Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 451 | Setembro de 2015 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“AGRICULTURA CRESCEU COM TECNOLOGIA E PROFISSIONALIZAÇÃO”

A COAMO É ORGULHO NÃO SÓ PARA O POVO DO PARANÁ, COMO TAMBÉM PARA O BRASIL.” NORBERTO ORTIGARA, SECRETÁRIO DA AGRICULTURA DO PARANÁ

A tomada de consciência, com uso de técnicas mais racionais como o plantio direto na palha e o avanço da genética, estancaram a perda de solos e propiciaram avanços importantes de produtividade na agricultura. A conclusão é do secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), Norberto Anacleto Ortigara.

Filho de agricultor, que ensinou muitas lições aos 13 filhos também agricultores, Ortigara é técnico agrícola e economista, com especialização em Economia Rural e Gestão Pública em Segurança Alimentar. “Com bagagem como técnico, idealizador e administrador, fui convidado, em 2005 pelo prefeito Beto Richa, para ser secretário municipal de Abastecimento, depois em 2011, assumi a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná. Como secretário, conheci todo o Estado e as necessidades, além das boas experiências de quem produz as riquezas do nosso Estado” afirma Ortigara, que se orgulha em dizer: “Sou gaúcho, mas sou paranaense também, pois o Paraná abriu as portas para eu viver e ser feliz”.

REVISTA COAMO: Como o Senhor analisa a evolução da agricultura ao longo das últimas décadas?

Norberto Anacleto Ortigara: Houve um fantástico crescimento da produtividade, resultante de melhores materiais genéticos empregados, da introdução e disseminação do Sistema de Plantio Direto com Qualidade e da maior capacitação dos agentes, especialmente dos produtores. Isso permitiu um excepcional crescimento da produção brasileira e paranaense. 

RC: Quais são os marcos na agricultura paranaense?

Ortigara: Do antigo “mar de café” dos anos 60/75, passamos para introdução de cereais e oleaginosas em larga escala, com mecanização intensiva, geradora de expressiva perda da fertilidade dos solos pela erosão. Esse fato combinado com a inflação desenfreada endividou os agricultores e quase quebrou meio mundo. A tomada de consciência, com uso de técnicas mais racionais como o plantio direto na palha – SPD, o avanço da genética, inclusive com a introdução de OGMs estancaram a perda de solos e propiciaram avanços importantes da produtividade, inclusive nas pequenas propriedades. A ampliação do cultivo de soja e de milho permitiram a colheita de safras recordes, ano após ano. A maior diversificação das alternativas de produção combinada com a redução de custos unitários pelo avanço da produtividade levaram à redução de riscos e a ganhos financeiros, mesmo no cenário de queda de preços internacionais. A maior presença do cooperativismo capitalizado, investindo em apoio técnico, pesquisa, armazenagem e processamento da produção, conferiu maior estabilidade ao campo, mesmo no difícil ambiente econômico do Brasil. 

RC: Quais são os gargalos enfrentados pelos agricultores?

Ortigara: Entre os vários problemas que afetam o desempenho e a rentabilidade da agricultura certamente tem destaque o custo do transporte, especialmente pela concentração no modal rodoviário, agravado pelo abusivo custo do pedágio, a partir de 1998. O agricultor paranaense gasta duas vezes a mais que os concorrentes argentinos para colocar a mesma saca de soja no porão do navio. Além disso, ranços ideológicos retardaram em demasia a modernização dos portos, desde a simples dragagem dos canais de acesso até os berços de atracação, além de impedir a atração de novos investimentos.

RC: Como está o processo de liberação do Paraná para obter o status de área livre de vacinação da febre aftosa?

Ortigara: Houve um crescimento da consciência coletiva quanto à importância da conquista de avanço do status sanitário. O Brasil está cercado por áreas/ zonas/países livres da enfermidade. Não há evidências da circulação viral nas Américas nos últimos três anos e meio. Não há ocorrências clínicas no Paraná desde 2005. O Estado está investindo para obter o reconhecimento internacional como área livre da enfermidade sem o uso da vacina. Novos servidores foram contratados pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) novas barreiras físicas foram instaladas para aumentar a vigilância ativa. É bem provável que em maio de 2016 seja efetuada a última vacinação do rebanho. A declaração pela OIE (Organização Mundial da Saúde Animal)pode ocorrer em maio de 2017.

RC: Quais são os impactos da mudança, se o Paraná for reconhecido como área livre de vacinação de febre aftosa?

Ortigara: Muitos mercados não admitem a importação de carnes, mesmo de frango, de países que ainda praticam a vacinação contra a febre aftosa. A análise de custo-benefício da suspensão da vacinação indica a possibilidade de ganho econômico expressivo, com elevada taxa de retorno. Entretanto, a simples eliminação da vacinação não assegura nada. É preciso demonstrar competência comercial, estabelecer parcerias, ter alta qualidade de produto e regularidade de oferta para conquistar e manter novos mercados, especialmente aqueles mais exigentes, que pagam mais pela mesma carne como Japão, Coréia do Sul, EUA, etc. 

RC: Como o senhor analisa a safra de grãos 2015/16?

Ortigara:  Há uma racionalidade econômica na decisão dos agricultores. A decisão de plantar mais soja, em detrimento de milho e feijão, segue a lógica de procurar obter mais rentabilidade. Porém, do ponto de vista agronômico e de risco, a decisão não parece ser a mais adequada. Seria desejável que o agricultor realizasse mais rotação de culturas e a redução da exposição a riscos climáticos, de pragas e doenças.  De qualquer forma, mesmo num ambiente econômico conturbado, a produção de grãos deve crescer no Paraná. 

RC: O cooperativismo recebe mais de 50% da produção do Paraná. Qual é a importância do movimento?

Ortigara: Os números do cooperativismo paranaense são expressivos e eloquentes. As cooperativas têm grande presença no fomento, no recebimento, no processamento e na agregação de valor à produção. Geram milhares de oportunidades no meio rural, nas cidades, com forte presença técnica na qualificação dos produtores e no processamento agroindustrial. Tem fundamental presença no abastecimento brasileiro e nas exportações, com expressiva geração de divisas e receitas decorrentes de impostos.

RC: Qual sua mensagem aos cooperados da Coamo?

Ortigara: Externo o respeito e admiração pelos agricultores do Estado, e de forma particular aos cooperados da Coamo, que ajudaram na construção dessa grandiosa cooperativa, orgulho não só para o povo do Paraná, como também para o Brasil. Parabenizo os cooperados pela dedicação, ousadia e incansável trabalho, que produz alimento, gera emprego, renda e desenvolvimento. Tenho certeza que o Paraná e o Brasil continuarão contando com a coragem e determinação dos agricultores no enfrentamento das dificuldades econômicas, pois só com muito trabalho e produção avançaremos.

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