Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 465 | Dezembro de 2016 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“DEUS NOS DEU A SUA GRAÇA E A SUA BENÇÃO, POR ISSO PRODUZIMOS MAIS DE UM MILHÃO DE FRALDAS.”

Marta Paulina Kaiser Leitner, é professora e advogada, idealizadora e coordenadora

do Projeto de Responsabilidade Social – Casa das Fraldas São José, em Campo Mourão

A professora e advogada Marta Paulina Kaiser Leitner é idealizadora e coordenadora do Projeto de Responsabilidade Social – Casa das Fraldas São José, em Campo Mourão, que surgiu em 2008 e vem produzindo com apoio da comunidade 15 mil fraldas mensais destinadas a 400 pessoas carentes de várias entidades mourãoenses. 

Nascida em Campo Mourão, filha de Martin e Maria Kaiser – ele, cooperado fundador da Coamo com a matrícula número 12 –, casada com Roberto Olivier Leitner e mãe de duas filhas Christine e Bruna. Marta Kaiser é secretária executiva da Acicam (Associação Comercial e Industrial de Campo Mourão), professora Mestre da Faculdade Integrado de Campo Mourão, atua como Juíza Leiga perante o Juizado Especial Cível da Comarca de Campo Mourão, e advogada voluntária da Apae.

Revista Coamo: Quando surgiu o projeto Casa das Fraldas em Campo Mourão?

Marta Kaiser: O projeto iniciou no dia 06 de maio de 2008 e a ideia do projeto de responsabilidade social surgiu durante uma aula que eu ministrava para o curso de Direito na Faculdade Integrado. Os alunos, preocupados em cumprir as exigências de realização de atividades extracurriculares, estabelecidas pelo curso, pediram-me uma ideia para realizar um projeto de ação social. Eu disse a eles que tinha uma ideia, que era a produção de fraldas descartáveis para a doação ao asilo Lar dos Velhinhos Frederico Ozanam) de Campo Mourão. Era para ser uma ação temporária, mas a repercussão foi tanta que no dia 13 de novembro do mesmo ano foi inaugurada a Casa das Fraldas São José. A mobilização dos acadêmicos de Direito da Faculdade Integrado, a partir da ideia proposta, foi a semente da Casa das Fraldas.

RC:  Quem apoiou o projeto no início para sua efetivação?

Marta: Desde o primeiro momento tive o apoio do então presidente da Acicam (Associação Comercial e Industrial de Campo Mourão) Nestor Ocimar Bisi, da mantenedora da Faculdade Integrado, professora Maria da Conceição Montans Baer, além do coordenador do curso de Direito, professor Robervani Pierin do Prado, e em especial da minha família.

RC: Passados oito anos do início, como é atualmente o apoio da comunidade?

Marta com José Aroldo Gallassini e o pai Martin Kaiser, cooperado fundador da

Coamo com a matrícula número 12

Marta: É um apoio muito bom e só temos que agradecer, pois a nossa comunidade é muito generosa. Recebemos apoio da Acicam por meio dos seus diretores e colaboradores, da Faculdade Integrado, Unimed, Coamo, Mitra Diocesana e Catedral São José, Sindicato Rural, Sindicato do Comércio Varejista, Refrigeração Mamborê, Clínica Dr. Dairton Legnani, Transportadora Tamoyo, Rotary´s Clubes de Campo Mourão, Associação de Senhoras de Rotarianos, Lojas Maçônicas, Instituto Cruzeiro do Sul, Associação das Acácias, Lions Clube, Interact e da Ordem Demolay. A Casa das Fraldas é beneficiada ainda através de convênios com a Justiça Estadual e Justiça Federal, além de parcerias com diversas empresas, através da aquisição do “Banner Solidário” que garantem recursos financeiros para a instituição.

RC: Como é o trabalho voluntário e comunitário na Casa das Fraldas?

Marta: Este trabalho voluntário é muito importante para a existência da Casa das Fraldas, pois ela não tem funcionários. Assim, a atuação voluntária é realizada por alunos da Faculdade Integrado e também da comunidade de Campo Mourão, por meio de pessoas que diariamente prestam serviços na entidade. São grupos de amigos, funcionários e colaboradores de empresas e representantes da Pastoral da Saúde da Igreja Católica, além de voluntários eventuais que respondem por 100% da produção de fraldas. E no caso da própria Coamo, o Programa de Qualidade 5S motiva seus funcionários em Campo Mourão a se revezarem e por meio de suas áreas e departamentos, eles estão frequentemente doando um pouco do seu tempo para o bem comum. Este gesto de doação espontânea da comunidade é um grande combustível e nos emociona muito a prosseguir com a Casa das Fraldas, pois sozinho não somos e não seremos nada. É como o cooperativismo, com a força da união e da cooperação teremos sempre bons resultados.

RC: Quantas peças são produzidas por mês e quem é o público beneficiado?

Marta: São produzidas mensalmente 15 mil fraldas geriátricas descartáveis e a produção é destinada ao Lar dos Velhinhos, Lar da dona Jacira, Hospital Santa Casa e as pessoas comprovadamente carentes de Campo Mourão e região, mediante um cadastro prévio.  São mais de 400 usuários, todos devidamente cadastrados, que recebem fraldas mensalmente.  Em algumas oportunidades, a Casa das Fraldas atendeu pessoas atingidas por situações de calamidade pública, como nas enchentes de Santa Catarina e na região serrana do Rio de Janeiro.

RC: Quais os números desses anos todos?

Marta: Deus nos deu a sua graça e a sua benção por isso produzimos mais de um milhão de fraldas. Ao longo dos oito anos foram produzidas mais de 1.200.000 (um milhão e duzentas mil) fraldas.

RC: Quais são as dificuldades para manter este projeto?

Marta: A maior dificuldade é a financeira, precisamos de recursos para a aquisição da matéria-prima, que representa um custo de R$ 1,00 por fralda. O que equivale a dizer que necessitamos de R$ 15 mil por mês para custear a matéria-prima necessária para a produção das fraldas.
 
RC: Quais as soluções encontradas para angariar recursos?

Marta: Para assegurar esses recursos realizamos eventos, promoções, palestras e mutirões. Algumas entidades também realizam promoções com a destinação de recursos para o projeto. É a somatória de esforços que garantem o êxito da ação e a manutenção da Casa das Fraldas.

RC: Quais as alegrias com este projeto?

Marta: É um sentimento de contribuir, de alguma forma, para aliviar o sofrimento alheio, proporcionando melhores condições de vida, trazendo mais conforto ao usuário e proporcionando uma vida digna.
 
RC: E quanto ao futuro da Casa das Fraldas?

Marta: O futuro a Deus pertence, mas queremos continuar trabalhando com o objetivo de atender mais pessoas carentes. O projeto ganhou destaque estadual quando recebeu, em 2010, o Prêmio Faciap (Federação das Associações Comerciais do Estado do Paraná) Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável. Sinto-me feliz e partilho com todos o êxito deste projeto da Casa das Fraldas e o reconhecimento da sociedade, como o prêmio da Faciap, o prêmio Bom Exemplo Paraná, outorgado pela RPC TV e a Fundação Dom Cabral em 2013 e o título outorgado pela Câmara Municipal de Cidadã Benemérita.

RC: A senhora acredita que o projeto serve de modelo para outras cidades e instituições?

Marta: A Casa das Fraldas continua beneficiando milhares de pessoas, especialmente porque serviu de exemplo e modelo para a implantação do projeto em outras cidades e Estados. Ações semelhantes estão sendo desenvolvidas nas cidades de Mamborê, Goioerê, Ponta Grossa, Umuarama, Pitanga, Guarapuava, Toledo, Ivaiporã, Cianorte, Ubiratã, Barboza Ferraz, Paranavaí, Mandaguari e Luiz Eduardo Magalhães (Bahia).

RC: O projeto Casa das Fraldas vai além do alcance social?

Marta: Sim, a Casa das Fraldas tem divulgado Campo Mourão e o projeto destaca-se não apenas pelo alcance social da ação, mas também pelo envolvimento de empresas, clubes de serviços, entidades classistas e pela parceria e apoio da Justiça Federal. Outra característica marcante é a produção das fraldas exclusivamente por grupos de voluntários. O fornecimento das fraldas gera grande economia para as entidades beneficiadas, algumas atendidas em 100% da demanda, bem como para muitas famílias de baixa renda. A Casa das Fraldas de Campo Mourão é uma das maiores referências de programas de ação social de Campo Mourão e um exemplo para o Paraná e o Brasil.

RC: Qual é o sentimento de olhar para trás e ver que a ideia deu certo?

Marta: É um grande sentimento de realização pessoal e gratidão, vendo que, de alguma forma colaboramos para ajudar os necessitados, é uma forma de praticarmos a caridade com o nosso semelhante.
 
RC: Qual a sua mensagem aos leitores?

Marta: Inicialmente agradecer o apoio da Coamo, dos diretores e colaboradores que contribuíram e contribuem com o projeto desde o início por meio do Programa 5S. Aproveito para dizer que a Casa das Fraldas é um projeto da comunidade de Campo Mourão para a comunidade carente e assim, o projeto é de todos. Não podemos passar a nossa vida em branco, precisamos nos preocupar com as pessoas que estão ao nosso lado, pois a verdadeira prestação de serviços é a responsabilidade de cada um em relação à conquista da paz na terra e à boa vontade entre os homens. Minha mensagem e desejo é que possamos sempre ter fé e esperança, caminhar e sorrir, e saber que a caridade é uma das maiores dádivas que um ser humano possui. Obrigada a todos que colaboraram, colaboram e ajudam a Casa das Fraldas, e que Deus abençoe a todos.

Mutirão para confecção de 41 mil fraldas realizado em comemoração aos 40 anos da Arcam, em 2014
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