Com mais de três décadas dedicadas à pesquisa e ao ensino, o engenheiro agrônomo Tadeu Takeyoshi Inoue é referência na área de solos e nutrição de plantas. Mestre e doutor pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde atua como professor nos cursos de graduação e pós-graduação, ele coordena o Grupo de Pesquisa em Solos (Gesso), desenvolvendo estudos voltados ao manejo da fertilidade do solo, aspectos nutricionais e fisiológicos das culturas da soja e do milho.
Ao longo de sua trajetória, construiu uma sólida parceria com a Coamo em projetos que vão da correção e conservação do solo à adoção de novas tecnologias no campo. Para ele, tudo se inicia com o manejo adequado do solo, pois sem isso a planta não consegue expressar seu potencial produtivo. Nesta entrevista à Revista Coamo, Inoue fala sobre a evolução da agricultura brasileira e os desafios da agricultura 5.0.
Revista Coamo: Os produtores brasileiros estão em qual estágio na atualidade, considerando a busca de conhecimentos e a prática das novas tecnologias? Qual a sua previsão sobre a atuação deles nos próximos anos? Tadeu Takeyoshi Inoue: A agricultura, de maneira geral, tem evoluído muito nas duas últimas décadas com avanços em todas as áreas do conhecimento, como o melhoramento genético, de máquinas e implementos, no manejo de solo e fitossanitário, entre outras, e os produtores têm buscado acompanhar esses avanços, porém nem sempre conseguem fazer uso das tecnologias na mesma velocidade em que elas estão sendo desenvolvidas. Acredito que com o aumento no acesso das ferramentas digitais ocorra uma melhoria no ganho de informações que possam levar mais conhecimento e adesão a essas tecnologias.
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Tadeu Takeyoshi Inoue é engenheiro agrônomo com mestrado e doutorado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ele começou a carreira acadêmica em 2000 na primeira turma da Faculdade Integrado de Campo Mourão, posteriormente em 2008 passou a integrar o quadro de professores efetivos da UEM, onde leciona nos cursos de graduação e pós-graduação em Agronomia na área Solos. É coordenador do Gesso (Grupo de Pesquisa em Solos) desenvolvendo pesquisas com foco no Manejo da fertilidade do solo, nutricional e fisiológico das culturas da soja e milho.
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RC: Vivemos a agricultura 5.0. O que deve ser feito para melhores resultados, considerando o potencial produtivo e o uso das tecnologias modernas? Tadeu: Passamos pela agricultura 4.0 cujo grande avanço foi na área de máquinas e implementos e hoje estamos na 5.0, a qual o foco é no uso da inteligência artificial e a automação cada vez maior das atividades nas propriedades. Vejo com bons olhos e sou muito otimista com tudo que está sendo feito. Porém, penso que temos um entrave muito grande para que realmente essas tecnologias cheguem e possam ser utilizadas em larga escala nas propriedades agrícolas, sendo um dos problemas mais básicos o acesso ao sinal de internet, a satélites para o funcionamento dos GPSs, necessários para que os dados possam ser captados e processados em tempo real. Além disso, o custo atual ao acesso e uso dessas ferramentas ainda é proibitivo para grande maioria dos produtores rurais que terão que atualizar seus maquinários e implementos para que possam receber todo o aparato eletrônico e serem automatizados, ou seja para que a agricultura 5.0 se torne uma realidade.
RC: Como percebe o trabalho da Coamo no sentido de promover o uso da tecnologia como forma sustentável às atividades e participação dos cooperados? Tadeu: A Coamo tem participado ativamente no fomento das novas tecnologias e nas formas de manejo mais simples, que não podemos deixar de lado, e até mesmo tem que ser realizadas antes da implementação da agricultura 5.0. Uma delas é a correção de solo, que apesar da importância nem todos os produtores realizam adequadamente, assim, em reuniões com técnicos e produtores são repassadas informações para a escolha do calcário e aplicação de doses necessárias. Além disso, a Coamo tem uma equipe de pessoas e todos os equipamentos para que esse manejo seja realizado, sendo um grande diferencial com relação a outras empresas. Nós da UEM temos participado de inúmeros eventos, discutindo os problemas que afligem as propriedades, as culturas e como esses podem ser corrigidos. Todas essas ações fazem com que os técnicos sejam capacitados e consigam repassar as informações para os produtores.

Tadeu Takeyoshi Inoue durante encontro com cooperados na Fazenda Experimental da Coamo
"DESAFIOS DA AGRICULTURA 5.0 INCLUEM ACESSO À TECNOLOGIA, CONECTIVIDADE NO CAMPO E MANEJO CORRETO DO SOLO"
RC: Como analisa os resultados dos trabalhos na sua área junto à Coamo? Quais trabalhos foram desenvolvidos em prol da pesquisa e da melhoria do ambiente produtivo? Tadeu: Desde os tempos de minha graduação na UEM que participo de atividades de pesquisa na Fazenda Experimental de Campo Mourão. Com o saudoso Prof. José de Deus Viana da Mata, tive a oportunidade em ajudar na coleta de dados que justificassem os benefícios no sistema de cultivo direto na estrutura do solo. Como professor e pesquisador, conduzimos trabalhos ligados ao manejo da fertilidade do solo, da eficiência da adubação nitrogenada com diferentes fertilizantes, doses e épocas de aplicação; na área da nutrição e fisiologia de plantas, o uso de reguladores de crescimento na melhoria da arquitetura das plantas e tolerâncias aos estresses ambientais, o uso do manejo nutricional complementar via foliar. Já se vão pelo menos 30 anos de parceria com a Coamo, onde conseguimos colaborar no desenvolvimento e implementação de diferentes manejos que ajudam os cooperados a manter suas atividades produtivas e rentáveis.
RC: O que está sendo desenvolvido na atualidade e quais os desafios pela frente? Tadeu: Temos alguns desafios para serem vencidos e para isso atualmente estamos com alguns projetos em andamento e outros ainda em fase de estudo. Pensando nas principais culturas que trabalho, que são a soja e milho, temos avançado em pesquisas em diferentes frentes, por exemplo o estudo de formulações de inoculantes com bactérias fixadoras de nitrogênio para uso diretamente no tratamento de sementes industrial na cultura da soja, possibilitando que os produtores já recebam as sementes inoculadas, e a melhoria na qualidade final dos grãos, seja pelo acúmulo de proteína na soja quanto amido no milho, através do manejo nutricional das culturas, podendo obter melhores valores de comercialização. Esses são apenas exemplos das pesquisas que desenvolvemos em conjunto com a Coamo, mas para vencer todos os desafios existentes e futuros precisamos sempre estar atentos aos acontecimentos e necessidades, buscando estar à frente dos problemas, prevenindo seus acontecimentos e não somente buscando soluções.
RC: Qual a importância desta relação entre o pesquisador e cooperado para a elevação das produtividades e conservação do solo? Tadeu: É gratificante ver que minha área está recebendo a importância devida. Se analisarmos, todas as áreas de conhecimento são relevantes, porém, se não realizarmos o melhor manejo de solo possível, a semente não conseguirá se desenvolver e formar uma planta com vigor e potencial produtivo. Ou seja, para que consigamos o sucesso na colheita tudo se inicia com o manejo adequado do solo. Assim, nós que trabalhamos com a pesquisa conseguimos desenvolver e validar formas de manejo que tragam benefícios para o cooperado. O Paraná merece destaque pelo grande sucesso de projetos ligados a conservação do solo, como o de microbacias e adequação de estradas e carreadores nas áreas rurais, o desenvolvimento das bases que levaram a hoje, quase a totalidade das áreas cultivadas com culturas anuais estarem sob sistema de cultivo direto, programas de incentivo da correção do solo para manejo da fertilidade. Por isso, o estado está entre os maiores produtores brasileiros não somente de soja e milho, mas de outras culturas como laranja, mandioca, produção animal, carne bovina, suína ou de frango e poderíamos citar outros inúmeros exemplos. Nós do ensino e pesquisa temos contribuído para a produção de alimentos, e o cooperado deve aderir aos manejos e tecnologias para que os resultados sejam atingidos.
RC: Qual é, na sua opinião, o valor da parceria das instituições com as cooperativas? Tadeu: A parceria das instituições de ensino e pesquisa com as cooperativas e, sobretudo, com a Coamo é de suma importância, pois, de nada vale termos formas de manejo e tecnologias viáveis para a produção agrícola, se elas não chegam ao conhecimento de quem poderá utilizá-las, que é o cooperado. Desta maneira, a Coamo desempenha um papel muito importante, pois a partir de seu corpo técnico, que está diretamente ligado as atividades no campo, faz com que nós, pesquisadores, consigamos ter conhecimento das demandas que estão no campo e fazer as pesquisas para minimizar os problemas e otimizar a produtividade das culturas. Se não fossem os eventos realizados e a atuação do quadro técnico, as informações não chegariam aos cooperados. Seríamos capazes de desenvolver os manejos e as técnicas, porém, não conseguiríamos difundir seus resultados e implementa-las no campo.
RC: Sua última mensagem aos cooperados da Coamo. Tadeu: Quero parabenizar a todos envolvidos no processo produtivo. Cada um de nós tem seu mérito no que faz, mas de nada adianta termos as melhores ferramentas a disposição se não as utilizamos adequadamente, ou seja, temos que estar sempre informados dos acontecimentos e prontos para agir, assim nós da pesquisa contribuímos com a inovação, a cooperativa com o repasse das informações e recomendações das melhores alternativas, e vocês cooperados, são responsáveis pelo sucesso que todos buscamos, que é a produção sustentável dos alimentos. Se todos continuarmos cooperando, com certeza teremos um futuro cada vez melhor.
"A agricultura 5.0 só será realidade quando superar barreiras de conectividade e custos. Pesquisa, cooperativa e produtor precisam caminhar juntos para transformar conhecimento em produtividade."
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