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Engenheiro agrônomo Osvaldo Vasconcellos Vieira, Chefe-Geral da Embrapa Trigo é formado em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo (1986), com especialização em Marketing para Gestão Empresarial (UFSC), MBA em Marketing Executivo (FGV), Mestrado em Agronomia (UFRGS) e Doutorado em Agronomia (UFPR). Ingressou na Embrapa Soja no ano de 1997, na área de marketing e transferência de tecnologia, retornando para Passo Fundo em 2006 como Chefe Adjunto de Comunicação e Negócios da Embrapa Trigo e Chefe-Geral da Embrapa Trigo em 2017. Antes da atuação na pesquisa, foi professor universitário na Ulbra, UPF e Unijuí, além das escolas agrotécnicas de Sertão (RS) e Rio do Sul (SC). |
Os cereais de inverno, em especial o trigo, são fatores determinantes para a otimização do uso neste período no sentido da sustentabilidade socioeconômica da propriedade agrícola. Vislumbramos que a cultura do trigo está no DNA do produtor, que tem tecnologias para alcançar altas produções.” A conclusão é do engenheiro agrônomo Osvaldo Vasconcellos Vieira, Chefe-Geral da Embrapa Trigo, na entrevista deste mês na Revista Coamo.
Revista Coamo: Dentro do sistema produtivo, como o senhor avalia a importância do trigo?
Osvaldo Vasconcellos Vieira: O trigo está envolvido nas mais diversas cadeias produtivas sobretudo no setor de alimentos, onde se insere como matéria prima para farinhas, biscoitos e massas, além de ração animal. A história do trigo no Brasil nasceu no século 16, junto com a sua colonização. O trigo está inserido no sistema produtivo agrícola do Brasil desde o seu descobrimento. Traz vantagens para a cadeia produtiva e para o produtor, pois possibilita a melhora química, biológica e física do solo pelo aumento do teor de matéria orgânica, aporte dos resíduos vegetais, sistema diferenciado de raízes, penetração e descompactação biológica do solo, além de contribuir para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas. O trigo ainda otimiza o uso de mão de obra e máquinas da propriedade.
RC: O mercado para o trigo brasileiro por muitos anos enfrentou muitas barreiras. Como está essa questão?
Vieira: O cultivo do trigo passa por um momento desafiador, em que os estoques mundiais encontram-se elevados, pois sucessivas safras de produção acima da demanda fizeram com que os estoques mundiais crescessem, reduzindo os preços mundiais. A Rússia superou os Estados Unidos na exportação do trigo, fato que deve incentivar a repetição, nesse ano, da redução de área norte americana e aumento da russa. A Argentina deverá apresentar um crescimento de 24% de área devido as políticas de incentivo do presidente Mauricio Macri. O que devemos sempre olhar neste cenário é que, segundo o USDA, o Brasil, China, Japão, México, Paquistão e o Norte da África, principalmente Egito, são os maiores importadores deste cereal - representam mais de 50% das importações no mundo. O que vislumbramos é que a cultura do trigo está no DNA do produtor, que tem disponível todas as tecnologias para altas produções. As barreiras que existem são muito mais comerciais do que técnicas e os produtores por meio de suas cooperativas estão buscando soluções como a contração por meio das indústrias alimentícias de farinhas específicas para diversos mercados (biscoitos, pães congelados, pães integrais e massas). Outra pauta que tem sido desenvolvida pela Embrapa Trigo e a Federação das Cooperativas do Rio Grande do Sul é a do trigo para exportação. Somente em 2017 mais de 300 mil toneladas de trigo foram exportadas para a Coréia do Sul, Vietnã e Indonésia. A perspectiva é de que aproximadamente 1 milhão de toneladas sigam este caminho em 2017 abrindo novos mercados para o trigo Brasileiro. Num primeiro momento parece contraditório sermos um grande importador exportarmos trigo, mas temos que buscar soluções para a cadeia produtiva, pois este é um caminho que se abriu para os produtores.
RC: O senhor acredita que a evolução na qualidade do trigo nacional está tornando essa commoditie mais competitiva com o mercado externo?
Vieira: Trigo de qualidade é aquele que atende aos requisitos físicos, químicos e reológicos necessários à produção de acordo com as expectativas dos consumidores. Os Estados Unidos e o Canadá têm a fama de produzirem o melhor trigo do mundo. Estes países, em primeiro lugar, seguem à risca as aptidões climáticas de cada região de semeadura e contam com excelente estrutura de transporte, segregação e armazenagem dos diferentes tipos de trigo, além de executarem análises de laboratório antes e após a colheita, permitindo o conhecimento da real qualidade da safra de cada ano. Acredito que o nosso trigo sofreu uma grande evolução, tanto em termos de produtividade, como em termos de qualidade. Isso ocorreu devido a uma corrente entre a pesquisa, indústria, assistência técnica, obtentores e produtores. Existem no Brasil regiões que produzem trigos de excelente qualidade, equivalente a qualquer tipo de trigo produzido nos Estados Unidos e Canadá. É claro que temos ainda muito para evoluir, mas é isso que nos move, o desafio.
RC: Para alavancar a produção e viabilizar a comercialização do trigo, a Coamo construiu um novo e moderno moinho de trigo. O senhor acredita que é esse o caminho para as cooperativas?
Vieira: A Coamo é uma cooperativa de vanguarda. Não é à toa que é uma das maiores cooperativa agrícola do mundo. Isso se deve à visão e determinação da diretoria e o comprometimento de todos os empregados e associados que estão imbuídos na missão e valores da Empresa. Nesse processo virtuoso, a Coamo vislumbrou que a verticalização da produção poderia agregar valor à sua imensa produção de grãos e fibras. Sem dúvidas, o produtor/associado é o maior beneficiado, pois desta forma a liquidez do seu produto está garantida antes mesmo da semeadura. Observo que as cooperativas que possuem moinhos modernos como este da Coamo, viabilizam a produção de trigo trazendo tranquilidade para o produtor na hora da venda, gerando renda para o produtor e movimentando a economia local.
RC: Quais os avanços no desenvolvimento de variedades de trigo adaptadas para cada região?
Vieira: O melhoramento de trigo iniciou-se no Brasil em 1919 em Veranópolis/RS e em Ponta Grossa/PR. As principais contribuições do melhoramento genético de trigo no Brasil foram além do rendimento de grãos (que triplicou nas últimas décadas). O melhoramento gerou cultivares com tolerância à acidez do solo, resistência às principais doenças e qualidade tecnológica de grãos para diferentes usos. O tipo de planta também mudou muito desde o início do século passado: atualmente as cultivares apresentam estatura baixa, ciclo precoce, folhas mais eretas e maior tolerância ao acamamento. Nós da Embrapa Trigo geramos mais de 200 cultivares, sempre acompanhando as demandas do mercado e as necessidades do produtor.
RC: A safra de verão brasileira já está consolidada. O desafio para os agricultores ainda está na cultura de inverno. Quais as opções para o homem do campo garantir ao inverno o mesmo status do verão?
Vieira: Vejo que no Brasil a cultura do trigo sempre foi marcada por fortes oscilações em área semeada, volume e valor da produção. Vários estudiosos da cultura afirmam que estas variações são resultado de uma série de fatores condicionantes: condicionantes físicos, como alterações no regime climático anual; condicionantes comerciais, como custos de produção e conjuntura de preços do trigo nos mercados internos e externo; condicionantes institucionais, como políticas públicas capazes de fornecer garantias antecipadas à produção; entre outros elementos. Observando esses condicionantes, a Embrapa Trigo e a Embrapa Gestão Territorial estão realizando um importante estudo, com diferentes cenários, que mostram uma ampla possibilidade de atuação regionalizada para as instituições envolvidas com a triticultura, aumentando a eficiência dessas ações e permitindo status semelhante às culturas de verão.
RC: A Coamo sempre esteve preocupada com o desenvolvimento tecnológico dos seus cooperados, e realiza há dez anos o Encontro de Inverno, na sua Fazenda Experimental. Como avalia esse contato da pesquisa com o homem do campo?
Vieira: A pesquisa precisa estar alinhada com as necessidades, inquietações e demandas do campo. A prospecção destas demandas sem dúvida alguma são obtidas neste contato nos diversos eventos. O Encontro de Inverno e também de Verão da Fazenda Experimental da Coamo nos permite algo extremamente salutar que é o contato com produtores, técnicos e colegas da pesquisa, bem como formadores de opinião de diversas regiões do Brasil. A Coamo tem uma região muito extensa de atuação, contando com produtores de excelência nos diversos locais. Este intercâmbio de informações, dúvidas e questionamentos nos desafia a gerar pesquisas que busquem soluções tecnológicas aos nossos clientes. Neste sentido, é possível gerar um ciclo virtuoso onde a agricultura brasileira é a grande beneficiada.
RC: Diante dos entraves políticos e econômicos, o agricultor muitas vezes se sente desanimado para plantar o trigo. Que mensagem o senhor deixa aos triticultores?
Vieira: Acredito que o produtor tem de visualizar a sua propriedade agrícola como um grande sistema produtivo onde o solo, o manejo, a conservação, as práticas culturais, o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas além das culturas como a soja, trigo, milho, pastagens, gado, algodão, arroz, feijão, entre outros, compõem este sistema. Algumas premissas são fundamentais para o sucesso de suas operações agrícolas e a assistência técnica, o sistema cooperativo e a pesquisa têm papel fundamental neste processo. Vejam que todos os campeões de produtividade de soja tinham excepcional solo e a soja era cultivada num sistema de rotação de culturas onde cereais de inverno faziam parte deste sistema. É isso que acreditamos e é isso que tem nos mostrado resultados promissores.
RC: Como o senhor define a importância do cooperativismo e sua atuação em prol de milhares de cooperados?
Vieira: Esta questão me levou a buscar informações sobre o cooperativismo e verifiquei que desde o surgimento da primeira Cooperativa formada por 28 tecelões na Inglaterra em 1844 estes sistemas geraram números que impressionam. São mais de 250 milhões de empregos no mundo, 1 bilhão de pessoas estão associados a algum sistema cooperativista. São 2,6 milhões de cooperativas no mundo. Se as 300 maiores cooperativas do mundo formassem um país eles seriam a 9ª economia. Há 3 vezes mais membros de cooperativas que acionistas de empresas privadas no Mundo. No Brasil há 7600 cooperativas com 7,6 milhões de membros. As cooperativas são responsáveis por 37,2% do Produto agrícola e 5,39% do Produto nacional bruto (2009). Estes números por si só dizem a força do cooperativismo e demonstram que é possível unir desenvolvimento econômico e desenvolvimento social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo.
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O trigo é um dos mais importantes produtos do mundo para o consumo humano |
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