Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 459 | Junho de 2016 | Campo Mourão - Paraná

MILHO SEGUNDA SAFRA

O CEREAL QUE AQUECEU O MERCADO

O que não tem faltado para os produtores de milho segunda safra neste ano é otimismo. Se o comportamento do clima foi instável em alguns momentos, impedindo um melhor desenvolvimento das lavouras, que mesmo assim está rendendo boas médias de produtividade, o preço do produto nunca esteve tão aquecido, valorizando o cereal e empolgando quem optou pela cultura.

O cenário desenhado para o milho motivou o produtor a vender parte da produção antes mesmo de colher o produto no campo. Na área de ação da Coamo, se antes o volume de contratos antecipados não ultrapassava a média de 10 a 15% da produção prevista, nesta safra este número dobrou, saltando para 30% da produção sendo vendida sem que sequer um grão fosse colhido. Uma ferramenta muito usada na soja que ajudou a aquecer também o mercado do cereal. 

“A maioria dos contratos foram fechados por ocasião do plano de insumos da cooperativa realizado em outubro do ano passado. Na época, quem optou pela contratação antecipada vendeu a saca de milho por R$ 28,00 em média”, explica o trader sênior da gerência de Comercialização da Coamo, Dicezar Vernizi. “Mas, no último mês, com a explosão do preço por conta das exportações, que foram recordes, entre outros fatores, os contratos atingiram o preço inédito de R$ 40,00 até R$ 43,00”, completa.

APOSTA LUCRATIVA


Elio Weyh, de Dois Irmãos, distrito de Toledo: "Nem o melhor analista de mercado esperava este preço que o milho atingiu. O que será ótimo para nós porque além de preço alto devemos ter uma boa safra."

Na propriedade do cooperado Elio Weyh, localizada na Linha São José, distrito de Dois Irmãos, em Toledo (Oeste do Paraná), o milho de segunda safra faz parte do sistema de produção desde o início do cultivo do cereal no período de inverno naquela região, há cerca de 25 anos, segundo o agricultor. Conforme ele, na safra passada a média fechada foi de 266 sacas, e neste ano o resultado deve ser ainda melhor, atingindo de 280 a 290 sacas por alqueire. “Trabalhamos para isso e pelo aspecto da lavoura vamos alcançar este objetivo. Tivemos também o fator clima que ajudou na maioria do ciclo, assim como a assistência técnica da Coamo que tem contribuindo para que possamos melhorar a cada ano”, afirma Weyh, contente com a possibilidade de superar a meta traçada no início do plantio. “Nem o melhor analista de mercado esperava este preço que o milho atingiu. O que será ótimo para nós porque além de preço alto devemos ter uma boa safra. Quem plantou milho vai ganhar dinheiro e eu jamais deixei de apostar nessa cultura”, comemora o cooperado. 

Com o mercado aquecido, o lucro do milho vai representar em torno de 35 a 40% do orçamento anual na propriedade de Elio Weyh, para alegria do produtor. “De fato estamos muito contentes porque o milho sempre foi importante para o nosso sistema. Já tivemos anos ruins, mas a grande maioria foi de resultados positivos”, lembra.

Elio Weyh acompanha lavoura com o engenheiro agrônomo Cristiano Lorandi Sabaraini, do departamento de Assistência Técnica da Coamo em Dois Irmãos

Para o engenheiro agrônomo Cristiano Lorandi Sabaraini, do departamento de Assistência Técnica da Coamo em Dois Irmãos, a antecipação do plantio adotada pelos produtores daquela região contribuiu para o bom desenvolvimento das lavouras, os livrando do atraso na implantação ocorrida na maioria das regiões. “Depois das lavouras implantadas as chuvas foram regulares por aqui o que ajudou bastante para este resultado. Agora, com o mercado aquecido o cooperado terá um bom lucro. Assim como o Elio, pelo menos 90% dos nossos cooperados vão conseguir bons resultados com este cereal”, afirma Cristiano, acrescentando que os produtores fizeram a sua parte. “Percebemos que os cooperados estão aderindo todas as tecnologias disponíveis, utilizando materiais mais adaptados para a safrinha. Isso tudo influencia para esses bons resultados”, diz.

DE SAFRINHA A "SAFRÃO"

MERCADO AQUECIDO

Alavancadas pelo câmbio, as exportações brasileira de milho na safra 2014/15 atingiram a máxima histórica de 30,2 milhões de toneladas. O fluxo acentuado aos portos enxugou o excedente de milho das regiões produtoras. Com a chegada de uma safra de verão pequena diante da queda de área e uma demanda interna crescente, o mercado se viu completamente enxuto nestes primeiros meses, criando uma situação de desabastecimento interno e, consequente, sustentação e elevação de preços. 

A este cenário, somam-se os efeitos da estiagem que afetaram as principais regiões produtoras durante o mês de abril e, mais recentemente, as geadas nos dias 11 e 12 de junho. Como resultado, há uma situação bastante agravada para o quadro de oferta e demanda.  

As atenções agora se voltam para a colheita da safrinha e para os índices de produtividade. Segundo consultorias privadas e órgãos oficiais, a safrinha não deve ultrapassar os 50 milhões de toneladas, bem abaixo dos 61 milhões de toneladas previstos inicialmente. Pela lógica de mercado, os preços cederão por ocasião do pico da colheita da, mas não a ponto de provocar alívio aos consumidores, pois a recomposição dos estoques só acontecerá com bons números que possam vir da safrinha 2017. Até lá, o produtor verá bons preços para o milho, com oscilações naturais por conta da sazonalidade normal de mercado.

Para este ano, dificilmente o Brasil repetirá a mesma performance alcançada em 2015. Informes não oficiais dão conta que 20 milhões de toneladas da safrinha 2016 já foram comercializados antecipadamente, a maioria com tradings que visam o mercado externo. O volume remanescente ainda não comercializado será duramente disputado pelo mercado doméstico, que não permitirá saída de milho pelos portos. Uma janela de oportunidade se abre para outros exportadores na ocupação do espaço deixado pelo Brasil, especialmente Estados Unidos e Argentina. Maior participação americana nas vendas externas significam cotações mais elevadas em Chicago. 

Fonte: Gerência de Comercialização da Coamo


ÁREA COM MILHO SEGUNDA SAFRA

1,28 milhão de hectares é a área de plantio com milho safrinha na área de ação da Coamo. Um aumento de 6,5%. 

1,66 milhão de hectares estão ocupados com milho safrinha no Mato Grosso do Sul. O aumento é de 3,1% 

No Paraná, são 2,20 milhões de hectares. 14,6% a mais do que em 2015 

A área brasileira cresceu 7,2%, sendo de 10,28 milhões de hectares

Fonte: Gerência de Assistência Técnica da Coamo

Claudio Eloi com o pai Alfredo Isbrecht. Para eles, o nome safrinha já deixou de existir em razão das altas produtividades

Na região de Nova Santa Rosa, bem próximo a Dois Irmãos, também no Oeste Paranaense, o clima chuvoso no momento do plantio e seco na fase de desenvolvimento, deixou o cooperado Claudio Eloi Isbrecht preocupado. Mas, conforme ele, apesar de ter sobrado umidade e depois faltado chuva, as lavouras conseguiram superar o destempero climático e produzir um resultado ainda vantajoso. “A perda não é tanta como esperávamos e vamos colher ainda uns 250 sacas por alqueire. Ano passado tivemos um resultado bem melhor, mas no levantamento dos últimos dez anos, vamos ficar dentro da média”, garante.

De acordo com Claudio o apelido safrinha já não é mais utilizado na região em razão das altas produtividades alcançadas pelos produtores ao longo dos anos, desmistificando o temor que se tinha anteriormente de que o milho de segunda safra era uma cultura extremamente de risco. “Lógico que ainda existe perigo, mas com o melhor posicionamento dos materiais e o uso de tecnologia estamos a cada ano driblando essa desconfiança e ganhando dinheiro com o milho no inverno. Por isso para nós não é mais safrinha e sim uma safra normal”, explica Isbrecht, lembrando que no passado o trigo era a única opção de cultivo de inverno para a região. “Antes era só trigo e não colhíamos mais que 100 sacas por alqueire. Mas, hoje com toda essa tecnologia estamos produzindo milho com ótimos resultados”, observa.

COLHEITA AVANÇA NO OESTE 

O recolhimento da produção vem sendo intensificado no Oeste do Paraná e ao passo que o corte das lavouras avança os cooperados computam e comemoram os resultados deste ano. O agrônomo Everton Luis Revay, encarregado do departamento técnico da cooperativa em Nova Santa Rosa, revela que os produtores estavam apreensivos com o clima chuvoso do final de maio, mas que agora já estão focados no recolhimento da produção e animados com o bom rendimento da safra. 

Conforme Revay, o cereal é hoje um importante negócio para os agricultores do Oeste do Estado, que lançam mão de um grande investimento na cultura. “Antes havia um temor, mas hoje nossos cooperados investem em adubação de base e cobertura, entre outros. É uma segunda e grande safra que vem trazendo muita rentabilidade ao produtor. Temos um trabalho de consórcio de milho com brachiária que vem dando excelentes resultados, garantindo um grande equilíbrio do solo e todo o sistema produtivo”, enaltece Revay.

Família Isbrecht acompanha colheita com o agrônomo Everton Luis Revay, de Nova Santa Rosa

ESTATÍSTICA POSITIVA

"Para quem trabalha consciente, preparando bem a terra, adubando a cultura e caprichando em todo o manejo, vale a pena investir." Marcos Sommariva, cooperado em Peabiru (Centro-Oeste do Paraná)

Mesmo com a irregularidade climática na fase de implantação e depois do desenvolvimento das lavouras, que prejudicou um melhor rendimento do cereal no campo, a segunda safra de milho deste ano vai render bons e bem-vindos frutos para a maioria dos produtores. O aquecimento do mercado, motivado pelas exportações que bateram recordes nos primeiros meses de 2016, será o grande responsável por este resultado positivo. E se a chuva tivesse aparecido nas horas certas, o lucro seria muito superior ao atual, que já será muito bom. 

É o que está acontecendo na propriedade do cooperado Marcos Sommariva, de Peabiru (Centro-Oeste do Paraná). Ele cultivou 36 alqueires de milho neste inverno e garante que o cereal representará pelo menos 50% do lucro extraído na propriedade neste ano. “Posso dizer que o milho representa metade do meu rendimento, o restante fica por conta da soja, e se o clima tivesse contribuído um pouquinho mais, certamente seria o meu principal negócio em 2016. Tivemos muita chuva no início, com pouca luz e depois uma seca que prejudicou um pouco o rendimento. Não fosse isso estaríamos colhendo uns 330 sacas de média, mas ainda assim está muito bom”, afirma Sommariva, que investe no milho de segunda safra há pelo menos 15 anos e se orgulha em dizer que na estatística teve muito mais lucro que prejuízo. “Se tive frustração foi em uma ou duas safras que me lembro, por conta de geada. É uma alternativa que temos aqui na região por tirar a soja cedo. Para quem trabalha consciente, preparando bem a terra, adubando a cultura e caprichando em todo o manejo, vale a pena investir”, observa o cooperado, que deve colher 280 sacas de média nesta safra. 

Para o gerente da unidade da Coamo em Peabiru, o engenheiro agrônomo Sergio Bertolla, quem optou pelo milho neste inverno e manteve ou até aumentou a área acertou na mosca. “Se conseguiu fazer o plantio mais cedo então, terá melhores resultados”, diz. Ele lembra que na região de Peabiru, muitos produtores estão obtendo resultados positivos por conta do capricho no manejo e do investimento adotado. “Estamos tendo vários casos de produtividades acima de 300 sacas por alqueire. Com os preços em alta, quem se planejou, investiu e fez um bom manejo terá um bom rendimento, como está acontecendo aqui com o Marcos Sommariva”, salienta. 

PARANÁ COLHE SEGUNDA SAFRA DE MILHO COM PREÇOS 100% ACIMA DO ANO PASSADO

O Paraná começou a colher com mais intensidade o milho de segunda safra. O produtor está mais animado e de olho nos bons preços de venda do grão, que este ano aumentaram 100% em relação a maio do ano passado em função da escassez de milho no mercado interno. 

De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a segunda safra de milho de 2016 deve atingir o volume de 12,1 milhões de toneladas, referente a uma área plantada de 2,2 milhões hectares. 

De acordo com o analista do Departamento de Economia Rural (Deral), Edmar Gervásio, os preços recebidos pelos produtores vêm em ritmo de alta desde o início do ano. “Para o produtor o cenário é otimista, pois a produção nacional deverá ser menor e isso impacta na oferta disponível do grão no mercado e os preços se elevam”, explica.  

A valorização do milho ao produtor deve se manter, mesmo em período de colheita, o que sugere que o ele será motivado a ampliar a área plantada com milho na primeira safra (safra de verão 2016/17). A produção de milho da primeira safra no Paraná vinha perdendo área desde o período 2007/08, quando a segunda safra se tornou  maior do que a primeira. 

De acordo com levantamento do Deral, no primeiro quadrimestre de 2016 o Paraná exportou 1,2 milhão de toneladas de milho, o que também representou um incremento de quase 100% na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o Brasil – informa o levantamento – exportou 12,2 milhões de toneladas, uma alta de 138%. Há expectativas de superar as 29 milhões de toneladas exportadas pelo País em 2015.   

Segundo o analista, a disponibilidade de milho no Estado este ano deverá ser reduzida em mais de 4%, o que significa uma redução de 663 mil toneladas, o que naturalmente trará impactos em toda a cadeia produtiva. O Deral estima que o consumo animal deve crescer 1,6% e o estoque de passagem que em 2015 era suficiente para mais de 20 dias, este ano deve chegar ao fim zerado. 

Já os estoques internacionais devem se manter estabilizados, sugerindo que os preços do milho devem se manter em alta também no cenário externo. “Os Estados Unidos, maior produtor mundial de milho, está estimando um aumento de 4,4% na produção mundial do grão, que deve atingir um volume de 1 bilhão de toneladas em 2016. Ainda assim, a oferta mundial e os estoques devem se manter os mesmos dos últimos anos em função do aumento do consumo mundial”, disse o analista.


MATO GROSSO DO SUL

No Mato Grosso do Sul a colheita também segue em ritmo acelerado para tirar do campo o cereal cultivado em uma área de 1,66 milhão de hectares. 

Na avaliação do analista de grãos Leonardo Carlotto, da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), dificilmente a produção do milho de segunda safra passará de sete milhões de toneladas. A previsão mais recente era de colheita de 7,52 milhões de toneladas. A produtividade estimada passou de 72 sacas para 68 sacas por hectare.

Carlotto lembra que a projeção inicial era de produção de 9,5 milhões de toneladas de milho. “Houve queda de cerca de 30%. O atraso na semeadura da maior parte do grão plantado no Estado e a realidade climática foram determinantes para essa queda", diz o especialista. Ele alerta que caso esse cenário não se altere podem ocorrer ainda mais perdas.



PRODUÇÃO ESTIMADA COM MILHO SEGUNDA SAFRA

49,99 milhões de toneladas é a previsão de produção com milho safrinha no Brasil. Se confirmada, o volume será 8,6% menor do que no ano passado

No Paraná, a produção prevista é de 12,14 milhões de toneladas, com elevação de 7,6% 

No Mato Grosso do Sul, há uma previsão de queda de 13,2%, com uma produção de 7,9 milhões de toneladas

Na área de ação da Coamo, a produção prevista é de 5,9 milhões de toneladas, queda de 9,4% 

Fonte: Gerência de Assistência Técnica da Coamo

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