Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 515 | Julho de 2021 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

ALEXANDRE LIMA NEPOMUCENO Chefe-geral da Embrapa/Soja

Alexandre Lima Nepomuceno é graduado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1987), com mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989), doutorado em Molecular Biology and Plant Physiology - University Of Arkansas (1998) e pós-doutorado no Japan International Research Center for Agricultural Sciences - JIRCAS, Tsukuba, Japão (2000 e 2004). Ele assumiu em outubro de 2020, a chefia geral da Embrapa Soja, com sede em Londrina (PR).

O pesquisador Alexandre Lima Nepomuceno foi selecionado para assumir a Chefia-geral da Embrapa Soja, uma das unidades de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, que fica sediada em Londrina (PR). Sua gestão iniciou em 01 de outubro de 2020 e se estenderá por dois anos, podendo ser prorrogado por dois períodos iguais.

Pesquisador da Embrapa há 30 anos, Nepomuceno tem ampla experiência tanto como cientista quanto como gestor de projetos e equipes. Em sua defesa pública, apresentou uma visão abrangente do cenário atual para lidar com os desafios nos ambientes interno e externo. Com relação ao macro cenário, ressalta que nos próximos 20 anos, o planeta chegará a nove bilhões de pessoas. Será um grande desafio produzir alimento para suprir a demanda alimentar mundial. Neste contexto, a soja consolida-se como a principal fonte de proteína, seja em ração animal ou em produtos industrializados.



Revista Coamo: Qual a sua missão como chefe geral desta importante instituição?

Alexandre Lima Nepomuceno: Uma das minhas funções é interagir com o ambiente externo e viabilizar para que as pesquisas sejam realizadas com assertividade e tragam soluções importantes para a agricultura. Também é importante a criação de parcerias que tragam oportunidades para a pesquisa e ações de transferência de tecnologia. Outra ação que estamos comprometidos é a de internacionalizar as informações sobre a produção brasileira, mostrando nossa dinâmica sustentável de produção. Em Londrina (PR), na Embrapa Soja, estamos iniciando uma nova gestão. Trabalhamos em várias frentes de pesquisa, desenvolvimento e inovação, e os quatro grandes eixos que serão norteadores para nossas ações são a Genética Avançada, Bioinsumos, Agricultura 5.0 e Soja Baixo Carbono.



RC: Qual o foco da Embrapa?

Nepomuceno: A Embrapa, por meio de pesquisas, desenvolvimento e inovação tem como objetivo viabilizar soluções para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira. Hoje a Embrapa possui 43 unidades descentralizadas, espalhadas pelo território nacional que trabalham nas mais diversas pesquisas em âmbito regional e nacional. O país é referência em ciência e tecnologia para a agricultura e um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Boa parte desse desempenho se deve à Embrapa, uma das maiores instituições de pesquisa do mundo tropical. São 8.152 empregados, R$ 3,48 bilhões de orçamento anual e 43 centros de pesquisa de Norte a Sul do Brasil.



RC: Conte-nos um pouco dos trabalhos da Embrapa Soja.

Nepomuceno: No caso da Embrapa Soja, em Londrina (PR), nossa missão é desenvolver tecnologias sustentáveis para a soja, principal cultura do agronegócio e da pauta de exportações brasileira. Para isso, promovemos a sustentabilidade do sistema de produção e oferecemos condições técnicas para a manutenção do cultivo em todo o Brasil. A Unidade também é responsável pela pesquisa de girassol no Brasil e atua na pesquisa com trigo para o Paraná. A Embrapa Soja dispõe de 274 empregados, sendo 62 pesquisadores, a maioria com doutorado e pós-doutorado em diversas áreas do conhecimento, 43 analistas, 65 técnicos e 104 assistentes. A nossa atuação é fortalecida pela presença de pesquisadores e pessoal de apoio nas bases avançadas de Goiânia (GO), Vilhena (RO), Sinop, (MT) e Balsas (MA). Temos uma infraestrutura de 471 hectares de campo experimental, distribuídos entre a Fazenda Santa Terezinha e Fazenda Maravilha, localizadas no município de Londrina (PR). A Embrapa Soja conta com 38 casas de vegetação e 30 laboratórios, trabalhando nas áreas de sanidade vegetal, melhoramento genético e biotecnologia e manejo sustentável.



RC: Qual a importância da Embrapa para difusão de tecnologias?

Nepomuceno: A Embrapa publicou recentemente seu balanço social, onde mostramos as tecnologias geradas e quais os impactos que elas causam na sociedade brasileira. O ano de 2020 foi marcado pelas mudanças na forma de trabalho, adaptando à realidade imposta pelo Covid-19, com desafios para a pesquisa e certamente para as cooperativas e os agricultores. Porém, a resposta do setor agropecuário foi certamente o que manteve o Brasil em termos econômicos e posicionou o país cada vez mais como um provedor de tecnologias e resultados. Para citar como exemplo a cultura da soja: no mundo foram produzidos 362 milhões de toneladas da oleaginosa, e somente o Brasil produziu mais de 135 milhões.



RC: Quais os principais números do Balanço Social da Embrapa?

Nepomuceno: Importantes números do Balanço Social da Embrapa de 2020. R$ 61,85 bilhões de lucro social. Nesta edição, foram analisados impactos de uma amostra de 152 tecnologias e aproximadamente 220 cultivares, que representaram 98,2% do lucro social demonstrado em 2020. R$ 17,77 para a sociedade brasileira por real aplicado. A relação do lucro social com a Receita Operacional Líquida foi de 17,77. Isso indica que o retorno anual superou em 17 vezes o valor investido na Empresa em 2020, e 41.475 empregos novos criados no ano passado. 59 prêmios e homenagens. Em 2020, a Embrapa, seus empregados, seus produtos, suas ações e seus projetos receberam diversos prêmios, dos quais 29 internacionais, 9 científicos, 11 nacionais e dez regionais.



RC: Quais são os desafios para os próximos anos?

Nepomuceno: Os desafios são muitos frente às diversas mudanças que ocorrem no mundo, sejam ambientais ou econômicas. O Brasil precisa se consolidar como importante competidor internacional e alavancar, cada vez mais, o mercado interno. Temos um desafio muito grande no mercado de carbono. Hoje a Embrapa possui algumas iniciativas, como Carne Carbono Neutro, Carne Carbono Zero e mais recentemente o Leite Carbono Neutro e Soja Baixo Carbono. O Programa Soja Baixo Carbono (SBC), liderado pela Embrapa Soja, é uma iniciativa que objetiva agregar valor à soja produzida em sistemas que contribuam para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, combatendo assim o aquecimento global. O Programa SBC pretende criar uma metodologia brasileira, baseada em protocolos científicos validados internacionalmente, dentro de dois anos.



RC: Com a agricultura digital, quais os desafios para levar as tecnologias ao campo?

Nepomuceno: O grande desafio para o agronegócio é conseguir integrar as ferramentas de Tecnologia da Informação com as informações geradas no campo, que envolvem organismos vivos. As ferramentas para o agro precisam ser assertivas e trazer informações que agreguem na dinâmica de produção. As plataformas criadas para apoio nas tomadas de decisão precisarão agrupar informações de gestão, tecnologias de produção, de criação de networking e comercialização dos produtos. Na Embrapa Soja, em Londrina, temos trabalhado em Agricultura Digital, onde o desafio é justamente integrar questões agronômicas com ferramentas de Internet das Coisas (IOT), sensoriamento, imageamento, blockchain, entre outras.



RC: Qual o trabalho frente a resistência das pragas, doenças e plantas daninhas, aos produtos existentes?

Nepomuceno: O foco da Embrapa frente a esse tema de resistência sempre foi a de disponibilizar tecnologias e informações adequadas para o manejo integrado, seja de pragas, doenças ou plantas daninhas. O objetivo é que sejam seguidos critérios técnicos para uso de produtos, com aplicações baseadas em ciência e sejam mais assertivas do ponto de vista do controle, o que traz benefícios econômicos, sociais e ambientais. Em todas as situações, a Embrapa tem trabalhado em rede, envolvendo todas as Unidades que têm afinidade com o tema, e também parceiros, sejam instituições públicas ou empresas privadas. No caso da soja, um exemplo consolidado é o Consórcio Antiferrugem, criado em 2004, que além de realizar ações de transferência de tecnologia, possui uma rede de ensaios cooperativos para testes de fungicidas entre pesquisadores de todo o Brasil.



RC: Diante da evolução, qual é o papel do pesquisador?

Nepomuceno: O pesquisador, além de evoluir, cada vez mais, no papel decisivo da ciência para a tomada de decisão, tem o importante papel de criar redes que integrem várias empresas, cooperativas, instituições à associações para a tomada de decisão das necessidades e evolução das pesquisas.



RC: E quanto aos agricultores?

Nepomuceno: Os agricultores são os grandes demandantes das tecnologias a campo. O envolvimento de produtores na geração de tecnologias demonstram a importância de criar parcerias e redes que envolvam vários atores da cadeia produtiva da soja e possam integrar ações de pesquisa e transferência de tecnologia.



RC: Como avalia a parceria entre a Embrapa e a Coamo?

Nepomuceno: A parceria com a Coamo é uma das mais relevantes para a Embrapa. A atuação da pesquisa junto ao setor produtivo traz benefícios mútuos. Do lado da pesquisa, o olhar dos técnicos e produtores ligados à cooperativa moldam os caminhos do desenvolvimento e inovação, e trazem uma perspectiva de tecnologias pautadas na ciência e na experiência do usuário final.



RC: Como é a participação da Embrapa nos Encontros da Fazenda Experimental da Coamo?

Nepomuceno: A condução de experimentos e demonstração de tecnologias trazem exemplos claros para que técnicos e produtores enxerguem a importância de usar tecnologias baseadas na ciência agropecuária, que continuamente gera informações e tecnologias atualizadas para o campo.



Alexandre Lima Nepomuceno, presidente da Embrapa Soja

RC: Qual a importância do cooperativismo como agente de desenvolvimento?

Nepomuceno: O cooperativismo é um exemplo de sucesso, principalmente no Paraná. O desenvolvimento do cooperativismo é fundamental para a criação de atores fortes que defendam o desenvolvimento sustentável que gere renda para os agricultores. Isso traz força para os produtores e para o setor, que têm alavancado a economia do Brasil.



RC: Qual sua mensagem aos cooperados da Coamo?

Nepomuceno: A Coamo, em seus mais de 50 anos, conseguiu integrar sua missão de gerar renda aos cooperados com desenvolvimento sustentável no seu dia a dia. Somos orgulhosos em ter uma longa parceria com a cooperativa, na pesquisa e transferência de tecnologia. Queremos sempre andar juntos com a Coamo e com todos os produtores que fazem parte dela, para poder trazer, cada vez mais, soluções sustentáveis e benefícios econômicos.

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