Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 493 | Julho de 2019 | Campo Mourão - Paraná

OPINIÃO

"Não envenenamos o prato de ninguém. Nem aqui, nem no Japão."

USO DE AGROTÓXICO POR

TONELADA ALIMENTO PRODUZIDO

dados de 2017

fonte:Unesp Botucatu/Andef

USO DE AGROTÓXICO

POR HECTARE CULTIVADO

dados de 2017

fonte:Unesp Botucatu/Andef

*Xico Graziano é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano.

O artigo foi publicado no portal Poder360 (www.poder360.com.br).

Por Xico Graziano*

O local e o momento eram oportunos. Estava a ministra Tereza Cristina abrindo a campanha em defesa dos produtos orgânicos, promovida pelo Ministério da Agricultura. Dali, tacou seu desabafo: “Considero um desserviço ao país, uma ação de lesa-pátria a campanha de desinformação contra a qualidade dos nossos alimentos. Nossos concorrentes agradecem.”

Novamente, agrotóxicos eram o assunto. O controverso tema é recorrente na mídia nacional. Postagens na rede contra os agrotóxicos vendem o inferno à opinião pública. Detratores do agro reduzem os agricultores a assassinos contumazes. Agridem sem dó a agronomia nacional. O que é fake, e o que é fato, nesse assunto dos agrotóxicos? Vamos analisar três questões:


Sobre resíduos de agrotóxicos nos alimentos

A Anvisa realiza no país o monitoramento da qualidade dos alimentos in natura. Um resumo de sua atuação, em vários anos, mostra que, das 12 mil amostras pesquisadas, apenas 3% indicaram resíduos de produtos químicos acima do limite máximo permitido (LMR).

Significa que essas amostras (3%), contaminadas acima do LMR, causam danos à saúde? Não necessariamente. Ocorre que a margem de segurança estabelecida situa-se, em geral, 100 vezes abaixo da dose nociva determinada, em laboratórios, para cobaias. Ou seja, os níveis de resíduos detectados são baixíssimos. Por esta razão, jamais alguma autoridade médica recomendou que a população deixasse de ingerir frutas, legumes ou grãos por estarem “contaminados”. Alguns argumentam existir um “efeito cumulativo”, causado pela ingestão sucessiva de vários alimentos, o que potencializaria o dano à saúde humana. Jamais essa hipótese foi cientificamente comprovada.


Sobre a utilização nacional de agrotóxicos

Sim, é verdade que o Brasil é o maior consumidor mundial de defensivos agrícolas. Segundo o Ibama, foram utilizadas 539,9 mil toneladas de pesticidas em 2017, quase a metade apenas na lavoura da soja. Quando, porém, se calcula, em valor, o uso de agrotóxicos por hectare cultivado, quem lidera o ranking mundial é o Japão (US$ 455/ha). O Brasil (US$ 111/ha) fica em sétimo lugar. Se o índice considerado for agrotóxico por alimento produzido, o Brasil cai para 13º lugar.


Sobre o registro de agrotóxicos

Acusa-se o atual governo de facilitar o registro de produtos, pois foram 169 agrotóxicos liberados para uso neste começo de ano. É verdade. Acelerou-se o processo administrativo. Mas, atenção: nenhum desses 169 agrotóxicos constitui novos ingredientes ativos; todos são misturas comerciais de substâncias anteriormente aprovadas, ou “genéricos” de moléculas já existentes. Ou seja, o governo fez aumentar a concorrência no mercado, autorizando o uso de formulações de pesticidas mais atualizadas e eficientes.

Aumentará o consumo de agrotóxicos no país? Provavelmente, não, pois os agricultores substituirão marcas antigas pelas novidades técnicas. Haverá benefícios econômicos e ambientais.  “Nós não envenenamos o prato de ninguém”, arrematou Tereza Cristina, reagindo contra os alarmistas. Nem aqui, nem no Japão, complemento eu.

Polêmicas são úteis ao avanço do conhecimento. Agora, imaginar que os agricultores brasileiros envenenam o mundo, significa considerar que a moderna agronomia faliu, e que nós, os profissionais do campo, somos um bando de desvairados mentais.

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