Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 482 | Julho de 2018 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“Uma das nossas bandeiras é buscar mudanças na legislação para os limites dos agricultores em salvar sementes”

Josef Pfann Filho, empresário, engenheiro agrônomo e produtor de sementes há 32 anos na região de Guarapuava. Ele é presidente da Associação Paranaense de Sementes e Mudas (Apasem), eleito em 2017 com mandato até 2019, e presidente da Fundação Meridional. Em sua trajetória foi secretário municipal de Agricultura (2001 a 2003) em Guarapuava e participou de diretorias da Associação Paranaense e Brasileira de Criadores de Charolês, Sindicato e Sociedade Rural de Guarapuava, Conselho de Águas do Município de Guarapuava. 

O agropecuarista, empresário e engenheiro Agrônomo Josef Pfann Filho é produtor de sementes há 32 anos na região de Guarapuava, Centro-Sul do Paraná, presidente da Associação Paranaense de Sementes e Mudas (Apasem), eleito em 2017 com mandato até 2019, e presidente da Fundação Meridional. Pfann Filho é o entrevistado deste mês da Revista Coamo. “Nossas condições climáticas são ótimas e os sementeiros têm investido cada vez mais em infraestruturas e conhecimento das suas equipes. Com assistência técnica especializada, aliada a rastreabilidade dos processos produtivos, tem entregue sementes de altíssima qualidade aos agricultores” afirma Pfann Filho, que na sua trajetória foi secretário municipal de Agricultura (2001 a 2003) em Guarapuava e participou de diretorias da Associação Paranaense e Brasileira de Criadores de Charolês, Sindicato e Sociedade Rural de Guarapuava, Conselho de Águas do Município de Guarapuava. 


Revista Coamo: Qual o papel da Apasem?

Josef Pfann Filho: A Apasem foi fundada em agosto de 1971 com o intuito de defender os interesses dos empresários e cooperativas de produção de sementes e mudas do Estado do Paraná.  Congrega atualmente 63 associados, com maior atuação na produção de sementes de soja e trigo, cevada, feijão, aveias e outras espécies. Nessas quase cinco décadas de estrada, a Apasem tem se dedicado à defesa e representação do setor, sempre com forte atuação na criação e sugestões de novas leis, tanto estadual quanto federal. É destacada como uma das mais fortes e bem estruturadas associações de sementes do Brasil. Também está no escopo de atividades da instituição a análise de sementes, o treinamento e capacitação dos técnicos. Constantemente ela promove encontros, seminários e reuniões com associados e entidades, que atuam com o agronegócio, como forma de captar as demandas quem vêm do campo para que se possam saná-las através das suas atividades. É da Apasem o papel de representar seus associados junto a diferentes órgãos e entidades, reivindicando a resolução das demandas apresentadas pelo setor sementeiro.


RC: Qual o desafio atual e o futuro da Instituição?

Pfann Filho: O grande desafio é fazer com que todos os associados entendam a importância de participarem com afinco e determinação nas atividades da Apasem, que é a representante política do setor no Estado, bem como fornecer dados e informações da produção e comercialização, para que essa coleta possa gerar dados consolidados e precisos. Desta forma todos terão condições de efetuar melhor seus planejamentos de produção. No futuro, teremos que estar muito mais atentos e organizados, pois com os avanços tecnológicos que andam a passos largos, a demanda das instituições será muito maior e haverá a necessidade de ações mais próximas aos obtentores vegetais e órgãos governamentais, para que o sistema ande em equilíbrio, sobretudo na sistemática de multiplicação por licenciamento.


RC: Qual é o cenário atual na produção de sementes no Paraná?

Pfann Filho: O Estado sempre foi e é muito eficiente na produção de sementes de alta qualidade. Isso se deve a toda organização que houve no sistema de produção no passado, em algumas épocas timoneado pela Seab (Secretaria Estadual da Agricultura), que sempre foi rigorosa nas fiscalizações, fato que contribuiu significativamente para formação de empresas e profissionais competentes na produção das sementes paranaenses, colocadas à disposição dos agricultores de todo o Brasil. Vale lembrar que algumas empresas e cooperativas deslocaram suas regiões de produção de sementes, devido a demanda por volume e alta qualidade. Estes produtores se estabeleceram em regiões que não tinham tradição de produção, mas que apresentam excelentes condições climáticas para produção com alta qualidade. O que preocupa significativamente é que algumas empresas deixarão o mercado porque estamos tendo uma concorrência desleal com os avanços da “pirataria” e grãos que são salvos pelo anexo XXXIII, haja vista que não pagam Royalties aos obtentores. Por conta dessas condições, mercado reduzido e alto custo de produção, algumas empresas vêm perdendo competitividade e passando por dificuldades.


RC: Qual o nível tecnológico das sementes paranaenses em relação as produzidas em outros estados?

Pfann Filho: Em relação à qualidade podemos afirmar que o Estado do Paraná está muito bem situado. Nossas condições climáticas são ótimas e os sementeiros tem investido cada vez mais em infraestruturas e conhecimento das suas equipes, desta forma a assistência técnica especializada aliada a rastreabilidade dos processos produtivos tem entregado sementes de altíssima qualidade aos agricultores.


RC: Como a Apasem atua no combate as práticas lesivas aos interesses do setor?

Pfann Filho: Em função da sua natureza, a atuação da Apasem sobre práticas lesivas é baseada na orientação e educação, além da cobrança dos órgãos competentes para que façam seu papel na fiscalização da produção, comércio e do consumo de sementes. Neste ano, a Apasem lançou uma campanha de incentivo ao uso de sementes certificadas, cujo lema é “Tenha uma atitude Legal, use sementes Certificadas”. Esta tem caráter educativo e busca orientar a sociedade, técnicos e agricultores para os riscos do uso de sementes piratas.


RC: Qual a importância da Apasem no trabalho realizado com as diversas instituições?

Pfann Filho: Desde as primeiras multiplicações de sementes nos anos de 1960 e 1970, a Apasem foi a entidade chamada pelo governo à ser o elo de ligação e de comunicação entre a iniciativa privada e os órgãos regulatórios. Isto permanece até hoje. Sempre tivemos excelente relacionamento com todas as entidades governamentais, nossa forma de atuação é pautada pela transparência e legalidade, sempre discutida em foro técnico. Quanto aos obtentores também temos bom relacionamento, haja vista que muitos deles estão presentes na associação e constantemente interagimos com ideias e ações em benefício de todo setor.


RC: Como é o trabalho na defesa de sementes de boa qualidade e legais?

Pfann Filho: Além de oferecer aos clientes sementes de alta qualidade, a Apasem tem estado atenta ao que diz a legislação vigente e sempre tem contribuído, junto com outras instituições nacionais sobre as necessidades do setor.  Uma das bandeiras é buscar mudanças na legislação para os limites dos agricultores em salvar sementes, hoje é de forma indiscriminada e serve de porta de entrada para a pirataria. Também defendemos a necessidade de uma fiscalização mais efetiva, temos a consciência de que apesar de todo esforço do Mapa, o Brasil é muito extenso para que haja uma fiscalização eficaz. Entretanto, associando a mudança na lei e uma melhor condição aos órgãos de fiscalização poderia surtir efeito.


RC: Quais os riscos do uso de sementes piratas nas próximas safras?

Pfann Filho: Em relação as sementes piratas, como mencionei anteriormente, essa é uma grande preocupação, pois a prática compromete a evolução do mercado, e tira o incentivo a pesquisa e a implementação de novas tecnologias, correndo o risco de sofrermos um apagão tecnológico a longo prazo. Temos realizado trabalhos em diferentes frentes: além da defesa para que a parte legal evolua e seja aplicada, temos levado informações específicas por meio de palestras e atividades de esclarecimento sobre a importância de se utilizar sementes de qualidade, através da campanha “Tenha uma Atitude Legal: use sementes certificadas”. Desde o último mês de fevereiro esta campanha vem apresentando vários desdobramentos, além, de materiais de apoio, divulgação na mídia de pautas que possam levantar o assunto junto a sociedade, também temos divulgado peças publicitárias em todas as regiões do Estado por meio das rádios. E novas fases já estão em andamento. Precisamos de um trabalho constante no qual o assunto não venha a cair no esquecimento. Necessitamos frisar ao público que esse é um problema a ser combatido por toda a sociedade. Para isso, temos tido apoio de diversos órgãos e instituições.


RC: Qual é na sua opinião, a importância do cooperativismo para o desenvolvimento agropecuário do Paraná e do Brasil?

Pfann Filho: Em relação ao cooperativismo podemos afirmar que é a mola propulsora para o desenvolvimento da agropecuária nas principais regiões do Paraná, principalmente as novas regiões que se desenvolveram a partir da migração de produtores rurais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, bem como de produtores paranaenses que foram buscar novas oportunidades. As cooperativas acolhem todos os produtores que tenham interesse, favorecendo principalmente os que têm menores módulos de produção, haja vista, que de forma isolada não teriam a oportunidade de acesso a diversos serviços que as cooperativas oferecem.


RC: O produtor está cada vez mais profissionalizado e empreendedor. Qual deve ser o perfil dos produtores rurais nos próximos anos?

Pfann Filho: A atividade agropecuária para ser competitiva tem que estar estruturada da mesma forma que a indústria e, para tanto o agricultor terá que ser um profissional com conhecimentos de finanças, estratégia, liderança, mercado e outros, além de estar “focado” na atividade. Quem não fizer seus planejamentos de curto, médio e longo prazo, e não contar com assistência técnica especializada, não se atualizar na atividade, com certeza ficará para trás, porque teremos que entregar cada vez mais quantidade com qualidade a preços menores, ou seja, teremos que ser muito eficientes para podermos permanecer no mercado.

Josef Pfann Filho durante a abertura do Encontro de Inverno na Fazenda Experimental da Coamo
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