Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 498 | Dezembro de 2019 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

"Seguro Agrícola, melhor ferramenta para redução de risco"

Luciano Calheiros, CEO da Swiss Re Corporate Solutions Brasil (SRCSB)

"No Brasil, o governo vem sinalizando e promovendo novas ações para fomentar o setor. Infelizmente essa é uma realidade não somente do nosso país, onde a maioria dos produtores rurais apenas contratam o seguro se este vem como parte de algum subsídio por parte do governo. Por isso, essas iniciativas podem impulsionar o mercado.” A afirmação é de Luciano Calheiros, CEO da Swiss Re Corporate Solutions Brasil (SRCSB) desde maio de 2017. Calheiros tem como missão administrar a joint venture entre a Swiss Re Corporate Solutions no Brasil e a carteira de grandes riscos da Bradesco Seguros. Formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), acumula mais de 20 anos de experiência no Brasil e no exterior, atuando em cargos executivos em seguradoras e corretoras de seguros. Antes de assumir a presidência da empresa, foi Diretor Comercial da seguradora suíça no País.

Revista Coamo: Qual a realidade atual do mercado de seguros no País e de modo especial no segmento Agronegócio?

Luciano Calheiros: O setor do agronegócio no Brasil vem crescendo constantemente nos últimos anos, independentemente de crises e ações econômicas. Porém, o setor está sempre sujeito à volatilidade do cenário de comércio mundial, e pode ser afetado de forma positiva ou negativa a depender dos acontecimentos, por exemplo, a guerra comercial entre China e EUA que pode ter impactos na performance do setor agrícola.

RC: Quais as perspectivas para 2020?

Calheiros: As perspectivas são as melhores. No Brasil, o governo vem sinalizando e promovendo novas ações para fomentar o setor. Infelizmente essa é uma realidade não somente do nosso país, onde a maioria dos produtores rurais apenas contratam o seguro se este vem como parte de algum subsídio por parte do governo. Por isso, essas iniciativas podem impulsionar o mercado. O número de players em seguros no segmento agrícola também aumentou muito nos últimos anos. Hoje temos seguradoras com históricos de longo prazo e outras seguradoras que entraram recentemente no mercado. Por isso, acreditamos que o próximo ano será chave para testarmos se todas estas promessas realmente conseguirão chegar ao campo e beneficiar o produtor rural. Se isto acontecer, posso dizer que o ano será muito positivo para o Seguro Agrícola no Brasil.

RC: Qual a preocupação da Swiss Re em relação ao crescimento sustentável da agropecuária no mundo e atuação da cadeia produtiva para evitar desembolsos em momentos indesejáveis na atividade?

Calheiros: Entendemos que a sustentabilidade se faz necessária para garantir ciclos de crescimento de longo prazo. Um produtor que segue boas práticas de manejo, corrige e conserva o solo, protege matas ciliares e florestas, não apenas entregará um mundo melhor para as próximas gerações – ele também produz mais e melhor. O risco de um produtor que faz rotação de cultura, realiza plantio direto, culturas consorciadas, etc., é menor do que aquele com visão “extrativista”. Estamos atentos à estas práticas de sustentabilidade no setor e buscamos incorporar as novas tecnologias desenvolvidas pela equipe de engenheiros agrônomos da Coamo em nossa política de aceitação de risco.  Um bom exemplo de como trabalhamos junto a nossos clientes para criar melhores soluções é a aceitação pioneira por parte da SRCSB da cultura milho safrinha consorciado com braquiária. Era algo que o setor de seguros não via com bons olhos, mas que começou a ser desenvolvido após uma visita de nossos Subscritores no Dia de Campo, organizado pela Coamo.

RC: As catástrofes climáticas e até mesmo os eventos menos drásticos podem afetar os resultados do agronegócio. Quais as ferramentas utilizadas pela Swiss Re para gestão de riscos e coberturas aos agricultores?

Calheiros: O objetivo da Swiss Re Corporate Solutions é apoiar o agricultor na mitigação de riscos. A apólice de seguros, por exemplo, pode ser um instrumento importante para viabilizar o crédito agrícola em muitos casos. A partir do momento que o produtor rural conta com a apólice de seguros - protegendo a sua cultura, seus equipamentos e rebanhos -, essa garantia é considerada pelos agentes financeiros um alavancador do crédito agrícola. Além disso, é possível contar com apoio técnico, muitas vezes dado por cooperativas como a Coamo, que apoiam o produtor na hora de fazer a sua produção agrícola e de escolher os seus insumos - isso também ajuda muito na mitigação de riscos e normalmente é analisado e acompanhado pela Swiss Re Corporate Solutions junto com a cooperativa. Outro meio, é a oferta de seguros personalizados (cobertura feitas sob medida). Buscamos incentivar os produtores a investir mais em tecnologia e boas práticas de manejo, porque entendemos que com esta abordagem, podemos dar mais segurança e viabilizar investimentos mais intensivos na lavoura e, com isto, ajudar a mitigar os efeitos de eventos climáticos adversos.

RC: Quais os tipos de seguros disponíveis para atender as diferentes necessidades dos agricultores para que eles possam produzir com tranquilidade e segurança?

Calheiros: A Swiss Re Corporate Solutions possui uma ampla gama de produtos direcionados ao segmento agrícola, nós oferecemos produtos para lavouras, para rebanhos em geral, produtos sob medida com base em índices climáticos, seguros para máquinas, equipamentos e benfeitorias. Em resumo, ajudamos os produtores rurais a mitigar riscos em diversas situações, sejam elas relacionadas ao clima e/ou a sua realidade, sejam produtos padronizados ou produtos personalizados.

RC: O presidente da Coamo e Credicoamo, José Aroldo Gallassini, defende e trabalha no sentido de que a adesão ao seguro deve ser uma prática natural e estar na cultura de todos. Qual a sua opinião?

Calheiros: O presidente da Coamo José Aroldo Gallassini é pioneiro em muitas iniciativas no setor e com o Seguro Agrícola não foi diferente. Sua visão vem se mostrando acertada ao longo dos anos e o mercado como um todo reconhece esta sua capacidade. A quebra de safra observada nos anos de 2004/05, 2008/09, 2011/12 foram importantes para ajudar a desenhar o formato de seguro mais adequado aos cooperados da Coamo e da Credicoamo. No ano passado, tivemos problemas climáticos com o milho safrinha (2017/18) e a soja (2018/19). Vários produtores sofreram perdas e foram indenizados pela nossa seguradora. A cooperativa, contudo, não foi afetada e os produtores tiveram condições de continuar suas atividades normalmente. Isto confirma tudo o que o Dr. Aroldo sempre falou sobre a importância do Seguro Agrícola como a melhor ferramenta de mitigação de risco. A estratégia pensada e implantada sobre este tema para a Coamo, no início dos anos 2000, hoje se mostra como sendo o melhor programa de seguros agrícolas do Brasil. Minha opinião é a de que os demais gestores do agronegócio, que vem sofrendo com clima, olhem um pouco para alguém que já passou por muitos eventos adversos e mesmo assim construiu a maior cooperativa agrícola da América Latina. Com relação à cultura de seguros dos brasileiros, já observamos mudanças positivas quando comparamos com o cenário de 10 anos atrás.

RC: Qual deve ser o papel do cooperativismo na difusão e conscientização junto aos seus associados para o uso cada vez mais efetivo dos seguros?

Calheiros: O cooperativismo é fundamental na disseminação do conhecimento e boas práticas agrícolas. Além disso, é um ótimo canal para negociação das condições de seguros para os produtores, pois consegue utilizar seu tamanho e posicionamento para desenhar melhores soluções para toda uma região, o que não é possível individualmente. Exemplo: neste ano, estamos ofertando a cobertura por perda de qualidade para a cultura do milho safrinha. Esta cobertura é oferecida apenas para o canal Credicoamo e foi negociada para todos os cooperados que aderirem ao seguro agrícola junto a SRCSB por meio da Via Sollus Corretora de Seguros, exclusivamente. No passado, fizemos o mesmo com a cobertura por perda de qualidade na cultura da soja (hoje já copiada pelo mercado). O cooperativismo reúne e organiza os produtores de forma a conseguir melhores condições para os mesmos.

RC: Como analisa o cooperativismo brasileiro e sua importância para o desenvolvimento do agronegócio do país?

Calheiros: Para regiões com produtores que possuam grandes extensões de terra, como no Centro-Oeste, o papel do cooperativismo talvez não fique tão aparente. Para regiões como Sul, onde os produtores tradicionalmente são menores e mais pulverizados, vemos como essencial para o desenvolvimento do agronegócio. Este é o melhor canal para fornecer insumos e capacitação técnica para os produtores, além de ser um ponto de referência para pesquisa e extensão rural. Não imagino uma agricultura forte sem a organização dos pequenos e médios produtores e, para isto, o Cooperativismo vem se mostrando como uma excelente alternativa.


Luciano Calheiros com o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini e o diretor-secretário Ricardo Accioly Calderari, em recente visita à cooperativa
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