Coamo Agroindustrial Cooperativa | Edição 473 | Setembro de 2017 | Campo Mourão - Paraná

ENTREVISTA

"AS PESQUISAS SÃO RELEVANTES PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL."

Roberto Luis Olinto Ramos é engenheiro de Sistemas, fez carreira no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) onde foi diretor de Pesquisas em 2004 e é diretor presidente desde o dia 1º de junho de 2017

Roberto Luis Olinto Ramos, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o entrevistado do mês. Ele fala sobre os trabalhos desenvolvidos pelo órgão, desafios para os próximos anos e o atual Censo Agropecuário.


Revista Coamo: Como foi a sua trajetória no IBGE?

Roberto Olinto: Entrei no IBGE em 1980, em uma época que o IBGE fazia as entrevistas e você apresentava seu currículo, fazia entrevista e tinha que explicar o porquê. Acabei entrando em um projeto, na época, de energia e fui ficando. Pensei que ia ficar somente uns cinco anos, estudar, aprender, e depois iria para outro emprego. Mas, vou fazer 38 anos de IBGE e ainda não fui embora. Dentro da instituição trabalhei na área de Estatística macroeconômica, contas nacionais e como técnico. Depois fui ser gerente das Contas Trimestrais para implementar os sistemas nessa área e fui para as Contas Anuais. Fui coordenador adjunto e depois virei coordenador de Contas Nacionais durante mais de 10 anos. Implementei a mudança de base de 2000 a 2010 quando fui para a diretoria de Pesquisa onde fiquei por três anos olhando o IBGE como um todo e desde junho de 2017 sou presidente do IBGE.


RC: Qual é o papel do IBGE?

Olinto: O IBGE é essencialmente um coordenador institucional do sistema estatístico e geo-informação do Brasil. O geográfico ampliou, já é diretoria e virou diretoria de Ciência. Então o papel do IBGE, na verdade, é inicialmente de coordenador, e dentro desse papel mais institucional é um produtor de informação. Tem delegado pelo Plano de Estatística do Brasil, pelas leis de estatística do ano 1973, com a obrigação de desenvolver uma série de estatísticas. As estatísticas são estabelecidas por leis e são continuação dessas indicações de lei, pois a lei não muda com tanta frequência, mas o IBGE é responsável pelo senso - atualmente lançado o senso agropecuário- e populacional com indicadores sociais como nacionais, pesquisas de empresas, pesquisas domiciliares e por aí a fora, além de pesquisas específicas encomendadas sistematicamente, pesquisa nacional de saúde, de saneamento básico e educação. Então, o papel do IBGE é duplo, de coordenador e produtor de estatística.


RC: Quais os desafios do IBGE?

Olinto: O desafio do IBGE é o que chamo de modernização. É essencial se tornar um órgão que produz estatística por meio de métodos tradicionais como a amostragem e coleta de dados, mas também o uso do que chamamos de registros administrativos para ampliar ou agilizar as produções de informações. Como exemplo, a nota fiscal eletrônica implementada no Brasil, que tem um potencial de uso estatístico enorme. Então, um dos desafios é conseguir fazer com que a base da nota fiscal eletrônica seja disponibilizada ao IBGE e, com isso, possamos ter mais uma fonte para a progressão de dados estatísticos com o uso de um registro fiscal para a estatística. Tem também o desafio de reestruturar e modernizar a organização do IBGE, e rever a lei estatística que é de 1973 para a realidade do século XXI.


RC: As pesquisas realizadas são relevantes para desenvolver o Brasil?

Olinto: Essa pergunta é fácil, pois todas são importantes e o IBGE não faz nenhuma pesquisa que não seja relevante para o desenvolvimento do Brasil. Algumas são maiores como o senso e outras menores, como por exemplo, uma pesquisa de saneamento básico. Mas, não há pesquisa que não seja relevante. A definição de estatística é isso, pelo manual de boas práticas e nos fundamentos. A estatística é demandada pela sociedade e nós atendemos uma determinada demanda, por esta razão não tem estatística que não seja relevante.


RC: De que formas são utilizadas as informações coletadas nas pesquisas?

Olinto: Nós temos três grandes usuários tentando criar uma certa tecnologia. Temos os usuários do governo que têm a função básica de usar o conhecimento do IBGE para prover o Brasil de políticas públicas. Temos alguns grandes usuários e a mídia, cada vez mais ampla que é o usuário que acompanha e divulga a informação de forma mais simples usando a técnica, e os vários tipos de mídias, desde o Twitter até o jornal impresso. Temos os usuários que são a população em geral que procura informação já com conhecimento e com a compreensão que pretende usá-la. Uma população com uma formação técnica mais estatística e como um todo que não tem formação, mas que usa estatística, ela quer saber a taxa de emprego, a taxa de inflação. Essa população é a mais importante que nós temos e devemos olhar com mais cuidado para informá-la da forma mais acessível. Os especialistas têm um conhecimento, mas a população como um todo não têm esse conhecimento e deve ser olhada com muita atenção.


RC: Qual a importância das pesquisas com credibilidade?

Olinto: A credibilidade da informação é baseada em alguns princípios fundamentais, são recomendações que foram desenvolvidas pelos institutos estatísticos nos últimos anos, tentando criar o que chamamos de uma “Estrutura de qualidade”, mas o que significa isso? A informação é publicada e tem que ser divulgada a todos na mesma hora. A metodologia adotada tem que ser divulgada e publicada na internet. Todos têm que saber o que é calculado, as bases de dados são todas acessíveis, exceto aquelas produzidas em sigilo. Qualquer informação que entra no IBGE não sai de jeito nenhum, não tem juiz, não tem ação que tire uma informação de dentro do IBGE, isso por lei. Então, a credibilidade vem daí, vem da gente que está, cada vez mais, usando mídia para informar e mostrar o que fazemos. Recebemos qualquer usuário dentro do IBGE para tirar dúvidas ou explicar coisas. Essa abertura da instituição vem com a credibilidade. Tem alguns detalhes, por exemplo, como as estatísticas conjunturais, que são protegidas na própria instituição, o sigilo é absolutamente acompanhado, pois o dado tem que ser controlado e não pode ter nenhum risco de vazamento. Ele é divulgado de acordo com a rotina, quer dizer, ele vai as sete horas para um conjunto de autoridades bloqueado e fechado, é divulgado às nove horas sistematicamente, e esse dado é definido um ano antes. A sociedade sabe exatamente quando a informação vai ser divulgada.


RC: Como será o senso agropecuário?

Olinto: O senso agropecuário vai começar no dia 02 de outubro. Será realizado como um grande senso, ou seja, vai varrer o país inteiro, em todos os estabelecimentos, classificados como de produção agropecuário. Deve durar uns cinco meses e graças a todos os sistemas de coleta digital e transmissão, pretendemos começar a divulgação das informações em junho/julho de 2018. Esse senso foi projetado inicialmente considerando um orçamento, mas que acabou sendo reduzido e teve que ser redefinido. Isso inclui uma discussão com a sociedade e o usuário, para que não tivesse nenhuma perda de informação relevante, cobrindo toda a agropecuária brasileira.


RC: O que o IBGE contabilizará e de que forma esses dados serão utilizados?

Olinto: Vamos contabilizar todas as informações agropecuárias, ou seja, produção, consumo, condições da família produtora, renda, uso de agrotóxicos, equipamentos, onde a família reside, dentre outros itens no questionário do senso. A utilização desses dados será pelos especialistas, pelo governo e pela sociedade como um todo, cada um com o seu nível de informação e interesse.


RC: De que forma as entidades e os agricultores poderão contribuir com o senso?

Olinto: São duas contribuições fundamentais, ajudando na divulgação do senso e dando apoio na importância que esse senso tem. Os agricultores respondendo as perguntas dos pesquisadores do IBGE e os recebendo com carinho e paciência porquê a qualidade do senso é fundamentalmente baseada no seu entrevistado e na qualidade das respostas. Nosso trabalho é levar o questionário até eles, é um trabalho longo mais a qualidade vem exatamente da informação. Por isso, pedimos que os agricultores sejam nossos aliados nessa empreitada e nos ajudem, respondendo com qualidade de informação, pois isso é fundamental à operação. O senso populacional já está sendo planejado neste ano, e a coleta será feita em 2020, de acordo com o planejamento e dentro da rodada do senso mundial do Brasil.

Lançamento do Censo Agropecuário 2017 realizado na sede da Ocepar, em Curitiba

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