Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 468 | Abril de 2017 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

“SISTEMA OCEPAR REIVINDICA REDUÇÃO DOS JUROS E AUMENTO NOS LIMITES DE FINANCIAMENTO”

Flavio Enir Turra, natural de Joaçaba, Santa Catarina, filho de agricultor, formado em engenharia agronômica pela Universidade Federal do Paraná no ano de 1982, com Mestrado em Economia Agrária pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba (ESALQ/ USP). Entrou na Ocepar no ano de 1982 e atualmente ocupa a função de gerente Técnico e Econômico da entidade. Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva das Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura (Mapa).

O entrevistado deste mês na Revista Coamo é Flavio Enir Turra, gerente Técnico e Econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). Ele aborda diversas questões de interesse dos associados e do cooperativismo paranaense, apresenta resultados da atuação cooperativista e elenca os principais pleitos junto ao governo federal para resolver problemas enfrentados pelo cooperativismo. “As nossas cooperativas cresceram 16% em 2016, contribuíram para a geração de renda e emprego no campo e na cidade, e ajudam a estimular a economia regional e dão o impulso necessário para o crescimento do PIB do país.”

Revista Coamo: Qual é a missão e atuação da gerência Técnica e Econômica da Ocepar?

Flávio Enir Turra: A Ocepar representa e defende os interesses do sistema cooperativista paranaense perante as autoridades e a sociedade, e presta serviços adequados ao pleno desenvolvimento das cooperativas. A gerência Técnica e Econômica (Getec) presta suporte para o encaminhamento de pleitos e projetos de interesse do cooperativismo paranaense. Atuamos junto às áreas Técnicas e Gerenciais das cooperativas para identificar entraves à atuação de nossas filiadas, e trabalhamos na fundamentação técnica de pleitos e auxiliamos a diretoria do Sistema Ocepar no encaminhamento e monitoramento desses pleitos. As cooperativas interagem com a Getec em diversos grupos de trabalho especializados, entre os quais, Pesquisa, Pecuária, Crédito e Seguro Rural, Zoneamento Agrícola, Mercado, Meio Ambiente, Sanidade, Tributária, Jurídica, de suma importância para balizar tecnicamente as nossas atividades. Participamos também com profissionais da área nos diversos comitês do Plano Paraná Cooperativo 100 (PRC-100), que pretende atingir a meta de um faturamento de R$ 100 bilhões.

RC: Quais as reivindicações do cooperativismo ao governo federal com relação ao plano safra 2017/18?

Turra: O atual cenário político e econômico é caracterizado pela restrição de gastos e fiscalização na correta utilização do dinheiro público, mas também por uma aparente melhoria de alguns indicadores econômicos. Por exemplo, a análise de mercado do Banco Central estima inflação perto de 4% e crescimento de 0,4% no PIB de 2017 - em 2016, os índices consolidados foram de 6,3% e -3,6%, respectivamente. Quanto à taxa Selic, que baliza os juros da economia brasileira, a estimativa é chegar ao final do ano com 8,5% ao ano, ante 13,75% ao ano de 2016. Em um cenário de diminuição da Selic, a expectativa é que as taxas de juro rural também reduzam. Na safra 2016/17 as taxas dos principais programas de apoio à agropecuária estavam entre 8,5% e 9,5% ao ano. O Sistema Ocepar e as cooperativas defendem junto ao governo, redução de pelo menos três pontos percentuais nessas taxas. Nesse sentido, é importante mencionar que há sinalização do governo federal em reduzir a equalização de juros, que é o aporte que o Tesouro Nacional faz às instituições financeiras para compensar os menores juros nas operações de crédito rural. Em contrapartida, o Ministério da Agricultura (Mapa) sinaliza para aumento no volume de recursos para a subvenção do prêmio do seguro rural. O pleito das cooperativas paranaenses é da alocação de R$ 1,2 bilhão para o programa de seguro rural, trabalhamos para que sejam feitas adequações no Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária (Prodecoop) e no Programa de Capitalização das Cooperativas (Procap-Agro), para os quais reivindicamos a redução dos juros e o aumento nos limites de financiamento.

RC: Qual a participação do setor cooperativista para alavancar o PIB e a economia brasileira?

Turra: A nossa expectativa é de que o agronegócio mantenha o bom resultado no mercado externo. No entanto, a taxa de câmbio é uma variável que pode afetar nosso desempenho no curto prazo. Para o agronegócio, que importa pouco e exporta muito, a taxa de câmbio elevada tende a promover um aumento das exportações, pois o valor em reais recebido pelo produto embarcado é maior. O ciclo produtivo 2016/17 deve fechar com produção nacional na ordem de 228 milhões de toneladas, 22,1% a mais ante a safra passada e boa parte deve ter como destino o mercado externo. Embora o resultado final dependa de outras variáveis, como o desenvolvimento de preços internacionais e a taxa de câmbio, pode-se estimar que o setor agropecuário continuará sendo crucial para a balança comercial brasileira. Em 2016, o saldo comercial do Brasil foi de US$ 47,7 bilhões, o agronegócio exportou US$ 84,9 bilhões, o que representou 46% das nossas vendas externas. As cooperativas brasileiras exportaram US$ 5,2 bilhões em 2016, e devem manter o bom desempenho neste ano. Cerca de 40% das exportações das cooperativas brasileiras são realizadas pelo cooperativismo paranaense.

Flavio Enir Turra, gerente Técnico e Econômico do Sistema Ocepar

RC: Como a Ocepar analisa o aumento da produção na safra 2016/17 e os entraves em relação à armazenagem e a comercialização?

Turra: O Paraná deve chegar a 42,2 milhões de toneladas na safra 2016/17, sendo 24,2 milhões de toneladas na safra de verão, 14,1 na segunda safra e 3,9 na safra de inverno. Conforme levantamento da Secretaria de Agricultura do Estado do Paraná, até o final de março, 26% da safra de soja paranaense havia sido comercializada, o que representa um atraso em comparação a anos anteriores. Isso aliado ao grande volume de produção, poderá causar gargalos no acondicionamento de grãos, já que os armazéns precisam ser liberados para a chegada da safrinha e da safra de inverno. O Paraná possui uma capacidade estática de armazenagem de cerca de 30 milhões de toneladas e as cooperativas respondem por 16,2 milhões de toneladas. O ideal seria que a capacidade fosse pelo menos igual ao tamanho da safra para que a comercialização pudesse ser feita sempre no momento mais oportuno. Por isso, o cooperativismo paranaense pleiteia manutenção e melhorias no Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), com mais recursos e juros diferenciados. O nosso pleito é a redução das taxas de juros de 8,5% para 5,5% ao ano. O Ministério da Agricultura já sinalizou que vai dar especial atenção a esse programa diante da supersafra que está se desenhando.

RC: Quais os principais gargalos enfrentados pelas cooperativas agropecuárias?

Turra: A agropecuária brasileira foi surpreendida em 2017 com inúmeras medidas decorrentes do ajuste das contas públicas do governo estadual e federal. O entendimento do Supremo Tribunal Federal para o desconto do Funrural, a oneração do ICMS nas operações internacionais do trigo em grãos, farinhas, misturas para bolo e de fios de algodão, a reoneração da folha de pagamentos foram algumas das medidas que geraram grande preocupação do setor produtivo paranaense e, em especial, das cooperativas. Com o apoio das cooperativas, O Sistema Ocepar atuou junto à Receita Estadual e Federal, área previdenciária do governo federal para reverter ou amenizar os efeitos negativos dessas medidas, e está atuando no plano-safra e zoneamento agrícola de risco climático (ZARC), que está em processo de revisão. Devido à situação do caixa do governo, as negociações são bastante difíceis. Nossa grande preocupação é manter as principais linhas de financiamento do cooperativismo em condições adequadas de juros e volume de recursos.

RC: Diante da crise atual, como fica a questão da agregação de valor à produção no cooperativismo?

Turra: Isso é o que faz a diferença no momento de crise. Primeiro, o cooperativismo agrega valor econômico à produção pelo processamento dos seus produtos. Grandes investimentos foram realizados nos últimos anos, de forma que atualmente 48% das receitas das cooperativas advêm da agroindústria. E cada vez mais é evidente a necessidade da pesquisa, inovação, e transferência de tecnologia. As cooperativas do Paraná contam com 14 laboratórios, 20 centros de pesquisa/unidades demonstrativas e 1816 profissionais de assistência técnica. O Sistema Ocepar e as cooperativas estão imbuídas em implementar o PRC 100, programa que visa investir em atividades que deem suporte ao crescimento sustentável nos próximos anos.

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