ele explica que tanto na produção de corte quanto de leite, a ideia é desenvolver um sistema para que o produtor tenha rentabilidade, com um investimento adequado e comprometimento. “Os grandes produtores assim como os pequenos têm a possibilidade de obter lucratividade se estiverem abertos a novas ideias e se derem as condições adequadas tanto para os animais quanto para o ambiente. A concentração em resultados é fundamental para garantir a rentabilidade”, observa. Segundo ele, é possível obter resultados satisfatórios, desde que o produtor esteja realmente determinado e siga as recomendações.

Augusto Tavela Júnior, técnico agropecuário, Emerson e Amália, e Gustavo médico veterinário

Cooperado investe em um sistema que proporciona mais rentabilidade a pecuária de corte

Gustavo explica que o projeto desenvolvido pela assistência veterinária é voltado para auxiliar os produtores e estar, cada vez mais, presente com eles para ajudar em suas dúvidas e necessidades diárias. “O desafio relacionado à pastagem, por exemplo, é uma questão que não afeta apenas a nossa região. Quando falamos sobre taxa de lotação, a média nacional é muito baixa, geralmente em torno de dois animais por alqueire, ou no máximo três. Estamos conseguindo trabalhar com uma média de 20 vacas de leite. Isso é fruto do investimento e comprometimento dos cooperados. O projeto é estruturado e adaptado à realidade de cada um. Não existe uma receita de bolo que funciona para todos, pois cada propriedade tem suas particularidades”, comenta.

De acordo com o veterinário, o objetivo do projeto é melhorar tanto a alimentação quanto a genética dos animais, além de englobar a sanidade e o manejo. “A base para a melhoria da genética é um ambiente favorável para que o animal possa expressar todo o seu potencial, o que envolve uma alimentação adequada. Isso é algo que os cooperados estão investindo.” Ele observa que Altamira do Paraná está localizada em uma região de relevo acidentado e a pecuária é, em muitas propriedades, a principal fonte de renda. “Temos grandes fazendas e também pequenas propriedades. O principal desafio é a pastagem. Então, nossa ideia é aproveitar as áreas planas e explorá-las ainda melhor, com projetos de alta taxa de lotação rotacionada, correção de solo e toda a assistência que podemos oferecer aos produtores.”

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