Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 458 | Maio de 2016 | Campo Mourão - Paraná

SAÚDE

O GLÚTEN É MESMO UM VILÃO?

ANSIEDADE, GULA E ATÉ VEGETAIS COMO MAÇÃ E BRÓCOLIS PODEM SER A CAUSA DE INCÔMODOS COMO ESTUFAMENTO, DOR DE CABEÇA E PRISÃO DE VENTRE


Muita gente pensa em fazer uma dieta sem glúten para se sentir melhor. Afinal, quando o pão, o macarrão, o bolo e outras massas saem do cardápio, levam com eles desconfortos como sensação de estufamento, dor de cabeça, cansaço e prisão de ventre, certo?

Mas, quando pedimos a opinião de médicos, eles receitam uma dose de cautela antes de condenar o glúten por esses problemas. “Não há evidência científica de ponta que mostre que a retirada do glúten beneficie quem não tem uma doença diagnosticada, como a celíaca”, afirma o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg, professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).

Ele explica que é difícil descobrir a causa de queixas como dor abdominal, estufamento e sensação de mal-estar após comer. “São sintomas que podem ser relacionados a vários tipos de patologia. Em algumas pessoas, a ansiedade, por exemplo, leva a cólicas, náusea e até vômitos. O glúten pode ser um dos elementos de sensibilidade, assim como o estresse, a falta de alimentação adequada e o baixo consumo de verduras e frutas”, diz Fisberg. 

Nesse caso, exagerar nas refeições é outro fator que prejudica o sistema digestivo. “Quem sente estufamento, por exemplo, pode estar comendo demais. Qualquer excesso alimentar leva à sensação de empachamento e de má digestão”, afirma o endocrinologista Marcello Bronstein, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 


3 BOAS RAZÕES PARA NÃO TIRAR O GLÚTEN DA DIETA



Quem risca o glúten do cardápio elimina, também, boa parte dos carboidratos que costuma consumir. E, com isso, deixa de aproveitar diversos benefícios que esses cereais e massas trazem à nossa saúde. A rigor, só quem precisa eliminar essa proteína da alimentação são os celíacos. “Não há nenhuma evidência científica de que retirar o glúten da dieta beneficie quem não sofra de doença celíaca ou alergia ao trigo”, afirma Marcello Bronstein, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Confira, abaixo, por que é importante manter alimentos com glúten em suas refeições. 


1- É UMA FONTE DE PROTEÍNA VEGETAL

As proteínas são fundamentais para o nosso organismo. São elas que comandam o reparo dos tecidos, estruturam nosso crescimento e mantêm o sistema imunológico ativo. Para fazer tudo isso, as células consomem a menor partícula da proteína, o aminoácido. O problema é que nós não produzimos todos os aminoácidos de que precisamos, mas conseguimos os que faltam combinando diferentes alimentos. Por isso, é essencial ter uma dieta balanceada, rica em proteínas animais e vegetais. O trigo integral e o gérmen de trigo, por exemplo, são duas boas fontes dos nove aminoácidos considerados essenciais. No cardápio dos vegetarianos, uma importante fonte de proteína vegetal é o seitan, conhecido como “carne de glúten”, feito à base de trigo. A boa notícia para quem quer manter a forma é que as proteínas vegetais levam vantagem sobre as animais por estarem presentes em alimentos que têm mais fibras e menos gorduras. 


2 - CARBOIDRATOS NOS DÃO ENERGIA

Os alimentos que contêm glúten também são ricos em carboidratos, como os pães, os cereais e o macarrão. Por isso, são excelentes fontes de energia, uma vez que, ao serem digeridos, seus açúcares complexos liberam glicose para ativar as nossas funções vitais. Quem não consome carboidratos pode se sentir fraco e desanimado, especialmente ao acordar, já que seu corpo passou horas sem receber nenhum alimento. Nosso organismo pode até usar proteínas como fonte de energia quando acabam os carboidratos, mas essa manobra causará problemas se começarem a faltar proteínas para as funções essenciais. “O carboidrato e a gordura dão energia para elas serem usadas na síntese proteica. Sem eles, a proteína é transformada em energia e essa síntese não é feita de forma adequada”, explica a nutricionista Olga Amancio, presidente da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição). O resultado é que essa falta de proteína acaba causando males como fadiga, irritabilidade, letargia, perda de massa muscular e inchaço, além de enfraquecer os sistemas cardiovascular e respiratório. 


3- CEREAIS INTEGRAIS FAZEM BEM À SAÚDE

Consumir cereais e produtos feitos com suas farinhas integrais é uma excelente maneira de regular tanto o apetite como as atividades do intestino. As fibras e o farelo dos grãos integrais não só dão saciedade como auxiliam o nosso processo digestivo. “Com o abandono dos cereais, das frutas e dos legumes, estamos diminuindo nosso aporte de fibras, e quase 96% das crianças do Brasil não conseguem ingerir a recomendação diária. Isso leva a uma alteração do ritmo intestinal, e elas podem ficar constipadas e ter mais dor abdominal”, comenta o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg, professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Para consumir esses carboidratos de forma saudável, o ideal é que 25% dos alimentos que ingerimos no dia sejam compostos de grãos integrais, recomenda a Harvard T.H. Chan School of Public Health. Carboidratos integrais também demoram mais para se transformar em glicose, o que mantém estável o nível de açúcar no sangue. “Existem evidências científicas de que o trigo tem um efeito positivo nas bactérias benéficas do intestino e de que ele melhora a pressão arterial e regula o nível de colesterol no sangue”, completa Marcello Bronstein.

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