Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 540 | Outubro de 2023 | Campo Mourão - Paraná

COOPERATIVISMO

VIDAS TRANSFORMADAS

“Mulheres que Semeiam”, é um curso personalizado da Coamo e vem ajudando a inserir, de forma mais profissional, o público feminino nas atividades agrícolas

Durante 13 anos, Simone Ribas Vargas trabalhou em uma sala de aula. Semanalmente ela deixava a casa onde mora com o esposo José Marcos Ferraz em uma propriedade rural em Goioxim (Centro-Sul do Paraná) para ir até Guarapuava, município cerca de 70 quilômetros distante. Há dois anos, ela decidiu trocar a profissão de professora e se dedicar exclusivamente ao agronegócio. 

Nascida e criada no meio rural, Simone sentiu que seu coração pulsava mais forte pela agricultura. A decisão de voltar não foi apenas uma mudança de profissão, mas uma resposta a uma necessidade prática: ajudar nas atividades em sua propriedade rural, pois faltava mão de obra para desempenhar as tarefas. 

“Toda a vida gostei de ser professora, de lecionar, mas o coração bate mais forte pela agricultura. Isso mudou completamente a minha vida, eu me sinto realizada no agronegócio. Mesmo na sala de aula, nunca deixei o agro. Sempre estava envolvida, ajudando o esposo na propriedade”, comenta. 

Simone passou a participar de forma mais ativa de todos os momentos que envolvem a atividade agrícola, mas ainda faltava algo, que pudesse deixá-la mais confiante para realizar as tarefas no campo. E essa segurança veio com o curso “Mulheres que Semeiam”, promovido pela Coamo, que possibilita às participantes troca de experiências e o despertar do sentimento de pertencimento à cooperativa e a preparação para a gestão rural. 

Ela conta que o curso foi um divisor de águas, proporcionando conhecimento e reforçando a sua escolha pelo agronegócio. Segundo Simone, houve uma transformação constante no dia a dia desde a participação nos encontros. “Mudou a minha vida. Me vejo uma pessoa transformada na vida pessoal e profissional. O curso veio para confirmar a minha escolha pelo agro.” 

A agricultora destaca que passou a ter mais segurança para realizar as atividades como, por exemplo, pegar uma máquina agrícola, engatar o implemento e desenvolver a atividade no campo. “Eu tinha medo de fazer sozinha. Agora, estou bem mais segura. Atividades que eram desafiadoras hoje fazem parte da minha rotina de trabalho. Era isso que eu queria para a minha vida, trabalhar na agricultura com máquinas”, conta. 

Simone participou do evento em Guarapuava junto com outras 42 mulheres. Ela diz que mantém interatividade com as colegas e sempre conversam sobre o agronegócio e a participação feminina no campo. “Tenho orgulho de fazer parte do agro. São várias as mulheres envolvidas diretamente com as atividades agrícolas e cada vez mais sendo capacitadas para assumir papéis importantes”, comenta.

Simone Ribas Vargas, de Goioxim (PR)

Simone Ribas Vargas desenvolve as atividades ao lado do marido José Marcos

Produtora rural ajuda em todo processo na propriedade

"Mudou a minha vida. Me vejo uma pessoa transformada na vida pessoal e profissional. O curso veio para confirmar a minha escolha pelo agro."
Simone Ribas Vargas, de Goioxim (PR).

José Marcos Ferraz revela que a esposa sempre demonstrou interesse em participar das atividades da propriedade, e que após sua participação no "Mulheres que Semeiam", esse interesse se intensificou, e ela passou a se envolver mais ativamente. “Ela sempre pergunta sobre os resultados das atividades, buscando compreender o que está gerando receita e quais são os gastos associados”, comenta. 

Segundo ele, na parte operacional, Simone também demonstra mais interesse em compreender cada etapa dos processos em andamento na propriedade. “Esse envolvimento tem sido bastante positivo. Sua segurança ao realizar as tarefas aumentou, e ela aprendeu a diferenciar e questionar adequadamente sobre o andamento de cada atividade.”

JOSIANE HORT KCZAN, DE IVAIPORÃ (Centro-Norte do Paraná) tem o campo como origem. Nasceu e cresceu vendo a família trabalhar na agricultura, e se casou com um agropecuarista. Sempre trabalhou ao lado do esposo Reginaldo Kczan, participando ativamente da gestão e administração, e conhecia bem todas as rotinas de trabalho. 

Em 2021, Reginaldo faleceu e ela e se viu sozinha para gerenciar as atividades rurais. Apesar da insegurança inicial, assumiu a gestão dos negócios. “Com a falta dele, algumas coisas mudaram porque as decisões agora são minhas. Em alguns momentos houve insegurança, mas como estava bem inserida na gestão consegui continuar”, diz. Ela conta que conhecer todo o processo foi muito importante para dar continuidade aos trabalhos. “Sempre estive ao lado do Reginaldo e sabia bem como o trabalho era realizado. A experiência ajudou nessa sucessão”, comenta.

Josiane Hort Kczan, de Ivaiporã (PR)

Josiane Hort Kczan, de Ivaiporã (PR), assumiu a gestão após a morte do marido

Segundo ela, curso proporcionou uma compreensão mais profunda das atividades

"A mulher é capaz de ser gestora no meio rural e hoje em dia essa barreira foi quebrada e estamos provando a nossa capacidade."
Josiane Hort Kczan, de Ivaiporã (PR)

Ela ressalta que, como mulher, sair da zona de conforto é essencial, e isso envolve ter ousadia de deixar outras atividades para acompanhar as demandas do campo. “Já houve momentos que me vi fora do agro, mas tudo foi se encaminhando para que continuasse.” 

Segundo ela, o "Mulheres que Semeiam" proporcionou uma compreensão mais profunda de como conciliar a vida pessoal com os negócios agrícolas. “Aprender a separar os aspectos familiares e profissionais, bem como, organizar tarefas e tomar decisões estratégicas, foram elementos-chave destacados nos encontros.” Ela conta que como gestora principal, implementou práticas organizacionais mais eficientes na administração, trabalhando em parceria com seus dois filhos. 

Josiane já desenvolve estratégias para envolver os fi lhos na atividade agrícola. “É preciso integrá-los mais ativamente aos negócios, garantindo que eles tenham papeis definidos e se sintam parte do empreendimento. Embora seja a gestora principal, conto com a colaboração ativa dos meus filhos. A divisão de responsabilidades é essencial, e cada membro da família é responsável por aspectos específicos da propriedade.” 

A cooperada reforça que com o curso ficou evidente a necessidade de ser mais organizada na administração, tanto no planejamento das tarefas com os funcionários quanto na gestão pessoal. 

Segundo ela, a participação feminina na gestão do campo é uma conquista, superando resistências familiares e mostrando que as mulheres têm a capacidade de liderar no meio rural. “Antes, havia uma resistência da própria família de inserir as mulheres na atividade. Hoje, essa barreira foi ultrapassada."

Sara Maciel Antonini, de Amambai (MS)

Sara Maciel Antonini participou do "Mulheres que Semeiam", em Amambai (MS)

Ela participa da administração da propriedade ao lado do marido Valmir Antonini

SARA MACIEL ANTONINI, DE AMAMBAI (Mato Grosso do Sul) destaca que o conhecimento e a mudança de perspectiva podem transformar propriedades rurais em empreendimentos sólidos e sustentáveis. A turma que ela participou do “Mulheres que Semeiam”, se formou no início de outubro.

 

" A posição da mulher dentro do agro mudou bastante, e o curso "Mulheres que Semeiam" veio para clarear isso para nós."

Sara Maciel Antonini, de Amambai (MS)

Segundo ela, o evento esclareceu a importância da participação ativa das mulheres nas operações diárias das propriedades rurais e promoveu mudança na maneira como ela encarava seu negócio. "Precisamos ver a fazenda como uma empresa. Nela, garantimos nosso sustento, e os estudos dos nossos filhos", compartilha Sara, que representa a segunda geração familiar, com a terceira já começando a assumir responsabilidades na propriedade. 

O curso, ministrado de forma didática e esclarecedora, ressaltou a importância da atuação conjunta de esposas ao lado de seus maridos nas propriedades rurais. Um dos pontos cruciais abordados foi a questão da sucessão familiar. Sara destaca a importância de integrar os filhos nas atividades da

fazenda desde cedo, proporcionando-lhes oportunidades para estudar e se aprimorar, preparando-os para assumir as propriedades no futuro. "O curso ajudou a trabalhar essa questão da sucessão. Temos filhos que já ajudam nas atividades e outros ainda pequenos. Precisamos mantê-los motivados e inseridos em todo o processo na propriedade", destaca. 

Outro aspecto destacado por Sara é a evolução da posição da mulher no agronegócio. "Existia o tabu de que a mulher tinha que cuidar da casa e dos filhos. O curso reafirmou que precisamos participar junto com o marido, no trabalho do dia a dia do que está acontecendo na propriedade", enfatiza. 

Valmir Antonini, marido de Sara, relata que, desde o primeiro dia do curso, notou uma mudança significativa no envolvimento da esposa com as atividades agrícolas. “A interação, apoio e capacitação são sempre bem-vindos, especialmente quando se tem uma esposa ao lado oferecendo suporte nas atividades. Trocar informações é essencial, pois pode contribuir para esclarecer caminhos em determinados assuntos.” 

Recentemente, Valmir participou do processo de sucessão na propriedade, sendo um dos filhos que assumiu a responsabilidade que antes era do seu pai. Atualmente, ele está envolvido na preparação dos filhos para que possam assumir um papel ativo no futuro da propriedade.

Um programa exclusivo da Coamo

O curso “Mulheres que Semeiam”, faz parte do Programa Coamo + Mulher e formou nove turmas desde o seu lançamento, em 2022. Foram impactadas um total de 457 mulheres de Campo Mourão, Guarapuava, Toledo, Ivaiporã e Coronel Vivida, no Paraná; Amambai, Maracaju e Dourados, do Mato Grosso do Sul; e Abelardo Luz, de Santa Catarina. É realizado pela Coamo em parceria com a consultora e palestrante em sucessão e governança familiar no agronegócio, Mariely Biff. 

Ela conta que semear um legado, por vezes, é uma missão árdua. “O intervalo entre nossa herança e nosso legado é curto. Recebemos muitas coisas dos que vieram antes de nós, e temos a responsabilidade de deixar para os que vieram depois. Patrimônio pode se dissolver em um estalar de dedos. Dinheiro pode trazer confl itos irreparáveis. O que podemos transferir ao longo da vida para fazer diferença aos nossos é conhecimento. Experiências. Aprendizados. Ensinar o caminho com amor e tolerância. A geração mais nova ainda não está no nosso patamar. Precisa de tempo, vai errar muitas vezes, como nós também erramos. Mas aprende fácil quando ensinamos”, diz.

Segundo ela, semear um legado depende de transferir o que se sabe, de cultivar constantemente a harmonia entre família e negócio, de alinhar expectativas e de colocar à mesa para conversar, sempre. “O diálogo não é a chave de tudo. Ele depende da compreensão do outro lado. Mas, sem ele não há possibilidade de avançar. Desejo que este projeto seja uma sementinha ‘semeada’ para todas as mulheres que participaram ao longo destas nove turmas, gerando muitos frutos na família, negócio e sociedade. Nós temos um papel muito importante de multiplicação. Que todas saibam usar com coerência, ensinando humildemente o que sabem e colaborando para um setor mais forte, unido e profissionalizado.” 

Ela observa que as mulheres estão conquistando espaço, impulsionadas tanto por necessidades práticas quanto por mudanças culturais. “As contribuições femininas não se limitam apenas ao processo de sucessão, mas também se estendem à gestão das propriedades, onde as mulheres desempenham um papel crucial na organização de pessoas, utilizando sua sensibilidade. É evidente um entusiasmo crescente entre as mulheres, que estão abrindo caminhos e ampliando suas vozes no setor agropecuário e nos negócios familiares”, comenta. 

Conforme Mariely, para liderar, as mulheres precisam compreender melhor a si mesmas, identificar os pontos fortes de cada colaborador e ter um conhecimento profundo de suas habilidades para aprimorá-las. “Toda bagagem pessoal reflete diretamente no negócio, visto que tudo está interligado, e o conhecimento absorvido impacta significativamente no ambiente em que estamos inseridos.”

Mariely Biff, consultora e palestrante em sucessão e governança familiar no agronegócio

"Ninguém constrói um negócio para morrer na geração do fundador."

"Não é o tamanho da propriedade que fará com que ela seja ou não continuada: é a maturidade da família e o grau de profi ssionalização da gestão."

"A preparação e a inclusão dos sucessores devem acontecer desde muito cedo. Vínculos são criados pela emoção e não pela razão."

Mariely Biff, consultora e palestrante em sucessão e governança familiar no agronegócio

José Ricardo Pedron Romani, assessor de Cooperativismo da Coamo

Ainda segundo ela, no contexto da sucessão, as mulheres desempenham um papel de intermediação entre as gerações. “Em situações em que o diálogo é desafiador, elas conseguem atuar como mediadoras, graças à habilidade de abordar questões de forma sutil e identificar os melhores momentos para isso. As mulheres possuem um potencial significativo não apenas para discutir questões de sucessão à mesa, mas também para ter uma visão e uma preocupação em profissionalizar o negócio, garantindo sua continuidade. Este papel desempenhado pelas mulheres não apenas beneficia a atividade em si, mas também contribui para a harmonia geral da família. É uma função fundamental que agrega valor não apenas aos negócios, mas também à qualidade de vida da família como um todo.” 

O assessor de Cooperativismo da Coamo, José Ricardo Pedron Romani, explica que o objetivo do curso personalizado é olhar para o público feminino, uma vez que elas possuíam interesse maior em estar mais próximas da propriedade rural, da administração, da gestão, do planejamento e por vários motivos, de alguma maneira faltava essa ajuda profissional a elas, de capacitação profissional. “Baseado em muita conversa, pesquisa e solicitações de nossas cooperadas, esposas e filhas de cooperados, buscamos formatar um curso em que abrangesse planejamento, gestão, capacitação, sucessão familiar, comunicação e junto com a Marielly Biff que é especialista nesse ramo, criamos esse curso personalizado.” 

José Ricardo revela que o público feminino tem aumentado muito dentro da cooperativa. “A nossa média de mulheres dentro da cooperativa é de 14%, em torno de 4.000 mulheres. Mas nos últimos dois anos, o índice de admissão do público feminino, foi muito maior do que 30%. Isso corrobora, para mostrar que realmente a mulher está cada vez mais presente e assumindo o papel da administração da propriedade junto com o esposo e filhos. Por isso, precisamos prepará-las e profissionalizá-las.”

MULHERES QUE SEMEIAM

ASSUNTOS APRESENTADOS

No primeiro encontro, são discutidas as empresas familiares no Brasil e seus desafios. Também é falado sobre a necessidade de equilibrar família e negócio e a importância de entender sobre a atividade, mesmo não sendo sucessor e sobre os cenários para continuidade antes de começar a estruturar qualquer ferramenta de governança. Que hierarquia da família é uma e a hierarquia do negócio é outra. Entender de pessoas para que elas alcancem os objetivos do negócio.

O segundo módulo aborda sobre os conflitos que existem na família e negócio, suas causas e como mitigar os riscos. São tratados também sobre comunicação na família e no negócio, com ênfase na CNV (Comunicação Não-Violenta). É realizada a parte introdutória da governança familiar e a necessidade de profissionalizar ao passo que as gerações vão se inserindo no negócio.
No terceiro encontro é trabalhado sobre autoconhecimento e gestão do tempo. Esta temática inicial se faz muito importante, pois para liderar, preciso me conhecer primeiro. Depois é abordada a liderança do futuro, da gestão de pessoas e de como preparar os filhos e netos para assumirem os negócios no futuro.

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