Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 454 | Dezembro de 2015 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“QUANDO O CAMPO VAI BEM, O COMÉRCIO VAI BEM”

“Verificamos que o comércio das regiões com forte tradição no agronegócio está se mantendo com mais firmeza, pois a relação da produção do campo com o varejo, serviços e turismo mantém um compasso alinhado.” Essas são as palavras do presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac/PR, Darci Piana. Segundo ele, o comércio vem sofrendo perdas em seu faturamento desde o ano passado, mas para os comerciantes 2015 foi o mais difícil. “O comércio varejista precisa ser impulsionado não somente pelas necessidades básicas, e sim pelo incentivo de preços justos, oriundos de negociações e tributações adequadas.” Confira a entrevista completa.

Revista Coamo: Qual é a missão e o trabalho do sistema Fecomércio?

Darci Piana: “Conduzir os processos de representatividade na defesa dos interesses e desenvolvimento do comércio de bens, serviços e turismo paranaense objetivando o fortalecimento do sistema”. O sistema Fecomércio/Sesc/Senac-PR é formado pela união de quatro entidades, inclusive o Instituto Fecomércio de Pesquisas e Desenvolvimento, que representa o comércio na integralidade de suas dimensões política, social e profissional. Sinônimo de luta e confiança, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR) congrega 61 sindicatos empresariais e representa 550 mil empresas do varejo paranaense. Tem a função de representar legalmente o empresariado junto aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, assim como perante a sociedade. O comércio, serviços e o turismo representam 69% do PIB do Paraná. E o PIB do estado representa 5,6% do PIB nacional, conforme dados do IBGE de 2014.

RC: Quais as conquistas mais importantes que o senhor aponta nos últimos anos como resultado da atuação na Fecomércio?

Piana: Posso dizer que o programa de ampliação da estrutura do Sesc e do Senac no Paraná é uma das metas de nossa gestão e já tem comprometido investimentos de R$ 162 milhões nos próximos dois exercícios, 2016 e 2017. As obras de construção, ampliação e melhoria nas nossas unidades estão espalhadas por todo o estado. As melhorias em infraestrutura também são significativas, assim como a oferta de cursos e programas de amplo alcance social promovidos em ambas as casas. Sem sombra de dúvidas, podemos afirmar que o Sesc e o Senac do Paraná vivem um momento de ampla expansão, levando qualificação profissional e qualidade de vida para a nossa população, mesmo neste momento difícil da economia brasileira. Ao final de 2017, Sesc e Senac terão, cada uma, mais de 40 unidades em todas as regiões do território paranaense.

RC: Como o senhor avalia o cenário atual do comércio paranaense e brasileiro?

Piana: O comércio vem sofrendo perdas em seu faturamento desde o ano passado, mas para os comerciantes 2015 foi o mais difícil. Exemplificando, na última Pesquisa Conjuntural da Fecomércio, os dois únicos setores que conseguiram algum destaque de janeiro a setembro foram os supermercados, livrarias e papelarias. Um deles é de necessidade básica, pois a Fecomércio mede somente os bens de consumo não duráveis; hipermercados, que vendem eletrodomésticos, não são medidos no estudo. O outro setor, as livrarias e papelarias, estão conseguindo crescer em meio à crise devido à crescente venda de livros para adolescentes e à febre dos livros de colorir para adultos, que acabam impulsionando vendas de outros produtos ligados a esse. O comércio varejista precisa ser impulsionado não somente pelas necessidades básicas, e sim pelo incentivo de preços justos, oriundos de negociações e tributações adequadas. 

RC: Quais os principais gargalos que mais prejudicam o setor?

Piana: A conjuntura econômica vigente, mais as perspectivas restritivas para os próximos meses, constituem fatores limitantes para o comércio, a indústria e o consumidor. Dentre as variáveis conjunturais que se destacam atualmente nesse contexto de dificuldades, podem ser destacados os juros crescentes, inflação ascendente, carga tributária elevada, aumento no custo das mercadorias, clientes descapitalizados, falta de incentivo governamental com investimentos públicos inexistentes ou abaixo do necessário, aceleração dos preços administrados pelo governo tais como energia elétrica, água e saneamento, telecomunicações. A tudo isso se soma a crise política, que emperra o país. Já se prevê que a economia só retomará plenamente seu crescimento em 2019, o que é uma perspectiva bastante sombria.

RC: Quais os caminhos para o crescimento do comércio paranaense, observando-se fatores para maiores produtividades e qualidade?

Piana: O setor produtivo é o responsável pelo crescimento do país e o governo precisa reconhecer e cooperar conosco, reduzindo e simplificando tributos, melhorando linhas de crédito para novos investimentos. Se ao menos nada fizer, que se abstenha de complicar ainda mais a vida do empresário, pois é que o vem fazendo continuamente, e ainda de maneira pouco criativa, como a tentativa de ressuscitar a CPMF, a unificação do PIS e Cofins, bem como as constantes elevações do ICMS, ou seja, o repetitivo e pouco eficiente recurso de aumentar impostos para elevar a arrecadação. Mas os empresários e empreendedores, sejam eles do campo ou da cidade, não estão sozinhos. Entidades representativas de classe como a Fecomércio, na área do comércio de bens, serviços e turismo, possuem o papel de defender os interesses de quem produz. Em momentos de crise como este, as empresas precisam colocar a criatividade em prática, inovar. Não basta contemplar a crise de maneira passiva ou à espera de uma solução fácil. Crise é um desafio, que estimula a vontade de superá-la para voltar a prosperar. 

RC: Como dirigente de uma importante instituição, para quais desafios os comerciários devem estar preparados para enfrentar nos próximos anos?

Piana: A conjuntura política e econômica do país não dá sinais de que poderá apresentar melhora em breve. Não dá para esperar toda essa questão se resolver sozinha, pois não irá. Os trabalhadores precisam investir na sua qualificação, aprimorar-se e buscar soluções e sugestões para levar às suas empresas. Aos empresários, cabe a tarefa de focar na qualidade dos produtos ou serviços prestados, otimizar processos e valorizar seus funcionários, com olhos fixos em seus clientes, pois são eles quem realmente decidem e fazem o sucesso de um negócio.

RC: Neste fim de ano, a Coamo anuncia distribuição de sobra aos cooperados que estimulam e aquece o comércio em dezenas de cidades. Como o senhor vê esse benefício para o desenvolvimento do comércio?

Piana: O Paraná é um estado essencialmente agrícola, o que tem sustentado nosso patamar de crescimento frente a outros estados. Verificamos que o comércio das regiões com forte tradição no agronegócio está se mantendo com mais firmeza, pois a relação da produção do campo com o varejo, serviços e turismo mantém um compasso alinhado. Quando o campo vai bem, o comércio vai bem. Por isso, quando a Coamo, uma cooperativa que reúne milhares de produtores e emprega tantas pessoas, anuncia a distribuição de sobras do exercício a seus cooperados, é uma injeção de ânimo para os comerciantes e estimula o comércio neste fim de ano. 

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