Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 458 | Maio de 2016 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“A OCEPAR É UMA INDUTORA DO PROCESSO DE INOVAÇÃO EM TODOS OS CAMPOS“


José Roberto Ricken: "Não podemos perder de vista as estratégias para o futuro do cooperativismo. Sempre existirão dificuldades e desafios a superar."

José Roberto Ricken nasceu em Manoel Ribas (Centro-Norte do Paraná), é formado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Administração pela Ebape – Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas e especialista em Cooperativismo, com vários cursos no Brasil e no exterior.  Está no Sistema Ocepar desde 1988, tendo atuado como assessor no departamento Técnico e Econômico. A partir de 1991, gerenciou a implantação do Programa de Autogestão das cooperativas paranaenses até 1996, quando assumiu a superintendência da Ocepar. No início de 2000, coordenou a implantação do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop/PR), qual também foi superintendente até esta sexta.

Na sua experiência profissional trabalhou como extensionista na Emater/PR, no programa de Bioenergia e chefe do escritório em Realeza, no Sudoeste do Paraná. Em Brasília (DF), trabalhou na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), onde estruturou o Departamento Técnico-Econômico, foi gerente e chefe do departamento de Informações e Comunicação. Atuou no Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa) como assessor especial do então ministro Roberto Rodrigues, de fevereiro de 2003 a maio de 2004, como diretor do Departamento de Cooperativismo e Associativismo Rural (Denacoop).

O engenheiro agrônomo José Roberto Ricken é desde 1º de abril o novo presidente executivo do Sistema Ocepar com  mandato até 2019. “Meu compromisso é dar continuidade ao trabalho feito sob a liderança do João Paulo Koslovski, meu desafio não é fácil mas não vou decepcionar, vocês podem ter certeza disso”, disse o entrevistado do mês de maio da Revista Coamo.

Revista Coamo: Como o senhor entrou no Sistema OCB e Ocepar?

José Roberto Ricken: Iniciei no Sistema OCB em abril de 1981, trabalhando na sede da Organização das Cooperativas Brasileiras em Brasília, onde participei de um processo seletivo realizado por Benjamim Hammerschimdt, ex-presidente da Ocepar, então eleito vice-presidente da OCB. Atuei como assessor técnico e gerente do Departamento Técnico e Econômico até abril de 1988. Ainda na OCB, chefiei o Departamento de Informações e Comunicação, de janeiro a outubro de 1983. No Sistema Ocepar iniciei em abril de 1988 no Departamento Técnico e Econômico. A partir de 1991 contribuí na implantação e no gerenciamento do Programa de Autogestão das Cooperativas Paranaenses até 1996, quando assumi a Superintendência da Ocepar. No Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – Sescoop, participei desde a sua proposição, tendo integrado o primeiro Conselho Nacional. Contribuí na implantação do Sescoop/PR a partir de janeiro de 2000, do qual também fui superintendente até abril deste ano.

RC: Como foi sua experiência em Brasília?  

Ricken: Ter trabalhado na OCB entre 1981 e 1988 e no Ministério da Agricultura de 2003 a 2005 foi uma experiência positiva, visto que me possibilitou uma visão mais abrangente da realidade nacional e do cooperativismo brasileiro. Acredito que essa experiência poderá ser útil para a função de presidente do Sistema Ocepar. No Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Mapa) fui assessor do então ministro Roberto Rodrigues, no período de fevereiro de 2003 a maio de 2004, quando também exerci a função de diretor do departamento de Cooperativismo e Associativismo Rural (Denacoop). 

RC: Como avalia o trabalho e quais legados deixa o presidente João Paulo Koslovski?

Ricken: Tive o privilégio de apoiá-lo durante 28 anos. Além de um grande mestre em cooperativismo também é um exemplo de liderança profissional, com visão completa da realidade que envolve as cooperativas. Sua capacidade de diálogo e sua conduta ética servem de lição a ser seguida pelos líderes de hoje e do futuro no sistema. Ao nosso presidente João Paulo podem ser creditadas conquistas importantes ao cooperativismo brasileiro, a exemplo do Recoop – Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária, e Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo, além de inúmeras contribuições técnicas marcantes na história do movimento cooperativista no país. Destaco, como referência, sua contribuição direta no 10º Congresso Brasileiro de Cooperativismo, que culminou na inserção das sociedades cooperativas na Constituição de 1988.

RC: O senhor esperava um dia ser presidente do Sistema Ocepar?  

Ricken: Sinceramente, teria sido mais cômodo ter o João Paulo como presidente por muito mais tempo. Confesso que fiz grande esforço para que ele mudasse de ideia, mas sua decisão foi pessoal e firme em deixar a presidência. A possibilidade de ser presidente do Sistema Ocepar nunca foi minha motivação pessoal. Sempre tive muita satisfação com o trabalho que estava realizando como superintendente, tendo a oportunidade de estudar os modelos de sociedades cooperativas. Estou ciente de minhas responsabilidades atuais de presidente, que pretendo exercer com muita prudência e diálogo e com a disposição de atuar em cooperação com todos. 

RC: Quais são seus desafios à frente da Instituição?

Ricken: Não podemos perder de vista as estratégias para o futuro do cooperativismo. Sempre existirão dificuldades e desafios a superar. Nesse momento de crise nacional, tanto política quanto econômica, temos que priorizar um bom planejamento estratégico, que está se consolidando por meio do Plano Paraná Cooperativo – PRC 100, que tem como meta dobrar o faturamento do cooperativismo do Paraná nos próximos anos. Falar de crescimento neste momento é desafiador, mas o PRC 100 está bem fundamentado, com as importantes contribuições dadas por profissionais das cooperativas e seus dirigentes. Ao nível externo, o desafio é avançar em melhorias na infraestrutura, adequar a carga tributária, implementar novas tecnologias e buscar condições favoráveis aos investimentos para atender novos mercados. 

RC: A Ocepar é uma entidade organizada e referência nacional. Quais fatores determinam esta excelência?

Ricken: Se há um diferencial no cooperativismo do Paraná, ele se encontra no planejamento das nossas ações, que é algo que vem sendo feito desde a origem da Ocepar, em 1971. O que estamos fazendo agora, por meio do PRC 100, é resgatar isso, procurando avançar com o propósito de assegurar o desenvolvimento das cooperativas do Paraná. O planejamento estratégico é uma característica importante e teve origem nos anos de 1970 com os chamados PICS – Planos de Integração das Cooperativas, onde os dirigentes se reuniam para traçar estratégias de desenvolvimento regionais. A implementação do programa de autogestão aprovado em Assembleia Geral, em 1991, com o objetivo de profissionalizar a gestão das cooperativas de todos os ramos foi um fato marcante. 

RC: Como avalia o trabalho do sistema Ocepar nos seus 45 anos?

Ricken: Cito aqui as palavras de Guntolf van Kaick, nosso primeiro presidente da Ocepar e um cooperativista até hoje muito presente e pronto a dividir sua experiência. A Ocepar é resultado de um projeto que não teve descontinuidade e ruptura. A entidade sempre foi, como ressalta van Kaick, uma indutora do processo de inovação em todos os campos, propondo ações modernizantes como a autogestão e o Sescoop, impulsionando a qualificação de dirigentes, cooperados e colaboradores. 

RC: E os investimentos em treinamentos e profissionalização realizados nas cooperativas?

Ricken: O Sistema Ocepar se destaca na defesa institucional e no monitoramento das cooperativas em mais de 40 índices, que possibilita o comparativo de desempenho e identificação dos pontos de correção e necessidades de capacitação. São mais de 7.000 demandas de capacitação, que dão origem a mais de 90 mil horas em treinamento por ano, realizadas por meio do nosso Sescoop/ PR. Esta profissionalização tem revertido fortemente na melhoria da gestão de nossas cooperativas o que reflete em resultados, tanto de econômicos como sociais.

RC: Quais caminhos deve percorrer o cooperativismo?

Ricken: As cooperativas são a razão da nossa existência e é importante que elas continuem demandando os serviços do Sistema Ocepar. Cabe a nós atender essa expectativa, com qualidade técnica e agilidade necessária. Planejando bem, chegamos lá.

RC: E o cenário econômico e político atual do nosso país e seus  reflexos diretos para o cooperativismo?

Ricken: O momento exige prudência, pois persistem as incertezas e nenhum setor da economia está imune aos efeitos de uma crise mais duradoura. Apesar das últimas decisões em relação à Presidência da República, a instabilidade política ainda prossegue. Esperamos que a situação se normalize e a classe política possa concentrar sua atenção em ações que devolvam a confiança e a credibilidade ao Brasil.

Ricken, Guntolf van Kaick e Koslovski nos 40 anos da Ocepar

RC: Quais são os entraves que atrapalham o desenvolvimento do cooperativismo no Brasil?

Ricken: Entendemos que o custo Brasil, representado pela alta carga tributária e pelo custo da logística (transporte, portos e excesso de burocracia) é o que impede um maior desenvolvimento do setor produtivo. E vale aqui citar as palavras do nosso sempre presidente João Paulo Koslovski, que em recente artigo de opinião publicado na imprensa afirmou: “a carga tributária e a complexidade na sua apuração representam um enorme peso para as empresas”. É, certamente, um entrave ao desenvolvimento. 

RC: Como observa o trabalho da Coamo para o desenvolvimento dos cooperados e funcionários?

Ricken: Tenho um profundo respeito pela atuação da Coamo, isso está fundamentado em meus familiares que residem na área da Coamo e que, em bom número, são seus cooperados e dependem da cooperativa para viabilizar suas atividades produtivas. Agradeço a confiança dos cooperativistas paranaenses, em especial, da Coamo e reafirmo que o Sistema Ocepar seguirá de portas abertas ao diálogo, visando o objetivo maior do cooperativismo que é organizar economicamente as pessoas para que obtenham mais renda e conquistem uma melhor condição social e qualidade de vida para si e seus familiares.

É permitida a reprodução de matérias, desde que citada a fonte. Os artigos assinados ou citados não exprimem, necessariamente, a opinião do Jornal Coamo.