Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 453 | Novembro de 2015 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“CRISE E OPORTUNIDADE ANDAM JUNTAS”

Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), é o entrevistado do mês. À frente da entidade desde 2011, ele fala sobre a atuação da Fiep e o cenário atual da indústria paranaense e brasileira, e os desafios dos industriários para os próximos anos. “Geralmente, crise e oportunidade andam juntas. Apesar de todas as dificuldades que trazem, os momentos de crise podem, também, forçar o empresário a sair da zona de conforto e buscar alternativas para manter os negócios.”

PERFIL


Foi eleito em 2011 para comandar a Federação das Indústrias do Estado do Paraná e reeleito em 2015 para mais um mandato de quatro anos. É também vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Preside, ainda, o Conselho Deliberativo do Sebrae Paraná e coordena o G7, grupo que reúne as principais entidades representativas do setor produtivo paranaense. Nascido em Francisco Beltrão, faz parte do conselho da indústria de confecção Logic/Rocamp, que fundou em 1990, em Capanema (Sudoeste do Paraná) em sociedade com a esposa, Sueli Roveda Campagnolo. O casal tem dois filhos, Matheus e Thiago, que hoje atuam em distintas funções na administração da empresa. Em sua vida empresarial, sempre teve envolvimento com o associativismo, tendo presidido a Associação Comercial e Empresarial de Capanema, a Coordenadoria das Associações Empresariais do Sudoeste do Paraná e o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do Paraná (Sinvespar). Antes de assumir a presidência da Fiep, ocupou o cargo de vice-presidente da entidade por dois mandatos.

Revista Coamo: Qual é a missão e o trabalho da Fiep? 

Edson Campagnolo: O Sistema Fiep é uma organização composta pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná), Sesi (Serviço Social da Indústria), Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi). Essas quatro instituições que formam o Sistema Fiep trabalham de forma integrada com foco no desenvolvimento industrial e sua representatividade para promover a educação, o crescimento sustentável e a melhoria de vida das pessoas. Criada em agosto de 1944, a Fiep coordena, protege e representa legalmente o setor industrial no Estado. Ela é resultado da associação de sindicatos empresariais. Atualmente, são 109 sindicatos filiados que defendem os interesses de 50 mil estabelecimentos industriais, de 32 segmentos que geram 870 mil empregos no Paraná. O PIB Industrial do Paraná é o quinto maior do país – atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

RC: Quais as conquistas mais importantes que o senhor aponta nos últimos anos como resultado da atuação da Fiep?

Campagnolo: Além de uma reestruturação interna, com uma maior integração nas ações da Fiep, Sesi, Senai e IEL, a atuação do Sistema Fiep nos últimos anos foi marcada por uma forte articulação político-institucional em defesa dos interesses da indústria. Além disso, o Sistema Fiep vem fortalecendo sua estrutura para ampliar a oferta de serviços voltados para o desenvolvimento da indústria paranaense. No total, foram R$ 225 milhões em investimentos nos últimos quatro anos. Na área de educação, que vai desde ensino médio até a pós-graduação, passando pela capacitação profissional e educação continuada, registramos nesse período 2,5 milhões de matrículas em todas as ações do Sistema Fiep. Além de todos esses números, uma das ações mais intensas nos últimos anos talvez, tenha sido a interiorização das ações da Fiep. A Federação sempre teve participação em todas as regiões do Estado, com 53 unidades. Mas, durante nossa primeira gestão, priorizamos uma participação mais efetiva no interior. Uma ação de aproximação, buscando a união do setor produtivo.

RC: Como o senhor avalia o cenário atual das indústrias paranaense e brasileira? 

Campagnolo: O Brasil passa por um momento extremamente delicado. O Paraná não é uma ilha e sofre as mesmas consequências do restante do país. Temos um cenário político extremamente nebuloso, que acaba influenciando diretamente na economia. Essas incertezas sobre os rumos do país são prejudiciais para o ambiente de negócios. E a indústria é o segmento econômico que mais sente os reflexos diretos dessa situação. Com a economia praticamente parada, as empresas veem seus mercados estagnados. A consequência desse cenário é, em um primeiro momento, a redução ou até paralisação dos investimentos. Esse é um movimento extremamente nocivo, não apenas para o setor industrial, mas para toda a economia paranaense e brasileira.

RC: Quais os principais gargalos que mais prejudicam o setor, levando em consideração a importância do Estado do Paraná na área industrial brasileira? 

Campagnolo: Questões como a simplificação e redução da carga tributária, modernização das relações trabalhistas e melhorias nas áreas de infraestrutura e educação sempre estão no topo da lista. Para superar esses e outros obstáculos e garantir desenvolvimento em longo prazo, não são suficientes medidas pontuais. Lamentavelmente, enquanto registrava crescimento em sua economia, o Brasil não fez o dever de casa. Temos um enorme potencial, mas não temos um ambiente propício para o empreendedorismo e os negócios, o que vem comprometendo a competitividade dos produtos e das empresas brasileiras. O que precisamos são reformas estruturantes e políticas de longo prazo, que possibilitem ao setor produtivo brasileiro competir em igualdade de condições com qualquer nação do mundo. Precisamos que as forças políticas – tanto o Poder Executivo quanto o Legislativo – encarem com seriedade as discussões sobre uma verdadeira transformação em questões como as políticas Tributária e Fiscal, Trabalhista e Previdenciária, entre outras. E, principalmente, uma ampla reformulação no sistema político brasileiro, que está esgotado.

RC: Quais os caminhos para o crescimento sustentável da indústria paranaense, observando-se fatores para maiores produtividades e qualidade?

Campagnolo: Em relação a todos os fatores externos às empresas, que dependem de decisões políticas, é necessário que os industriais estejam unidos para cobrar de nossos representantes que coloquem o compromisso com o país acima de interesses políticos e partidários. Já dentro das empresas, os empreendedores devem buscar soluções para, entre outras coisas, aprimorar sua gestão, seus processos produtivos e aumentar a capacitação de seus colaboradores. Para tudo isso, podem contar com o suporte do Sistema Fiep, que por meio de Sesi, Senai e IEL oferecem uma série de serviços e consultorias em áreas como educação profissional e executiva, segurança e saúde no trabalho, tecnologia, inovação e meio ambiente, entre tantas outras.

RC: Como dirigente de uma importante instituição, para quais desafios os industriários devem estar preparados para enfrentar nos próximos anos? 

Campagnolo: Geralmente, crise e oportunidade andam juntas. Apesar de todas as dificuldades que trazem, os momentos de crise podem, também, forçar o empresário a sair da zona de conforto e buscar alternativas para manter seus negócios. A necessidade de otimizar os recursos disponíveis pode, por exemplo, levar a mudanças no processo produtivo que tragam mais agilidade e menores custos. Além disso, ele talvez seja forçado a buscar novos mercados para seus produtos, o que pode abrir possibilidades bastante interessantes para as empresas. O importante é que ele não perca a esperança, mantenha-se atento às oportunidades e não deixe o otimismo de lado.

RC: As cooperativas têm investido em agroindústrias nas últimas décadas. Qual a importância do cooperativismo para o desenvolvimento da indústria no Paraná?

Campagnolo: O setor de alimentos e bebidas é o mais representativo da indústria paranaense. Hoje, esse segmento responde por 27% das receitas líquidas de vendas industriais do Estado. Boa parte disso é fruto do trabalho das cooperativas, que perceberam a importância de agregar valor a sua produção apostando na industrialização. Esse segmento, pelos inúmeros investimentos feitos nos últimos anos e que continuam acontecendo, é o principal responsável por amenizar, no Paraná, os impactos da crise que vem afetando todo o país. As cooperativas paranaenses, por seu modelo de organização e gestão, sem dúvida alguma, são um importante motor para a economia e o desenvolvimento do Estado e um exemplo para o Brasil.

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