Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 447 | Maio de 2015 | Campo Mourão - Paraná

Fazenda Experimental 40 anos

COAMO TEM ENSAIO MAIS ANTIGO DO BRASIL

COOPERATIVA É PIONEIRA EM ENSAIOS COM ROTAÇÃO DE CULTURAS, UMA PRÁTICA ECONOMICAMENTE SUSTENTÁVEL

Dando continuidade à série de reportagens sobre os 40 anos da Fazenda Experimental da Coamo, nesta edição serão destacados os 30 anos do sistema de rotação de culturas. Uma técnica consagrada para combater os problemas causados pela sucessão de culturas. Iniciado no dia 11 de abril de 1985, a partir de uma ideia da diretoria da Coamo que teve total apoio da Embrapa Soja, o projeto de pesquisa em Rotação de Culturas foi concretizado dentro de uma proposta de estudo dos ecossistemas rurais. O projeto foi pioneiro no Brasil e balizou os resultados da pesquisa nacional, consolidando a importância econômica e ambiental dessa prática conservacionista.

Paulo Roberto Galerani: São inúmeras as vantagens que podemos obter com o plantio direto e a rotação de culturas

O engenheiro agrônomo Paulo Roberto Galerani, especialista em Manejo de Solos, da Embrapa Soja, destaca que a rotação dá resultados com o passar do tempo e, por isso, os experimentos são longos. “São inúmeras as vantagens que podemos obter com o plantio direto e a rotação de culturas”, frisa.

Outros aspectos destacados pelo pesquisador são o acúmulo de carbono disponibilizado pelo sistema rotacionado; controle de erosão e o controle de doenças, que muitas vezes são eliminadas somente com a rotação, que diminui os efeitos na cultura.

Galerani compara a rotação a seguro de veículo: “Quando fazemos um seguro é para não usar. Não é porque temos o seguro do automóvel que queremos que seja furtado ou soframos um acidente. A rotação é a mesma coisa. Se fazemos o seguro da lavoura continuamos não querendo que haja frustração. Mas, se houver a rotação resiste mais a qualquer adversidade”, explica.

Alvadi Balbinot: Há 30 anos é analisada a condição do solo assim como a necessidade de diversificar tanto as culturas de verão quanto a de inverno

O pesquisador da Embrapa/Soja, Alvadi Antonio Balbinot Júnior, especialista em Manejo de Solos e da Cultura, lembra que a rotação é uma tecnologia antiga, mas que ao mesmo tempo precisa ser estimulada. Ele ressalta que o experimento na Fazenda Experimental da Coamo é um patrimônio para o agronegócio brasileiro. “Há 30 anos é analisada a condição do solo assim como a necessidade de diversificar tanto as culturas de verão quanto a de inverno. É um sistema importante para conversação do solo, da água e, também, para o manejo de doenças, pragas e plantas daninhas.”

De acordo com ele, a tecnologia tem resultados consistentes e mostra a importância dela para que o sistema produtivo tenha sustentabilidade ao longo do tempo. “Os produtores imaginam que fazer rotação de culturas é abrir mão de renda imediata. Na verdade não é bem essa a ideia. Avançamos no conhecimento e temos muitas possibilidades de aumentar a diversificação dos cultivos mantendo a renda ou até melhorando mesmo a curto prazo. Um exemplo, é ter uma safra de milho no verão intercalada com uma, duas, três até quatro de soja. Outro exemplo, é a possibilidade de integrar a agricultura e pecuária garantindo renda e sustentabilidade.”

CHOQUE DE REALIDADE

Henrique Debiasi: a rotação é uma prática que traz benefícios econômicos, seja com aumento de produtividade ou redução de custos

Conforme Henrique Debiasi, também especialista em manejo de solo e da cultura da Embrapa/Soja, a rotação é uma prática que, comprovadamente, traz benefícios econômicos, seja com aumento de produtividade ou redução de custos. “Infelizmente, nos últimos anos, devido ao preço das commodities, principalmente a soja, o produtor tem priorizado sistemas mais simplificados pensando sempre no retorno rápido”, comenta.

Ele observa que experimentos com rotação de culturas são complexos e que o produtor não tem condições de fazer na propriedade, enquanto que na Fazenda Experimental os resultados já são consolidados. “Se o agricultor deixar de aplicar inseticida, em dez dias já verá o efeito com uma infestação na área. Com a rotação de culturas não é assim que acontece, porque ele não vê os efeitos de forma rápida. Já por meio de experimento, como o existente na Fazenda da Coamo, há um choque de realidade e o agricultor percebe o quanto está perdendo por não fazer a rotação de culturas”, conclui Debiasi.

BANCO DE INFORMAÇÕES

O engenheiro agrônomo da Embrapa/Soja, Eleno Torres, acompanhou de perto o início do ensaio de rotação de culturas na Fazenda Experimental Coamo. De acordo com ele, experimentos como o mantido pela cooperativa tem características aparentemente simples, contudo, são difíceis de serem conduzidos e mantidos, devido principalmente à vulnerabilidades que as instituições passam ao longo do tempo. “O histórico desses ensaios mostra que somente instituições sólidas, estáveis, com dirigentes e técnicos comprometidos podem conduzir e mantê-los por muitos anos. A Coamo é uma das poucas cooperativas no mundo que preserva esse tipo de trabalho” observa.

Ele observa que o ensaio é um banco permanente e dinâmico de informação e que está disponível para estudos a qualquer momento. “As abordagens dadas nesses ensaios mudam com o passar do tempo, porém as informações sobre preservação e sustentabilidade vão continuar sendo sempre um tema atual”, frisa.

Torres recorda que o objetivo inicial do projeto de pesquisa do ensaio, era o de viabilizar o plantio direto e selecionar os sistemas mais adequados de rotação de culturas para produzir a soja e outras culturas, causando o mínimo possível de impacto ambiental. Para atender esses objetivos a equipe do projeto contava com pesquisadores das áreas de manejo da cultura, solos e fitopatologia.

ROTAÇÃO DE CULTURAS: UM MARCO PARA A AGRICULTURA

No final da década de 1970 e início de 1980, a produtividade das culturas anuais, dentre elas a soja, mantinha-se praticamente estagnada apesar dos avanços observados na geração de cultivares mais produtivas e resistentes às doenças, e no desenvolvimento de métodos mais adequados de correção e adubação do solo, controle de plantas daninhas, pragas, doenças, dentre outros.

Eleno Torres: o ensaio é um banco permanente e dinâmico de informação e que está disponível para estudos a qualquer momento

De acordo com Eleno Torres, esse problema causava inquietação no setor e era o tema central das discussões. Ele cita que a principal hipótese levantada para o problema era a degradação do solo causada pelo manejo inadequado e ausência de rotação de culturas. “Por outro lado, a adoção do plantio direto não ocorria nas proporções desejadas e o manejo do solo, quase sempre, era realizado com implementos impróprios, e feito, na maioria das vezes, em condições inadequadas de umidade, causando a erosão, redução dos teores de matéria orgânica e de nutrientes, alterando a estrutura dos solos”, comenta. “Somando-se a isso, a ausência de rotação de culturas e a falta de cobertura morta do solo, diminuía o armazenamento de água, tornando as culturas mais susceptíveis aos períodos de estresses hídricos, aumentava a temperatura, compactação, erosão do solo, e incidência de plantas daninhas, pragas e doenças. Como consequência, a soja e outras culturas do sistema produtivo apresentavam baixas produtividades”, acrescenta Torres. 

O ensaio na Fazenda Experimental teve o nome de “Rotação de culturas com soja para o planalto paranaense de Campo Mourão, PR”. O experimento contava com 12 sistemas de rotação de culturas. As informações obtidas na pesquisa foram complementadas com um outro experimento, elaborado com caráter de unidade demonstrativa. Esse novo trabalho teve início em 1991, envolvendo a avaliação de diferentes sistemas de preparo do solo e dois sistemas de rotação de culturas. Os dois tratamentos de rotação nesse trabalho foram comuns aos ensaios de rotação de culturas, possibilitando, para efeito de análise, uma ligação entre o trabalho de preparo do solo e o rotação de culturas.

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